Claudia Prado: “Juntos somos mais fortes”

Claudia Prado: “Juntos somos más fuertes”
Claudia Prado: “Juntos somos más fuertes”
Fecha de publicación: 18/11/2016
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Claudia Prado

Conversamos com Claudia Prado, Regional Chair de Baker & McKenzie na América Latina. Prado lidera a firma global na região desde faz já três anos e durante sua administração tem centrado os esforços em desenhar estratégias em equipe enfocadas em obter resultados tangíveis. Fala de como faz sair os empregados de sua zona de conforto, da importância dos roles que se adquirem no trabalho, de conciliar vida pessoal e trabalhista neste século, de subir-se ao trem das oportunidades desde o princípio. Também tem claro que, como em qualquer outro contexto de nossas vidas, as relações mais bem-sucedidas nascem das culturas e valores compartilhados.

Poderia identificar alguma qualidade ou habilidade sua que tenha sido o catalizador de seu sucesso?

São muitas coisas as que há que ter em conta quando se fala de sucesso. Em meu caso, a qualidade ou habilidade mais importante tem sido a determinação e não permitir que ninguém obstaculize as metas que desejo alcançar. Isto tem sido algo crucial para mim durante anos em minha carreira dentro do mercado legal. Estamo-nos enfrentando muitos desafios e barreiras. Sem determinação não poderás ter sucesso. Ademais disso, e especialmente como mulher, em meu caso tem sido muito importante ter exemplos a seguir que me inspirem para perseguir esses objetivos. Em resumo, se trata de combinar a determinação com roles que nos motivem e inspirem.

Quais têm sido os principais desafios como Presidente de Baker & McKenzie na América Latina?

A nível macro, o principal desafio para qualquer nesta posição tem sido sempre liderar uma região com tanta instabilidade política e econômica. Acho que a América Latina nunca tem cambiado nesse sentido. O desafio tem sido sempre entender esses desafios e aproveitar as oportunidades. Quando comecei neste cargo e desenhamos uma estratégia para o período 2012/13, o Brasil rompia todos os moldes e o crescimento parecia interminável. Incluso a situação econômica estava melhorando muito naqueles dias. A Colômbia, por exemplo, vivia um momento de transição e estava passando de um mercado em vias de desenvolvimento a um desenvolvido. A Argentina, por sua parte, estava num bloque diferente e tinha muitos desafios. Então, de repente, observamos o panorama e vemos a Colômbia, o Peru, o México e o Chile, por exemplo, como jurisdições muito prometedoras. O Brasil tem se convertido num mercado complexo devido aos problemas relacionados com o cumprimento de normativas e o espaço da corrupção. A instabilidade da região faz que as coisas mudem muito rapidamente.

Volto ao que mencionava antes. Para mim, o maior desafio tem sido adaptar-se a este novo rol como Presidente Regional. Eu tinha sido Sócia-Diretora no Brasil durante muitos anos e nosso escritório tinha sido muito bem-sucedido, não só desde o ponto de vista financeiro, senão também em termos de diversidade. Quando tomei o cargo, fui a primeira mulher em ser nomeada Regional Chair em toda a história da firma. Tive que abrir caminho no "clube dos rapazes". Ademais, vindo do Brasil e sendo uma pessoa que se orienta aos resultados, também tive que lidar com o temor de alguns sócios na região. Existe uma crença generalizada na América Latina que nos faz ver que o Brasil é o mercado que domina. Pode dizer-se que outras jurisdições temem que isto seja assim. Contudo, o sentimento de que o Brasil domina tem estado presente durante décadas. É um país que fala um idioma diferente, é geograficamente muito grande, é diferente de alguma maneira. Isto tem se percebido desde faz muitos anos, mas é possível que ultimamente se tenha pronunciado mais.

Por outro lado, devido a que exijo resultados, tiro às pessoas de sua zona de conforto. Meu desafio pessoal foi liderar os câmbios na zona, impulsar a profissão e ganhar-me a confiança dos sócios. Tinha que convencê-los de que juntos seríamos muito mais fortes, e assim o fizemos. Durante meu mandato - nos 3 anos que tenho estado nesta posição – a América Latina é o mercado que mais rápido tem crescido, tem sido o único que tem experimentado crescimento de dois dígitos em 3 anos consecutivos e a região que por primeira vez obteve o reconhecimento como firma latino-americana do ano em 2014.

Como vê o futuro das firmas locais na América Latina? Quê conselho daria aos escritórios legais locais para sobreviver num mercado cada vez mais concorrido e globalizado?

Acho que a indústria do Direito tem se tornado muito sofisticada, muito complexa e muito competitiva. Os clientes continuam demandando respostas comerciais mais rápidas, preços mais competitivos, melhor qualidade, inovação, e maior conhecimento a nível empresarial e legal. Com todas estas demandas, em minha opinião, os escritórios de advogados locais que têm tido sucesso até agora, terão muitas dificuldades para sobreviver. Vemos muita consolidação a todos os níveis, não só na América Latina. As firmas de advogados necessitam ser mais fortes para responder às necessidades dos clientes. Meu conselho às empresas locais é que entendam seus clientes e que busquem consolidação porque este é um mercado que se está tornando muito competitivo. Se operarem num nicho especializado, não poderão sobreviver. Necessitam crescer e ser mais fortes.

Com 15 escritórios em 7 países da América Latina, Baker & McKenzie é a firma global com maior presença na região. Quê planos tem para equilibrar sua presença em cada jurisdição, para evitar disparidade na qualidade e desempenho de cada escritório?

Como já o tenho referido, me centro muito em conseguir resultados e no alto rendimento desde um ponto de vista financeiro, de qualidade e de prestígio. Meu enfoque tem sido ter uma estratégia comum dentro da região para aumentar o rendimento com medidas financeiras comuns, para assegurar-nos de que todos estamos alinhados e de que juntos somos mais fortes. Isto é o que nos tem feito tão bem-sucedidos. Para dar-lhe dois exemplos, temos grupos regionais de prática que são guardiães de nossa atividade, que são responsáveis de fazer formações e controle de qualidade nas 7 jurisdições onde operamos. Temos um programa de auditoria de qualidade em todos nossos escritórios que avalia de forma regular o nível de nossas práticas. Também fazemos uma pesquisa anual cujos resultados nos servem para melhorar. Ademais, temos programas para conhecer as opiniões de nossos clientes de forma sistemática e com o fim de poder abordar qualquer problema.

Nós nos asseguramos de equilibrar nossa presença e abordar qualquer problema. Por outro lado, levamos mais de 60 anos operando na região. Nossa fórmula para o sucesso tem sido combinar as possibilidades que há dentro de nossa rede global. Fazemo-nos com a liderança que exercemos em cada um dos 7 mercados onde operamos, com a mesma cultura e valores compartilhados. Esta tem sido a chave para nós, operar com sócios que compartilhem os mesmos valores.

Em quê outros mercados latino-americanos Baker & McKenzie pensa expandir-se? Tem alguma estratégia para atacar a América Central?

A última jurisdição na que entramos foi a peruana em 2012. Com o Peru, sendo uma das 7 primeiras economias da América Latina, já temos muito boa cobertura na região. Agora mesmo não há estratégia para entrar noutros mercados. O que temos feito até agora é fortalecer a relação transnacional que temos com outras jurisdições, especialmente com a América do Norte. Em cada jurisdição nos dedicamos a responder às necessidades do cliente.

Não vemos esta necessidade agora noutras zonas do continente. Na América Central trabalhamos com correspondentes. Sempre digo que a consolidação é o futuro. Não será fácil para as empresas locais sobreviverem sem fortalecer-se.

Quê opina do modelo de firma regional que está ganhando terreno na América Latina?

Penso que à exceção da América Central, não estamos vendo a consolidação das firmas locais a nível regional. Vejo mais consolidação de firmas internacionais de, por exemplo, empresas espanholas que tentam entrar no mercado. Como dizia, as firmas deveriam assegurar-se de que preservam a experiência local e de que são capazes de compartilhar a cultura. A fórmula para o sucesso é assegurar-se de encontrar os sócios adequados, do contrário creio que é muito difícil ter sucesso.

No contexto regional, quê impacto têm os desafios aos que estão se enfrentando as firmas globais e internacionais no exercício da profissão que lhes obriga a inovar e adotar uma série de câmbios em suas políticas e procedimentos e - mais especificamente - no desenvolvimento da firma na região?

Falamos o tempo todo de desafios a nível regional e internacional. Insisto, há que saber lidar com as particularidades do mercado latino-americano e isto implica saber responder sempre às necessidades dos clientes, consolidar-se, associar-se, aproveitar as oportunidades.

As empresas intentam consolidar-se a nível global e dentro desta tendência estão reduzindo o número de firmas com as que trabalhar á escala global. Isto também está impulsando a consolidação dos escritórios de advogados em geral. Acho que a mesma tendência chegará à região.

Embora a presença da mulher na atuação da advocacia na América Latina é significantemente alta, seu posicionamento como sócias e na direção de firmas latino-americanas é muito baixo. Por quê?

Ademais de ser Presidente Regional da América Latina, sou também presidente do Comitê de Finanças, Diversidade e Inclusão da firma. Isto me tem ajudado muito a entender quais são as barreiras que as mulheres têm que derrubar para ter sucesso na profissão, não só na firma, senão em todo o mundo em realidade. É mais, incluso diria que nossa região vai na frente. Parece que a América Latina vai ser a primeira região em fechar a brecha no futuro. É um fato que as mulheres estudam nas escolas de Direito. Mas na medida que estas evolucionarem e chegarem a cargos altos - momento em que começam a formar famílias, a casar-se, etc. - é então quando muitas abandonam suas carreiras. Temos estudado esta questão e as empresas estão fazendo o mesmo. Vemos que as mulheres estão deixando os escritórios de advogados, mas não necessariamente sua carreira em Direito. O que ocorre é que os serviços públicos estão trabalhando muito melhor em reter e promover mulheres que as firmas de advogados.

Decidimos lançar uma estratégia que promovesse a liderança entre as mulheres. Uma era fixar objetivos operacionais para estabelecer um certo número de mulheres que queríamos ter em posições de liderança. Fomos a primeira firma em fazer algo assim. Necessitávamos assegurar-nos de que seríamos capazes de alcançar esses objetivos.

Temos desenvolvido programas e ferramentas para poder fechar a brecha. Todos os anos fazemos uma pesquisa a nossos 13.000 empregados. Uma das seções se centra na diversidade. Descobrimos que não só elas, senão as novas gerações em geral, estão pressionando para obter maior flexibilidade no trabalho. Com isso acabamos de lançar o que chamamos o Agile Working Programme, um programa muito revolucionário que se implantará em todas os escritórios. Permitirá a todos ter mais flexibilidade na relação de trabalho.

Este é um exemplo para ajudar a conciliar. Os roles jogam um papel muito importante para inspirar outras mulheres e demonstrar que não só é possível, senão que é muito gratificante desempenhar liderança na empresa.

Poderia compartilhar uma anedota ou um momento definitório de seus primeiros anos como advogada que a tenha colocado no caminho que a trouxe até aqui?

Algo que conto sempre, especialmente entre mulheres, é que há que aproveitar todas as oportunidades que aparecem no caminho, especialmente nos primeiros anos de nossa carreira. Uma história que creio que dá conta disto é a seguinte. Durante meus primeiros anos como sócia tive como cliente uma das empresas internacionais mais importantes do mundo, que para então queria abrir mercado no Brasil. Era um cliente muito exigente. Nesse momento, eu estava trabalhando com um dos sócios sêniores. Meu superior via muitas dificuldades no trabalho com este cliente e chegou a dizer-me "Acho que vai ser muito difícil ajudar-lhes a entrar no Brasil. Provavelmente tenhamos que abandonar o caso". Eu me neguei a aceitá-lo e disse que não. "Deixe-o em minhas mãos e eu me encarrego. Eu lhe pedirei conselho sempre que o necessitar, mas este é um desafio pessoal" respondi. Tudo saiu bem e pudemos fechar o acordo. O cliente ficou tão satisfeito que dois meses mais tarde me ofereceram trabalhar para eles como conselheira interna no Brasil. Este foi o trampolim que lançou minha carreira. Não só aproveitei a oportunidade, senão que tive ocasião de impressionar o cliente e o sócio principal para fazer o trato. Ao final, sempre se trata de aproveitar a oportunidade quando chegar porque pode ser a janela para que qualquer pessoa tenha sucesso.

 

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