José Eduardo Carneiro Queiroz: "Pensar ao longo prazo pode marcar a diferença"

José Eduardo Carneiro Queiroz: "Pensar a largo plazo puede marcar la diferencia"
José Eduardo Carneiro Queiroz: "Pensar a largo plazo puede marcar la diferencia"
Fecha de publicación: 11/11/2016
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José Eduardo Carneiro Queiroz

LexLatin começa uma série de entrevistas com os sócios-diretores de algumas firmas da América Latina. Conversamos sobre as chaves para ter sucesso na região e sobre como tem sido a experiência com os processos de globalização. Também consultamos que prognóstico fazem estes experimentados advogados perante à incerteza da economia internacional e às particularidades dos países latino-americanos.

A primeira desta rodada de conversas teve lugar com José Eduardo Carneiro Queiroz, sócio-diretor da firma brasileira Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados. Carneiro Queiroz é conhecido por seu entendimento dos mercados de capitais e as transações financeiras, e sua alta participação em assuntos regulatórios, ademais de sua ampla experiência em direito corporativo. Durante nossa conversa fez ênfase na importância de gerar estratégias inovadoras, e de como as crises tendem a ser momentos para pensar e aproveitar oportunidades.

Poderia identificar alguma qualidade ou habilidade sua que tenha sido o catalizador de seu sucesso?

Se tens paixão e amas o que fazes, dispões dos ingredientes necessários para conseguir uma carreira de sucesso ao longo prazo. Trabalhar arduamente e estar sempre disposto a aprender são qualidades que me ajudaram muito no profissional.

¿Quais têm sido seus principais desafios como sócio-diretor e responsável da firma?

Os escritórios de advogados oferecem serviços profissionais. Um dos principais desafios é fazer que os sócios e outros profissionais se involucrem na execução da estratégia da firma. Sem o compromisso e a participação dos demais, é provável que o diretor logre muito pouco. Essa capacidade de análise e entendimento é necessária para persuadir a todos, de maneira que cada pessoa se desenvolva no que realmente domina. Nenhuma pessoa é boa em tudo.

A globalização e o dinamismo destes tempos têm obrigado às firmas a inovar e a adotar uma série de câmbios em suas políticas e procedimentos a todo nível. Câmbios que vão desde a relação cliente-advogado até a atração e retenção de talento. Quê câmbios têm estado ou estão implementando em sua firma para fazer frente à nova realidade?

A inovação é uma habilidade importante e necessária para que as empresas sejam mais flexíveis. Sempre temos sido inovadores e o seguiremos sendo de distintas formas. Eu lhes darei alguns exemplos recentes. Faz pouco reformamos nosso sistema de compensação de sócios e os acordos de governabilidade da firma no ano 2009. O câmbio no modelo de lockstep system que adotamos é inovador não só no Brasil senão também na América Latina, e nos tem permitido crescer e ter uma posição mais destacada no mercado. Grande parte deste crescimento foi impulsado por profissionais da casa, mas outra grande parte vem de sócios que se unem à firma de forma lateral, algo que apenas existia antes destas reformas. Temos criado novos grupos de prática e tomado novas iniciativas com o fim de servir melhor a nossos clientes. O exemplo mais recente de inovação é a abertura dum escritório em Londres, algo único no caso duma firma brasileira ou da América Latina em geral.

Desde 2015, somente fazemos contratação em faculdades de Direito uma vez ao ano e dentro de um amplo processo seletivo que nos permite encontrar o perfil adequado. Na parte de gerenciamento de pessoal, temos criado uma série de acordos de trabalho flexíveis para fazer frente às exigências de nossos associados. Também temos desenhado uma série de programas centrados no desenvolvimento da mulher na empresa e na integração de profissionais do coletivo LGBT. Achamos profundamente que a inovação é importante e que há que esforçar-se por pensar no futuro. Isto se deve combinar com uma visão ao longo prazo e com a devoção por implementar nossa estratégia.

A presença de firmas internacionais e o surgimento de firmas regionais é uma nova tendência que tem surgido no mercado legal latino-americano. Sobreviverá a firma independente?

Sem dúvida. O mercado legal na América Latina é complexo, sofisticado e de caraterísticas muito particulares. Há um grande número de firmas independentes de prestígio em toda a região. Estas empresas continuarão liderando e desempenhando um papel importante no mercado.

Quê opina do modelo de firma regional que está ganhando terreno na América Latina?

Existem ainda riscos na região. Alguns países compartilham similitudes econômicas e relações comerciais, o qual indica que os referidos acordos têm sentido e que provavelmente funcionem bem. Teremos que observar como se desenvolvem estas empresas na próxima década para assim analisar as virtudes destes projetos.

Embora a presença da mulher na atuação da advocacia na América Latina é significantemente alta, seu posicionamento como sócia e em cargos diretivos nas firmas latino-americanas é muito baixo. Por quê?

Acho que tem que ver com a cultura da região respeito ao papel da mulher e sua participação no mundo empresarial. O homem tem dominado fortemente os negócios na América Latina durante muito tempo. Ademais, as empresas familiares são muito fortes na zona e têm tendido a estar organizadas de forma patriarcal. Mas há diferentes matizes em diferentes países do continente. Olhando para as novas gerações e para as escolas de Direito, é evidente que as mulheres são um grupo estratégico de talento para as firmas. É importante para o desenvolvimento de boas condições para atrair e fortalecer seu desenvolvimento. Elas também ocupam cada vez mais cargos de responsabilidade no mundo dos negócios, a tendência vai continuar. As cifras já estão cambiando e o seguirão fazendo muito rapidamente nos próximos anos.

Poderia compartilhar uma anedota ou um momento definitório de seus primeiros anos como advogado que o tenha colocado no caminho que o trouxe até aqui?

Quando olho para atrás sempre lembro duas coisas que de alguma maneira me empurraram a chegar onde estou. A primeira foi observar como um advogado ganha influência. Conseguir sempre a capacidade de reter e desenvolver clientes, de ser escutado e de ser influente na comunidade legal e de negócios. Estas são habilidades muito difíceis de ensinar, pelo que sempre tenho intentado aprender observando os advogados que admirava. A segunda era minha ideia de como os escritórios de advogados podem beneficiar-se duma mentalidade de negócios mais organizada. Ter um plano e estar dedicado à sua execução, administrar bem seus recursos e pensar ao longo prazo são aspectos que podem marcar a diferença.

O Brasil tem atravessado nos últimos meses uma aguda crise política e econômica. Qual será em sua opinião a evolução desta crise?

A crise política vai beneficiar o país ao longo prazo. Estamos vendo um reforço das leis duma maneira muito ampla, à margem de quem possa ver-se afetado ou castigado. Isto é ainda pouco frequente nas economias emergentes e creio que está se demonstrando aos investidores a fortaleza de nossas instituições. Os centros de poder trabalham de forma independente e não se vê nenhum sinal de ruptura, algo que era muito comum no passado. Na parte econômica, já vemos sinais de melhora. Somos um país grande, com um grande mercado interno e uma infraestrutura legal razoável. Há muitas oportunidades para investir aqui e o país vai ser cada vez mais relevante na economia mundial. Será necessário implementar muitas reformas, mas a economia vai melhorar de novo pronto, especialmente no setor privado.

O senhor prevê ao curto prazo um câmbio no âmbito regulatório das firmas estrangeiras que lhes permita exercer o direito brasileiro mediante a contratação de advogados ou fusão com firmas locais?

Já há uma grande quantidade de empresas internacionais com escritórios no Brasil. Em minha opinião, o importante é garantir que todas as empresas possam concorrer nas mesmas condições e sob as mesmas regras.

 

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