Compliance: Como gerenciar os riscos e a integridade da empresa?

Conhecer intimamente o negócio se adaptar a novas tendências, mudanças nas legislações", Gonzalo Guzmán.
Conhecer intimamente o negócio se adaptar a novas tendências, mudanças nas legislações", Gonzalo Guzmán.
Em entrevista, Gonzalo Guzmán, chief counsel of ethics & compliance da Unilever, fala sobre sua carreira.
Fecha de publicación: 05/09/2022

A função de compliance evoluiu para atingir objetivos que vão além do mero cumprimento das normas vigentes ou da redução de riscos legais. Há mais de uma década, essa função assume a tarefa de elevar a integridade na gestão dos negócios, seguindo padrões cada vez mais exigentes de ética e transparência. Hoje é até possível falar de uma tendência à hipertransparência.

Dentro da função de compliance, a tecnologia é uma ferramenta fundamental para combater a corrupção e a fraude nas organizações. Isso reforça a premissa enunciada pelo Fórum Econômico Mundial de ampliar —e evoluir— o alcance do compliance para dar origem a uma cultura de integridade, que se torna o núcleo das ações de qualquer empresa.

Esses elementos — ética e integridade além da conformidade; construir uma cultura de integridade; usar a tecnologia contra a corrupção e trabalhar em ações coletivas – estão no centro da agenda “Business Integrity” do Fórum Econômico Mundial sobre Transparência e Anticorrupção.

Agora, quem dirige esses pilares? A responsabilidade recai sobre o Chief Compliance Officer, cuja função se afastou da abordagem "tick-boxing compliance", ou seja, ele se afastou do exercício estereotipado de "marcar casinhas", para assumir maior liderança entre as organizações, também para promover uma mudança real por meio da Revolução ESG.


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Para saber mais sobre esse novo foco na função de compliance e sua importância em nível global, LexLatin conversou com Gonzalo Guzmán, Chief Counsel of Ethics & Compliance da Unilever, membro do Global Future Council do Fórum Econômico Mundial e que foi recentemente nomeado chair of the International Chamber of Commerce’s Global Commision on Anti-corruption & Corporate Responsibility.

Guzmán tem uma longa história focada em questões anticorrupção. Antes de assumir seu cargo atual na Unilever, ele trabalhou como director of Anti-corruption, Governance & External Engagement na GlaxoSmithKline (GSK) e foi Chefe de Projetos Jurídicos na International Bar Association (IBA), onde liderou projetos globais anticorrupção com organizações como a OCDE e UNODC.

Durante seu tempo na GSK, Guzmán recebeu o Prêmio Global TRACE 2018 (para Inovação em Conformidade Antissuborno), por seu trabalho na função de conformidade relacionada ao uso do governo eletrônico como ferramenta anticorrupção.

Uma nova perspectiva para além da lei

Na sua opinião, como o compliance mudou e o que se busca com essa nova noção?

Gonzalo Guzmán: Hoje, a função de compliance tem uma abordagem mais abrangente. Isso significa que não se limita apenas a garantir o cumprimento das normas vigentes ou mitigar riscos, mas também busca incorporar noções de direitos humanos, sustentabilidade e ética.

Essa visão consiste em 'ir além do que a lei lhe pede', o que implica realizar ações que representem mais do que boa governança. Desta forma é possível atingir o objetivo de estabelecer uma cultura de integridade na empresa.

O que significa ter uma posição global na qual uma empresa multinacional deposita sua confiança para operar sob práticas socialmente responsáveis ​​e éticas?

Uma posição global sem dúvida representa uma grande responsabilidade. Especialmente neste momento, onde há uma forte tendência de reforçar as questões de transparência dentro das organizações para elevar os níveis de integridade no negócio. Esse é um dos principais desafios.

Outro ponto importante é que a função de compliance colabore com os demais departamentos da empresa para funcionar de forma alinhada. Só assim é possível trabalhar em objetivos comuns que, naturalmente, seguem as diretrizes de uma gestão socialmente responsável e ética.

O que você procura nos profissionais que querem fazer parte da sua equipe? Que habilidades eles devem ter?

Além das habilidades acadêmicas, procuro que sejam curiosos. Ou seja, eles buscam uma forma de conhecer intimamente o negócio e se adaptar às novas tendências, tecnologias, mudanças na legislação, entre outros.

Da mesma forma, espero que as pessoas que desejam fazer parte do time de compliance se interessem por temas como ciências comportamentais ou análise de dados aplicadas à função de compliance ou que utilizem ferramentas como “Design Thinking”.

Este tipo de metodologia é utilizado para desenvolver novas ideias que possam responder a necessidades específicas. Tudo isso deve ser acompanhado por um compromisso de trabalhar com integridade para alcançar mudanças reais nas organizações.

Tecnologia: uma aliada na função de compliance

Como o governo eletrônico evoluiu como método anticorrupção desde seu mandato na GSK?

Desde então, as coisas mudaram no sentido de que há mais serviços governamentais disponíveis online. Existem plataformas digitais que não existiam há alguns anos e que estão funcionando perfeitamente.

Novas tecnologias estão surgindo a cada vez para atender às necessidades de transparência nas organizações e isso tem um efeito positivo no combate à corrupção.

Um novo desafio no ICC

Em que momento de sua carreira vem essa nomeação como diretor da Global Commission on Anti-corruption & Corporate Responsibility da ICC? E como você se prepara para esse novo papel?

Esta nomeação vem em um momento muito dinâmico. Muitas mudanças estão acontecendo no ambiente político e no campo da tecnologia.

Acontecimentos como a guerra na Ucrânia, a atenção aos direitos humanos e a nova abordagem ESG na função de compliance abrem muito espaço em termos de anticorrupção e responsabilidade corporativa. São mudanças que estão acontecendo e temos que aceitá-las, porque não há outra opção.

Como líder desta Comissão Global há muito trabalho a fazer e, ao mesmo tempo, estou muito animado para assumir este novo desafio de trabalhar em iniciativas globais que envolvem organizações internacionais, governos, líderes empresariais e representantes do principais economias do mundo para impactar positivamente a forma de fazer negócios e, em última análise, reduzir os índices de corrupção.


Veja também: Como e por que desenvolver um programa de compliance em direitos humanos?


A região

Na sua opinião, é possível falar em progresso em termos de corrupção na América Latina?

Acho que na América Latina o tema anticorrupção adquiriu especial relevância nos últimos anos. Em quase todas as agendas das campanhas eleitorais dos países latino-americanos está incluída a questão da corrupção.

Além disso, os governos estão investindo cada vez mais no uso de tecnologias para modernizar e tornar as atividades do setor público mais eficientes. É o que se chama de 'GovTech', que também abrange temas relacionados ao combate à corrupção. De fato, o Banco de Desenvolvimento da América Latina desenvolveu um índice para medir a maturidade dos ecossistemas GovTech na região, onde ainda existem desafios. No Global Future Council do Fórum Econômico, estamos analisando essa questão muito de perto.

Acredito que houve avanços positivos na América Latina, uma vez que a sociedade civil e profissionais de diversos setores se protagonizaram para apresentar propostas a favor do combate à corrupção. Um exemplo concreto é o trabalho que a Câmara de Comércio Internacional do México tem feito sobre a aplicação da "cláusula contra a corrupção", que é um instrumento global.

A chave para o sucesso

Para concluir, qual você acha que é a matéria-prima para uma carreira tão destacada?

Acho que manter-se ativo é crucial. Atualizar-se constantemente é a melhor forma de estar preparado para a mudança e, sem dúvida, agir sempre com integridade e ética, não apenas no seu trabalho, mas no seu ambiente diário. Estas são as minhas recomendações para quem está em início de carreira.

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