Javier de Cendra: "Para competir no mercado legal, há que arriscar-se"

Javier de Cendra: "Para competir en el mercado legal, hay que arriesgarse"
Javier de Cendra: "Para competir en el mercado legal, hay que arriesgarse"
Fecha de publicación: 09/03/2017
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Javier de Cendra
Javier de Cendra

“Eu acho que a profissão do advogado leva certo retraso frente a outras indústrias”, sentencia Javier de Cendra, decano do IE Law School, ao referir-se aos hábitos gerenciais das firmas. Contudo, outorgando espaço à esperança, agrega que o mercado legal está se vendo afetado pelas tendências empresariais mundiais. Alguns atores da cena global têm despertado ao câmbio e estão implementando certas reestruturações e políticas que respondem ao que está pedindo o mercado.

Assim, se faz urgente uma conversa sobre para onde vai a profissão, e se há consciência sobre os câmbios que serão necessários para adaptar as firmas latino-americanas; e é atendendo esta urgência que IE Law School prepara o Programa de Management para Firmas na América Latina. Sob esta linha foi que debatemos com de Cendra sobre o exercício da advocacia, e os vetores que ele considera que traçam seu futuro.

A globalização

O primeiro vetor que analisa de Cendra é a globalização.

Os sistemas jurisdicionais latino-americanos tradicionalmente têm se isolado ao câmbio por via de suas organizações gremiais e entes reguladores. Naturalmente, há casos de casos, mas o certo é que houve uma tendência protecionista na América Latina que ainda gera incerteza nos reguladores — como no caso do Brasil, onde se resistem à entrada de firmas estrangeiras no mercado — que tem ido se liberalizando na maioria dos países.

Na América Latina, o impacto da globalização tem sido significante. Tem se visto o desembarque de firmas dos EE. UU, Inglaterra e Espanha. E isto tem causado certa inquietude em firmas locais, logicamente.

Mas a realidade é que deter os processos globais, por mais que proponham dificuldades para a empresa local, é contra natura.

Neste sentido, de Cendra explica que é inevitável que uma firma busque acompanhar e levar seus clientes da mão em todo o processo, incluso - e especialmente - quando envolver negócios transfronteiriços. E embora estas firmas vêm com a vantagem de que o direito anglo-americano rege os negócios a nível mundial, de Cendra vê oportunidade na concorrência.

A chegada destas firmas muda o entorno e cria concorrência, que é boa. As firmas tradicionais têm sido obrigadas a adaptar-se às tendências mais atuais, ou ao menos lhes têm gerado a inquietude. Outro impacto positivo é que os clientes têm mais de onde eleger. Discriminam mais e se convertem em mais exigentes. Isto cria um círculo virtuoso que gera eficiências.

A tecnologia

 

“As companhias de tecnologia cresceram muito em pouco tempo e começaram a entrar em novos nichos que antes não existiam”, explica de Cendra comparando as grandes, Google e Facebook, com as possibilidades que existem para o mercado dos serviços jurídicos.

Como o vê o decano de IE Law School, a tecnologia vai permitir soluções jurídicas a mais baixo custo e o desenvolvimento de negócios complementares ao exercício da profissão. Cada vez mais vamos ver como se ganha acesso a lugares e mercados que antes estavam excluídos. Já hoje vemos plataformas que põem em contato clientes diretamente com advogados, por exemplo.

“Mas a tecnologia”, esclarece Cendra, “mais que abrir o mercado a outros serviços e a descentralizar o negócio jurídico, é talvez, uma das ferramentas mais valiosas que têm os gerentes de firmas de advogados”.

Assim, planteia que a aplicação da tecnologia aos negócios tem cambiado o panorama, e que agora se têm à mão sistemas de gerenciamento e solução de problemas que antes não se tinham. São soluções que, bem implementadas, permitem reduzir custos no serviço sem baixar a qualidade e que abrem a possibilidade de oferecer melhores tarifas aos clientes.

De Cendra profunda:

A inteligência artificial não é nova, mas nos últimos anos, com a massificação da data online, tem se dado um salto tecnológico que permite conhecer os mercados. Existe inteligência artificial capaz de conseguir respostas de utilidade jurídica, e incluso capaz de fazer o trabalho que normalmente é alocado a advogados recém-formados, com maior velocidade e com uma margen de erro muito menor. Isto, naturalmente, gera debate e incerteza, mas quem lograr ver além dos obstáculos, verá os benefícios para sua organização.

Sem dúvidas, as firmas globais que têm desembarcado na América Latina levarão estas ferramentas às regiões, e as locais deverão adaptar e adotar. Como tem ocorrido com tantas outras tendências.

Um dos grandes erros do passado era que as firmas não investiam em inovação, quando o empreendimento implica, necessariamente, atualizar-se em tecnologia e adaptar-se à globalização.

Situação político/econômica

Na última década têm se visto movimentos tetônicos a nível político na região latino-americana. E embora por um tempo houve uma corrente que apostava pelo isolamento, nos últimos anos temos visto um regresso à abertura, e uma tendência à liberalização dos mercados na América Latina.

De Cendra é fiel crente em que a globalização faz que as oportunidades sejam sistêmicas, e que, em efeito, potencia o volume dos tipos de serviço e ao mesmo tempo a ultraespecialização.

A estabilidade em alguns destes países já traz ventos de desenvolvimento e crescimento, e consigo a entrada de empreendedores prestando serviços que antes não estavam à ordem.

O teto

 

O último vetor que menciona de Cendra tem que ver com uma das consequências da globalização e o efeito que cria internamente, em cada um de nossos países: as jurisdições tendem a ficar pequenas para os negócios mais agressivos.

As firmas, naturalmente, sempre buscarão a forma de fazer crescer seu negócio. Neste sentido, o teto de muitas jurisdições latino-americanas é baixo e, como parte de seu desenvolvimento empresarial, muitas organizações têm buscado a expansão além de suas fronteiras.

Claro exemplo disto é o rápido crescimento e expansão das firmas regionais na América Central. Incluso, tem se visto o crescimento de algumas firmas boutique, que embora tenham mantido suas especializações e nichos, têm buscado cruzar fronteiras.

De igual maneira, têm proliferado as alternative business structures, por meio das quais os sócios têm buscado novas formas de unir-se e que rompem o velho conceito de sociedade. Estruturas que, bem implementadas, permitem a injeção de dinheiro externo na organização. Fundos que bem podem utilizar-se, por exemplo, para investir em inovação.

Uma solução

 

Há que entender os câmbios de paradigma, e neste caso o câmbio vem impulsado pelo entorno.

Antes, a relação cliente/firma era muito pessoal e ao longo prazo. Agora, a concorrência é tão árdua que as firmas de advogados devem manter-se em constante sincronia com o consumidor, e com sus necessidades. Têm se encontrado com uma cultura nova na que há multiplicidade de opções e o cliente é quem tem o poder.

E não só isto se limita à relação cliente/firma, os advogados também são consumidores da marca do escritório jurídico. Estão constantemente comparando e medindo suas opções. Os escritórios jurídicos têm que olhar para dentro. Há um câmbio cultural e geracional, e há que buscar a convivência, especialmente quando hoje a gente pode se encontrar até com quatro gerações dentro duma mesma firma.

São muitos desafios e todos derivam num grande desafio: atender constantemente o câmbio.

Dito isto, os advogados não vêm programados para adaptar-se ao câmbio. De Cendra explica que na medida em que a prestação de serviços jurídicos tem ido se assimilando a outras indústrias, também tem se começado a gerar certa incerteza nas Universidades:

 

As Universidades se encontram perante um panorama distinto, no que há que formar advogados globais. Ademais, o novo advogado necessita um bom entendimento do papel da tecnologia como ferramenta para desenvolver estratégias eficientes para o negócio. E essa filosofia do advogado global é a que rege o nosso Programa de Management de Firmas na América Latina de IE Law School, casada, naturalmente, com as particularidades culturais da região e as circunstâncias às que se encontra exposta. A estratégia é chave, se faz definitória da sorte do escritório jurídico.

Logo duma pausa, de Cendra faz uma última reflexão.

Não é normal que os advogados sejam amantes do risco, mas para empreender no mundo contemporâneo há que arriscar-se.

O Programa de Management para Firmas na América Latina de IE Law School se realizará em Miami do 24 ao 28 de abril de 2017. Para mais informação sobre como registrar-se clique AQUI.

 

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