Ele é especializado em fusões e aquisições internacionais, investimentos de capital privado, ofertas de títulos e financiamento de projetos. Ricardo Veirano, do escritório que tem o nome de sua família, é filho de Ronaldo Veirano, o sócio fundador do escritório e um especialista jurídico respeitado internacionalmente, reconhecido por sua diplomacia, facilidade com questões jurídicas sofisticadas e significativa rede de contatos globais.
Como bom filho de peixe, Ricardo trilhou e construiu seu próprio caminho no mundo jurídico brasileiro. Hoje, o CEO também representa investidores corporativos e fundos de private equity, entre outras funções. Em entrevista a LexLatin, ele conta sua história e faz uma análise aprofundada da situação econômica brasileira e do mercado jurídico nacional e internacional.
Seu pai, sócio fundador do escritório, tem uma história com escritórios internacionais e você também. São carreiras parecidas?
RV: A experiência dos dois é diferente. Meu pai trabalhava no Baker & Mackenzie e saiu do escritório porque queria uma oportunidade fora. Ele foi trabalhar in-house numa firma que chamava Kendall, de meias elásticas, porque eles precisavam de uma pessoa para trabalhar no jurídico da América Latina.
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Meu pai fala português e espanhol fluentemente, porque ele é filho de uruguaios, fala inglês porque tinha feito intercâmbio – o que naquela época era mais raro. Ele foi morar em Boston com minha mãe – sem filhos – onde trabalhou e fez o curso de direito à noite durante quatro anos.
Ele tem um diploma de direito no Brasil e nos EUA e trabalhou por lá durante sete anos. Naquela época conheceu o Mr. Baker, do Baker & Mckenzie, que ia jantar na casa dos meus pais quando ia a Boston. Ele tentava trazer meu pai de volta para o escritório dele. Na ocasião, meu pai disse que tinha dado a palavra que ficaria ali quatro anos. Mas depois desse período acabou indo para Chicago e ficou mais três anos na firma.
Eles queriam que ele viesse para o escritório do Rio de Janeiro para assumir a liderança. Ele estava gostando muito de morar em Chicago e disse que voltaria se fizessem dele sócio. Eles acabaram fazendo isso quando ele tinha 32 anos. Com 36, meu pai já estava no comitê executivo da firma e depois disso ele teve uma carreira no Baker & Mckenzie por 25 anos. Isso já no Rio de Janeiro, mas como parte de uma firma internacional.
Comecei minha carreira num outro escritório, o Lobo & Ibeas Advogados. Passei lá cinco anos como estagiário e advogado e tenho boas lembranças e muitos amigos, embora a firma hoje não exista mais. Fui para os Estados Unidos, fiz o LL.M na University of Chicago e trabalhei dois anos no Cravath, Swaine & Moore LLP em Nova Iorque. Isso foi uma experiência muito definidora para minha carreira, tanto do ponto de vista como eles se organizavam, de negócio e gestão quanto de excelência e competitividade. Você repara em tudo, da maneira como a turma recruta, treina e isso acaba mudando sua cabeça e te dando uma perspectiva diferente.
Por que as firmas brasileiras não se expandem pelo resto da América Latina? Quais são as barreiras e como é esse acompanhamento dos clientes nestes países?
RV: Há sim uma diferença cultural. Escutamos de investidores colombianos e chilenos, por exemplo, que eles têm uma dificuldade maior de vir ao Brasil, porque acham que aqui é um mercado muito grande e no início isso assusta, embora você tenha casos de grande sucesso de empresas de fora que investiram aqui.
Você tem a barreira da língua, mas acho que talvez ainda falte um pouco de arrojo das firmas brasileiras. Muitas vezes começamos um negócio no Brasil pensando no mercado brasileiro. E quando pensamos em expandir buscamos Estados Unidos, Londres ou Madrid, ao invés do mercado latino-americano.
Algumas firmas latino-americanas são muito integradas na América Central, acho que é uma necessidade e fazem isso muito bem. Vemos ainda estratégias como a do Ferrer no Uruguai que foi para a Bolívia, Equador, Paraguai e uma ideia de atuar em mercados que não são tão grandes assim.
Temos hoje em dia competição de grandes firmas espanholas que se associaram na América Latina e criaram ou alianças ou joint ventures fortes, como a Cuetrecasas atuando de forma independente em diversos países da América Latina, o Uría com uma joint venture muito bem sucedida no Chile, Peru e Colômbia.
Na medida em que esse mercado é ocupado, o desafio para as firmas brasileiras fica um pouco maior. A língua e o tamanho do nosso mercado não deverão ser um impeditivo, mas acabam sendo um fator inibidor que precisamos superar.
Quais são as oportunidades hoje no mercado brasileiro?
RV: A recuperação econômica está vindo forte, mas as coisas não estão se posicionando da maneira como deveriam. Há a impressão que o risco de se investir aqui é maior. Você vê muitos IPOs, mas é um movimento porque os juros estão baixos.
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Hoje a sensação do mercado é de que não estamos fazendo as reformas do jeito que deveria ser.
A reforma administrativa é tímida, os estados e municípios não enfrentaram questões como pagamento de salários e outros gastos correntes. A ajuda governamental empurrou o déficit para um valor muito relevante. A agenda de privatizações está andando mais lentamente do que precisaria e temos uma série de necessidades, como modernizar o estado e dar eficiência à economia.
Os escritórios de advocacia grandes e integrados tendem a passar melhor por uma crise, porque enquanto você tem menos M&A tem mais contencioso ou reestruturações, mas não é o cenário ideal para o país e para os nossos negócios.
É um momento onde mais oportunidades surgem. Quem está capitalizado, como vários fundos de private equity, especialmente com captações em dólar, ou empresas com caixa, têm opções neste momento.
Quem é um grande exportador está muito bem neste momento e é a hora de consolidar o setor e fazer as suas apostas. É mais difícil uma expansão internacional, porque os ativos são todos cotados em dólar e para quem fatura em reais é uma briga mais inglória.
Crises provocam oportunidades. O Brasil é um país onde se tem muito por fazer. Para quem tem vocação otimista, de resolver problemas, morar no Brasil e fazer negócios nesse momento é muito mais interessante e desafiador, mas também é muito mais realizador e muito mais interessante que morar na Suíça.
A Bolsa de Valores brasileira está chegando num novo patamar com esse grande número de IPOs? É uma oportunidade para os escritórios de advocacia?
RV: A Bolsa passou a ser uma nova forma de investimento para muita gente, mas depende do fator fiscalizador da CVM que vem fazendo sua função muito bem, de educação financeira do investidor e de proteção desse pequeno investidor. Nesse momento dá para afirmar que é um caminho de financiamento importante para as companhias.
E aí também depende uma certa responsabilidade de quem vai a mercado, especialmente dos underwriters, dos coordenadores dos bancos de investimentos, que precisam ser gatekeepers e colocar no mercado aquelas empresas que já tenham um nível de maturidade, de estrutura, de controles financeiros, de balanços e demonstrações financeiras para sobreviverem bem aos testes do mercado.
O mercado de tecnologia dos escritórios está aquecido, com várias novas incorporações de sócios e associados, por conta da promulgação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). É um mercado promissor por conta das empresas que estão tentando se adequar a estas normas?
RV: Muitas empresas grandes e médias já se adequaram. Então vamos ter agora uma segunda onda de trabalho para aquelas empresas que não prestaram tanta atenção nesse movimento e vão precisar se adequar.
A cada novo projeto que o cliente precisa fazer envolve a coleta e tratamento de dados. Será preciso consultar no dia a dia um especialista. É uma mudança cultural, uma virada de chave que não acontece automaticamente e acho que vai ter muito contencioso a partir disso.
Vi nesse final de semana o documentário Social Dilemma (O Dilema das Redes, em português) da Netflix e começamos a ter melhor dimensionado a necessidade que os estados têm de regular essa atividade. Os dados são o novo ouro da economia, a informação processada como big data. Acho que é um movimento e um filão enorme para os escritórios de advocacia, para outro tipo de empresas que tratem o tema sobre outros ângulos técnicos e tende a crescer bastante nos próximos anos.
É um assunto importante e estratégico e está no topo da agenda de todos. E se não estiver deveria estar.
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Vejo os clientes muito preocupados e também a demanda que se tem para contratação de profissionais nessa área. Não temos ainda tanta gente com experiência e formação e há a possibilidade de negócios novos surgindo a partir dali.
A LGPD é uma espécie de novo Código do Consumidor, que lá em 1990 que mudou as relações de consumo no nosso país?
RV: Ela tem total potencial de mudar o landscape, como foi com o CDC e naturalmente vai desenvolver a cultura ao longo de anos com muitas decisões, de uma forma bastante positiva, equilibrada e com um nível de proteção adequado sem inviabilizar negócios das empresas.
Quem é o advogado do futuro e o que muda na profissão legal a partir de agora?
RV: O advogado do futuro vai entender de tecnologia, falar outras línguas como o mandarim, e ao mesmo tempo vai preservar características do advogado do presente e do passado. Terá capacidade analítica, leitura crítica e de entendimento rápido do que é a espuma em volta do problema e do que é efetivamente o problema, conhecimento profundo do direito, estar constantemente atualizado e ter um grau empatia com os clientes, porque os seres humanos continuarão por trás de tudo.
Ele terá capacidade de ouvir mais, escutar mais do que falar para entender bem o problema, fazer as perguntas certas para entender qual é a demanda, o que você precisa resolver e qual o objetivo do cliente. No passado bastava ser um bom técnico, um bom advogado e ter uma interação boa com os clientes. Hoje já se espera que você tenha uma rede de contato vasta e que possa agregar à rede deles.
O advogado do futuro vai liderar projetos com grau de complexidade grande e terá capacidade de comunicação, de entender o outro, de empatia, de se cuidar também, de trabalhar no mais alto nível, mas sem estressar os outros à sua volta. Ser uma pessoa colaborativa, leve, saber quando exigir e quando acolher com palavras agradáveis, com olhar humano - lembrando que você é um ser humano e que do outro lado da sua interlocução tem outros seres humanos.
O profissional do futuro é uma pessoa com um grau de equilíbrio emocional e de autoconhecimento. Aí acho que os escritórios têm um papel a desempenhar, ajudar as pessoas nesse processo, treiná-las, fazer com que os profissionais se sintam à vontade de procurar, abrir o seu coração, que não seja uma relação só de trabalho, senão a vida fica muito automática, muito robotizada, muito chata e a gente perde um pouco do nosso senso de propósito.
O que o Ricardo Veirano acrescenta e contribui para o mercado legal brasileiro?
RV: Meu papel principal é pensar nos outros, o líder de verdade é um cara que serve e ajuda o time e as pessoas. É preciso entender os movimentos que estão acontecendo, como você motivas as pessoas, como consegue cobrar, ser um bom técnico de time, valorizar e celebrar as pessoas e viver a vida com alegria.
Considero o escritório uma extensão da minha família. É importante passar essa vibração e alegria para as pessoas. Trabalho também para desenvolver outras pessoas, para elas sentirem que aquilo é genuíno. Nosso objetivo maior é criar um negócio que fique para outras gerações.
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