"Sai fortalecido da crise o advogado que entrega no prazo e oferece soluções integradas"

Rodrigo Delboni Teixeira
Rodrigo Delboni Teixeira
Rodrigo Teixeira, managing partner do escritório Lobo de Rizzo, fala sobre mercado imobiliário e perspectivas da Bolsa de Valores nos próximos meses
Fecha de publicación: 07/10/2020

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Ele assumiu a função de managing partner do Lobo de Rizzo há três anos. Rodrigo Delboni Teixeira é especialista em direito societário, imobiliário e mercado de capitais. O advogado assessora clientes nacionais e internacionais em diversas transações de fusões e aquisições, joint ventures e reorganizações em setores como educação, agronegócio, logística, food service, papel e celulose, auditoria e consultoria, automotivo e farmacêutico.

O escritório de 31 sócios e 150 advogados tem apenas 13 anos, mas já é responsável por um número significativo de operações no mercado financeiro, principalmente na área de educação. Numa conversa com LexLatin, o sócio-diretor falou de mercado e oportunidades para os escritórios nas áreas imobiliária e na Bolsa de Valores, entre outros temas relevantes.

No princípio da pandemia falávamos que o modelo de negócios dos escritórios de advocacia iria mudar completamente. Com o tempo, fala-se que nem tudo vai se transformar porque as firmas estão se saindo bem em 2020 apesar da crise. Como você vê o mercado jurídico nesse momento?

RDT: Não vejo tantas mudanças em termos de negócio em si. Vamos continuar operando de forma parecida. Vieram algumas mudanças que ficarão como o home office. Muitas pessoas gostaram de trabalhar nesse modelo ainda mais numa cidade como São Paulo em que o tempo de deslocamento é bastante relevante. Não perdemos a eficiência nem a produtividade e acredito que teremos home office pelo menos um ou dois dias por semana.

Além disso, as operações estão mais rápidas e eficientes. Provamos, por exemplo, que podemos fazer M&A remotamente. Mas o contato presencial vai continuar importante para questões de cultura, treinamento, interação e entrosamento da equipe. 

Uma de suas especialidades é o mercado imobiliário, que foi um dos mais atingidos na pandemia, mas agora vive um crescimento forte. Como fica esse mercado para o meio jurídico a partir de agora?

RDT: Vai se aquecer de novo, mas o perfil vai mudar. Vamos ver escritórios menores, menos lajes corporativas gigantes e menos empreendimentos corporativos. O mercado de residencial deve mudar um pouco, porque se você tem home office a questão de morar perto do escritório começa a perder relevância. Você via muitos apartamentos pequenos e bem localizados no bairro do Itaim Bibi e na região da Faria Lima, com o metro quadrado muito alto porque as pessoas queriam morar perto do trabalho para não gastar horas de deslocamento. Isso vai deixar de ser uma necessidade para muitas empresas.

Com a taxa de juros de 2% ao ano e com a Bolsa de Valores mais ou menos estabilizada nos 100 mil pontos o investidor tende a procurar empreendimentos imobiliários para rentabilizar melhor o dinheiro. Vai ter bastante o residencial, a parte de logística e de galpões. Com o crescimento enorme do comércio eletrônico nesse ano na pandemia a necessidade de empreendimentos de logística vai aumentar, além de data centers, pelo uso interno de tecnologia.

Isso tudo traz perspectivas muito boas para o mercado imobiliário em termos de volume de trabalho. O setor tende a ser uma boa opção em relação à renda fixa e um pouco menos arriscado que a Bolsa de Valores. Muita gente que tem dinheiro na renda fixa vai querer comprar para alugar, muitas vezes fora de São Paulo.

Apesar de algumas boas perspectivas na Bolsa de Valores, valorização de algumas ações e aumento dos IPOs há uma fuga de capitais dos investidores estrangeiros que não parou e isso é uma preocupação no curto e médio prazo se continuar acontecendo. Quais são as possibilidades e riscos?

Tivemos uma janela muito boa de IPOs agora em setembro, mas há um movimento de aversão à risco no mercado ainda. Todos os governos estão vivendo um momento de incerteza com a pandemia e não estamos numa realidade de economia estável. Essa crise tem um componente de incerteza muito maior. Na outra, de 2009, já tinha um ambiente de recuperação, dava para imaginar que em um ou dois anos tudo voltaria. Essa ainda é uma crise de efeitos duradouros e incertos.

É óbvio que há um apetite ainda limitado por Bolsa nesse cenário de risco. Os governos estão um pouco erráticos se vai furar o teto de gastos ou não e qual é a responsabilidade do governo com orçamento. Isso também traz insegurança, principalmente para o investidor estrangeiro.

Muitas pessoas migraram para a Bolsa de Valores antes da queda e também agora, dada a baixa rentabilidade da renda fixa. Vejo muitas empresas se preparando para possíveis janelas de mercado já no ano que vem. Inclusive temos trabalhado com algumas que já estão em programas de melhoria de governança, de aquisição, arrumando a casa, os lucros e os resultados. Teremos um mercado mais seletivo, mas acho que o investidor tende a ter apetite nos bons casos.

O que é um bom caso para você?

RDT: É uma empresa que está organizada, tem um histórico consistente nos últimos anos, um plano de negócios claro, coerente, que tem uma história para contar de sucesso, governança. Isso pode acontecer em setores que cresceram: varejo, comércio online, meios de pagamento, tudo que tenha um componente de tecnologia ligado ao e-commerce.

Falando de fusões, aquisições e reestruturações, o que muda nos próximos meses, quais são as perspectivas?

RDT: Alguns projetos foram congelados e depois retomados. De julho para cá tivemos uma grande retomada do número de transações, tanto de consolidação quanto de fundos de private equity que estão capitalizados e já haviam feito seus fundraisings e que encontram no mercado brasileiro ótimos ativos para comprar. Difícil hoje um player estrangeiro, seja um fundo de private equity ou um player estratégico, que ignore um mercado do tamanho do Brasil com mais de 200 milhões de pessoas.

O setor de educação está aquecido no Brasil, com vários grupos educacionais com operações significativas de compra e venda. Vão acontecer novas transações?

Talvez sejamos o escritório que mais tenha feito operações na área de educação. Este mercado continua muito ativo, desde escola, sistemas de ensino e até cursos de inglês. É um mercado resiliente, porque educação é a última coisa que se corta na casa, mesmo na crise.

Temos muitas ações e novos players. Há universidades de porte médio interessantes a serem adquiridas e que querem crescer também. Há nichos bastante interessantes como o de medicina, que tem uma mensalidade alta e não são tantos cursos, então essas faculdades hoje são super disputadas no mercado e há empresas que estão bem sucedidas em adquirir e administrar essa faculdades e montar grupos focados em algumas disciplinas.

E o agronegócio?

RDT: O preço das commodities está mais alto. O dólar subindo traz rentabilidade para o agro. Trade, comércio, ração, nutrição animal são mercados que continuam muito fortes e vemos interesse estrangeiro porque é um mercado bem estruturado.

Vocês são um escritório médio. Como foi enfrentar essa crise e passar por esse momento? Que soluções vocês encontraram?

RDT: Percebemos que estávamos mais preparados para o home office do que imaginávamos. Fizemos muitos investimentos em tecnologia nos últimos anos e não tivemos qualquer problema na área.

Focamos na manutenção e caixa, redução de despesas, renegociação de contratos sempre com boa fé e transparência. Nosso principal objetivo foi manutenção de empregos e remunerações e nós conseguimos atingi-lo. Estamos até numa agenda mais positiva de descongelar remunerações e pagamento de bônus.

Intensificamos a comunicação e uma coisa que estes seis meses reforçaram é a necessidade da transparência para que as pessoas se sintam mais seguras e mais produtivas, engajadas e tranquilas.

Que tipo de advogado e profissional se fortaleceu dessa crise?

RDT: Se fortalece ainda mais aquele que já era engajado e havia desenvolvido habilidades de comunicação. A entrega também é importante, aquele que tem um delivery eficiente com mais que qualidade. Sai fortalecido da crise o advogado que entrega no prazo, oferece soluções integradas, completas e que tem habilidades de gestão de projeto e comunicação aliadas à sua formação de profissional. O proativo sem dúvidas sai mais fortalecido.

Como você vê sua atuação no mercado jurídico brasileiro e o quanto ela pode ajudar nesse momento de recuperação?

RDT: Minha atuação é de servir ao escritório mais do que ser servido por ele, uma atuação colaborativa. Tento ser um líder classificado como um learner, aquele que também está aprendendo com seus liderados e colabora. Não tenho a receita para tudo, mas também vou ouvir e entender e também não vou chegar e dizer: trago aqui minha recomendação, faça desse jeito e pronto.

Ouvimos as pessoas antes de tomar decisões e delegamos. Isso tudo incentiva nas pessoas o espírito colaborativo, que é uma das coisas que a gente mais preza dentro do Lobo de Rizzo, o que traz um ambiente melhor e uma entrega e qualidade melhor para o cliente também.

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