"Trabalho colaborativo é o grande desafio da advocacia moderna"

"A maior força do escritório é a forma como nos relacionamos"
"A maior força do escritório é a forma como nos relacionamos"
Alfredo Zucca, diretor presidente do ASBZ Advogados, fala sobre “liberação de talentos” no escritório, a força dos relacionamentos e como a discussão da felicidade é algo que ainda assusta o mundo corporativo.
Fecha de publicación: 30/09/2020
Etiquetas: Brasil, CEO, firmas, advocacia

Ele é diretor presidente e é especializado em contencioso cível, arbitragem, recuperação judicial e gerenciamento de contencioso empresarial. Áreas que devem ganhar ainda mais espaço no mercado brasileiro nos próximos anos.

Alfredo Zucca tem 46 anos e comanda um time com mais de 150 advogados do ASBZ Advogados, a maioria jovem, entre 28 e 38 anos. Para ele e seus companheiros de trabalho, a advocacia funciona como meio e a felicidade como fim.

Numa conversa com LexLatin, o CEO fala sobre “liberação de talentos”, a força dos relacionamentos e essa busca da felicidade no mundo corporativo.

Sua especialidade é contencioso e resolução de conflitos. A pandemia vai tornar estas práticas mais comuns no Brasil?

AZ: A arbitragem no Brasil vai precisar encontrar o seu caminho. Ela ainda está muito restrita a casos específicos. Quando veio, no inicio dos anos 2000, acreditávamos que seria algo mais efetivo, mais processos sendo resolvidos por esta forma, mas isso não se concretizou.

Mediação foi outra grande aposta também, pouco acontece hoje, importamos alguns métodos de soluções de litígios que foram muito bem desenvolvidos lá fora, mas não fizemos a devida tropicalização para o Brasil. Queremos que funcione aqui da mesma forma que acontece lá fora. Há uma dificuldade e não entrou numa rotina das pessoas. O Brasil ainda sofre por não conseguir ter métodos eficientes para resolução de conflitos. Isso faz com que o Judiciário fique distante, assoberbado e as coisas não andam. No Brasil, o Judiciário é extremamente barato e a arbitragem extremamente cara.

Qual é a diferença hoje da sua firma para outras no mercado, especialmente as grandes?

AZ: O escritório já nasceu de médio porte e hoje podemos dizer que somos de grande porte, ágil, menos burocrático e com uma visão empreendedora da advocacia. Vejo alguns discursos e algumas falas que começam a ser mais atuais para alguns escritórios, mas que a gente sabe que na prática não é bem isso que acontece. 

Que discursos e que falas?

AZ: Entender o negócio do cliente, estar cada mais vez mais próximo do cliente, não basta ser só advogado, você precisa saber o que o cliente está fazendo para entender e poder ajudá-lo.  O escritório já nasceu dessa forma, acreditando muito mais em setores da economia e em negócios do que na área do direito. Eu prefiro muito mais ter profissionais especializados em aviação, no varejo, em supermercados, em energia, do que ter advogados de contencioso em geral.

É obvio que eu tenho, porque eu não tenho como fugir disso, mas dentro da área desenvolvemos os setores e a partir daí você entende efetivamente o negócio do cliente. Hoje já estamos num novo momento que é entender como conseguimos fazer trabalhos multidisciplinares, bilaterais, de natureza colaborativa, como você consegue ser colaborativo no seu dia a dia de trabalho. 

Então qual seria o seu discurso, a sua fala? 

AZ: Trabalho colaborativo é o grande desafio, ajudar o outro no dia a dia para que as coisas aconteçam da melhor forma possível no menor prazo possível de forma efetiva. O cliente espera ouvir do advogado como ele pode fazer, com todos os riscos, quais caminhos seguir.

A pessoa que procura um escritório quer resolver um problema ou desenvolver e efetivar um negócio. Isso tem que ser o foco, tem que ser o objetivo, qual a melhor maneira para resolver o seu problema, a melhor forma para fazer com que o seu negócio aconteça minimizando todos os riscos envolvidos. 

Na sua opinião as grandes firmas precisam modernizar o discurso?

AZ: Todas elas são modernas, a questão é a forma que você enxerga e a forma como você atua. O advogado tende a ser egoísta e tem dificuldade em atuar em equipe. Trabalho colaborativo é o grande desafio da advocacia moderna, um a colaborar com o outro do ponto de vista organizacional.

No escritório temos o que a gente chama de gestão participativa. Todos os profissionais, desde o júnior até o sócio conselheiro participam de alguma forma, com maior ou menor intensidade de questões relacionadas à gestão do escritório. Eles estão envolvidos em projetos institucionais e têm espaço e voz.

Não é que todo mundo pode fazer o que quiser, mas tudo pode ser discutido, conversado e direcionado. O “eu mando você obedece” é um comportamento que não tem espaço no escritório. Todos buscam a melhor solução  e isso é uma construção. Acreditamos muito mais que todos aprendem quando estamos juntos e conseguem colaborar. Não falamos mais em plano de carreira no escritório, mas de jornada, de trabalhar em rede.

Alfredo Zucca

Relacionamento é um pilar de sustentação, seja no público interno ou externo. Monitoramos isso e entendemos como o fluxo da comunicação acontece na informalidade do dia a dia. A conversa acontece na rede e todo mundo entende o que está acontecendo. Ninguém está escondendo ou falando por trás, então você tem isso materializado de uma forma viva no dia a dia. E é extremamente desafiador, eu acho que saímos daquilo que é certo ou errado, verdadeiro ou falso e entramos num mundo muito mais complexo onde não tem esse dualismo.

Nós somos um escritório jovem, eu sou o presidente e estou entre os cinco mais velhos, tenho 46 anos. Temos quase 150 advogados, a maioria está na faixa de 28 a 38 anos,  é preciso entender essa geração.

Como  é ter um escritório com gente mais jovem?

 

AZ: Foi mais difícil quando a gente começou. É muito mais fácil hoje. Nosso meio é muito conservador e isso foi uma barreira. Hoje falamos de gestão do amanhã, de liderança, onde o que importa não é necessariamente o resultado. Ele é consequência. Se você faz uma liderança e uma gestão baseada em valores, acho que aí sim ela é disruptiva.

 

Acredito muito nas pessoas e na força do engajamento. Se você perguntar para mim qual é a maior força do escritório vou te dizer que é a forma de como nos relacionamos. 

 

Quando veio a pandemia, com o isolamento imposto a todos, foi um choque num primeiro  momento. Mas dois dias depois estávamos muito mais preparados, a rede responde muito rápido. Nos reunimos toda quarta-feira das 10 horas às 12 horas numa reunião virtual que chega a ter 200 pessoas para discutir assuntos que não tem nada a ver com o direito, mas com questões filosóficas, médicas, terapêuticas, já chegou a ter quase uma sessão de terapia em grupo. 

O que isso muda no relacionamento e na rotina diária do escritório?

AZ: Os relacionamentos ficam francos e genuínos se você consegue fazer com que as coisas aconteçam de uma forma muito natural. Acreditamos que advocacia é um meio e a felicidade um fim. A hora que você fala de felicidade parece que está tocando em tabu no mundo corporativo, mas não temos esse medo.

Para que isso aconteça, precisamos estar conectados, próximos uns dos outros, seja presencialmente ou virtualmente.  Muito mais que um espaço de trabalho é um espaço de convivência, não acreditamos em dois mundos, o profissional e o familiar, que vem muito do conceito de revolução industrial. Isso não existe mais hoje no nosso mundo. 

Como atrair e manter talentos hoje em dia?

AZ: Entendemos que ninguém deve mantido em lugar nenhum. Trabalhamos na liberação de talentos, desenvolver e liberar para que eles escolham ficar ou ir. Quando você fala em segurar, reter, necessariamente não está falando em algo que seja legítimo de parte a parte. Eu te formei, desenvolvi e dei tudo, mas você precisa ficar aqui agora. Aprendemos com o tempo que se o profissional está ao seu lado é porque ele realmente quer estar.

Se uma pessoa entrar no escritório pensando só em ganhar dinheiro ela não fica, porque não temos essa crença. Estamos aqui para nos desenvolvermos como pessoas, como profissionais. É óbvio que o dinheiro é uma variante disso, mas tem que ser consequência, não pode ser objetivo. 

Como que você vê esse modelo de escritórios que não tem uma sede física?

 

AZ: O maior problema de não ter uma sede física é as pessoas não estarem próximas. Para mim, o maior ônus da pandemia é enfraquecer o relacionamento, o que traz perdas em criação e inovação. Você pode até fazer com mais eficiência, mas criar algo novo é mais complexo, porque precisa ter uma troca.

 

No que diz respeito à criação, inovação, pensamentos disruptivos, colaborativos, ainda penso que é preciso estar próximo de pessoas e isso não vai ser modificado em razão da pandemia. O que muda é que ao invés de estar ali cinco vezes na semana, 15 horas por dia, vou estar menos tempo, mas não significa que o tempo que eu estiver não vai ter a qualidade.

Alfredo Zucca

Não vamos reduzir o tamanho do escritório, mas preciso redesenhar completamente o meu espaço, os meus metros quadrados. Se você pega o desenho dos escritórios hoje é o mesmo de 1900. Acho que esse é um momento mais que oportuno para ter um redesign. 

O que o Alfredo Zucca acrescenta e contribui ao mercado legal brasileiro?

 

AZ: Ele faz parte do ASBZ, que tem gravado na porta da sala da diretoria uma frase que resume tudo isso que a gente conversou: protagonista de um futuro diferente. A OAB ainda trata o mercado jurídico como não mercantil, mas sabemos que isso é uma total hipocrisia. O que os grandes escritórios fazem hoje é serem mercantis. Podemos contribuir de alguma forma e que o nosso mercado mude, vejo ele começando a ser mudado. Tudo bem que a maioria das empresas falam muito mais do que fazem, mas já vemos efetivamente escritórios fazendo diferente.

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