Não é uma revolução, mas uma evolução ambiciosa: Almudena Arpón de Mendívil e os novos planos da IBA

"Sou muito exigente comigo"
"Sou muito exigente comigo"
"Faz falta uma voz única que saiba valorizar o que estamos contribuindo”.
Fecha de publicación: 27/02/2023

Almudena Arpón de Mendívil, advogada especializada em telecomunicações, aquisições, direito societário, comercial e concorrencial, assumiu a presidência da International Bar Association (IBA) para o período 2023-2024, tornando-se a segunda mulher a presidir a maior associação jurídica do mundo, depois de Dianna Kempe, em 2001, há mais de 20 anos.

Para Arpón de Mendívil, a sua gestão é uma oportunidade de promover os valores com os quais se compromete enquanto profissional — “a promoção da segurança jurídica, da justiça e dos valores democráticos são a essência do progresso social em todas as áreas: pessoal, empresarial e político”, afirma a advogada, e também para reforçar o papel da mulher em cargos de liderança.

“O mais importante em relação à minha nomeação, depois de tantos anos sem uma mulher como número um da maior associação jurídica do mundo, é demonstrar que as mulheres podem chegar a uma posição de liderança e agir de acordo e que, definitivamente, os méritos importam. Espero que minha nova função ajude advogadas de todo o mundo a terem mais confiança e ambição."

A LexLatin conversou com Almudena para tratar dos desafios desse novo cargo e da sua agenda de trabalho, centrada em cinco eixos: 1) valorizar o impacto da profissão na sociedade atual, identificando alavancas para incrementá-la no futuro; 2) enfrentar o desafio de gênero no setor jurídico com rigor ainda maior; 3) envolver o setor na agenda ESG, contribuindo para esclarecer a confusão que existe nessa área; 4) antecipar os desafios colocados pela digitalização em relação aos direitos humanos; 5) preparar a advocacia para o futuro, principalmente os jovens.

“Em relação à América Latina, existem laços culturais, sociais e econômicos que nos unem e um dos meus objetivos é estreitar as relações entre os países da América Latina, Espanha e Portugal. A IBA pode se envolver mais ativamente na promoção do estado de direito, dos valores democráticos e das relações comerciais, bem como nas questões de diversidade e inclusão. Em suma, o objetivo é alcançar melhorias em todo o espaço comum ibero-americano”.


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Ir para o próximo nível

Na Conferência Anual da IBA realizada em Miami, você afirmou “que o novo ambiente oferece a possibilidade de aproveitar esse ponto de virada para levar a associação ao próximo nível”: Qual é o próximo nível? Aonde você gostaria de levar a IBA?

Miami foi a primeira conferência anual face a face após o COVID-19. Na ocasião, meu comentário referia-se ao fato de que, após um período de baixo perfil causado pela pandemia, a IBA iniciava um período de revitalização.

Mesmo que a IBA tenha demonstrado um alto nível de resiliência graças ao trabalho de todos os seus funcionários, uma energia diferente podia ser sentida na sala. Houve grande interesse em continuar avançando para o que chamo de “próximo nível”. Um nível mais relevante e com maior impacto para os seus membros e para toda a sociedade em geral.

Ouso dizer que já comecei a direcionar a IBA para esses objetivos. Uma delas é dinamizar os fóruns regionais. Alguns desses fóruns, como o da América Latina e da Europa, são muito ativos e o da Ásia-Pacífico segue uma boa trajetória. No entanto, mais esforços são necessários na África, Oriente Médio e América do Norte.

O outro objetivo é reforçar o compromisso do Conselho da IBA e dinamizar a atividade das Ordens de Advogados para recuperar o protagonismo que tiveram à data da fundação da associação.

Não se trata de iniciar qualquer movimento disruptivo. Não é uma revolução, mas uma evolução ambiciosa. Trata-se de começar a construir um novo futuro com os desafios que temos pela frente hoje e com uma visão de longo prazo.

Eixos de trabalho

Relativamente à “valorização do impacto da advocacia”, que virtudes ou qualidades, para além da defesa da lei, considera importante sensibilizar?

A defesa das leis e do estado de direito são objetivos fundamentais do setor jurídico. A promoção da segurança jurídica, da justiça e dos valores democráticos são a essência do progresso social em todas as esferas: pessoal, empresarial e política. Essa, em suma, é a grande contribuição que a advocacia tem a dar.

Porém, faz falta uma voz única que saiba valorizar o que estamos fazendo. Tenho certeza de que a IBA terá papel fundamental nisso.

Atualmente, a associação trabalha num estudo para quantificar a contribuição dos advogados para o PIB, o seu papel em questões pro bono ou no funcionamento da justiça e a sua influência como soft power.

Em relação à igualdade de gênero, qual é o papel que você assumirá nesse sentido, sendo a segunda mulher presidente após 20 anos?

Minha responsabilidade é melhorar a equidade no setor jurídico, especialmente nos cargos de responsabilidade da profissão.

O mais importante em relação à minha nomeação, depois de tantos anos sem uma mulher como número um da maior associação jurídica do mundo, é demonstrar que as mulheres podem chegar a uma posição de liderança e agir em conformidade e, definitivamente, os méritos importam. Espero que minha nova função ajude advogadas de todo o mundo a terem mais confiança e ambição.

Nosso objetivo é ajudar a transformar o setor. Para isso, estamos realizando um diagnóstico global que nos permitirá promover o papel da IBA como prescritora de boas práticas e recomendações por meio do projeto 50/50 para 2030.

De sua posição de liderança, como você espera posicionar a IBA como um farol da revolução ESG?

Eu gostaria que a agenda da IBA 2023-2024 fosse uma referência em matéria de ESG, e embora seja uma área muito extensa, pelo seu tamanho, a IBA tem capacidade para tratar de muitas dessas questões.

Atualmente, temos uma força tarefa focada nas mudanças climáticas. Também temos programas de inclusão, diversidade, proteção aos direitos humanos e boa governança corporativa. Por outro lado, temos ainda a missão de esclarecer o papel dos advogados em questões ESG.

Este ano haverá uma conferência em Nova York para analisar a responsabilidade dos advogados e o impacto de suas funções na agenda ESG das empresas, especificamente em relação à boa governança corporativa. Um dos projetos em que estamos trabalhando é o Guia de Governança Corporativa ESG da IBA, que espero seja muito útil.


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No eixo tecnologia e direito, você acredita que uma melhor compreensão da tecnologia digital no campo jurídico pode abrir caminho para a prevenção de violações de direitos?

Tecnologia e direito devem andar de mãos dadas. O ambiente digital é um novo derivado do ambiente físico. O que é crime no mundo físico também deve sê-lo no ambiente digital, independentemente das ferramentas tecnológicas utilizadas.

Parafraseando Michelle Bachelet, não podemos permitir que o ciberespaço e a inteligência artificial “constituam um espaço sem lei ou ingovernável, um buraco negro em termos de direitos humanos”.

No que diz respeito à proteção de direitos, a tecnologia pode ser um grande apoio. Por exemplo, no conflito na Ucrânia, a IBA, por meio de seu aplicativo Eye Witness for Atrocities, documentou mais de 20.000 violações de direitos humanos e as trouxe ao conhecimento das Nações Unidas.

Reconhecimento

Para finalizar, como gostaria que a comunidade jurídica qualificasse a sua gestão como presidente da IBA ao final do seu mandato?

Acho que o mais importante para mim é a avaliação que posso fazer da minha presidência porque sou muito exigente comigo mesma. Se não estiver satisfeita com o que conquistei, não importa o que os outros digam. Devo estar convencida de que fiz bem.

Também tenho muita certeza de que tudo o que for conquistado neste ano não será resultado de um trabalho isolado. Tenho o apoio de toda uma equipe comprometida dentro da IBA e, claro, o respaldo do meu escritório.

Mais do que reconhecimento, minha ambição é deixar a presidência da IBA daqui a dois anos com os olhos postos em uma associação com maior reconhecimento e impacto na sociedade e em linha ascendente nesse sentido. Com a convicção de missão cumprida.

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