Tradicionalmente, tendemos a simplificar a ideia de um grande advogado. No passado, era um conhecimento da lei. Grandes advogados se destacaram no conhecimento e interpretação da lei. Sua "mente legal" foi o que os tornou grandes. Nas últimas décadas, com o crescimento do mercado jurídico, o advogado gerador de clientes conhecido como “fazedor de chuva” tornou-se a estrela do show. A capacidade de trazer clientes e assuntos importantes fez toda a diferença na definição do que era um grande advogado, pelo menos no contexto de um escritório de advocacia empresarial.
Observando a vida das empresas, podemos ver que nos últimos tempos outras habilidades tornaram-se críticas. Essas habilidades futuras ― assumir riscos, lidar com a incerteza e empatia ― são bastante raras e um estudo recente da McKinsey indica que o nível e a qualidade da educação não se correlacionam com altos níveis de habilidades futuras. Altos níveis de QI e uma ótima educação não garantem o sucesso.
Durante a pandemia, Jaap Bosman, da TGO Consulting, fez uma pesquisa sobre as habilidades do advogado com base em citações de clientes da Chambers and Partners. O resultado interessante é que 83% dessas citações enfatizam habilidades humanas em detrimento de habilidades puramente técnicas.
Com base nessas citações, criamos uma tipologia de quatro personagens que chamo de Quatro Advogados: O Empreendedor, O Gerente Técnico, O influenciador e O Team Player. Cada uma dessas categorias descreve certas qualidades ou habilidades desejáveis em um advogado.
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O Empreendedor: É um advogado que conhece os negócios de seus clientes e se preocupa em estar atualizado. Ele desenvolve negócios para o escritório de várias maneiras e está constantemente interessado no crescimento de sua área de atuação e do escritório como um todo.
O Gerente Técnico: Ele é um advogado que possui um conhecimento distintivo da lei e a reputação, mas também a capacidade, de gerenciar uma equipe para realizar o trabalho com eficiência.
O Influenciador: Ele é um advogado com alta inteligência emocional, mas também é autoconfiante e capaz de lidar com ambientes complexos. Os clientes tendem a confiar neste tipo de advogado.
O Team Player: Você é um advogado que trabalha de forma criativa com outros colegas e colabora para produzir resultados. Além disso, ele contribui para o escritório de várias maneiras.
Cada pessoa tem características e habilidades naturais que definem seu perfil. O escritórios também tendem a priorizar certas habilidades em detrimento de outras. Geralmente, o Empreendedor seria o tipo mais desejável, pois grandes geradores de clientes (os rainmakers) são as estrelas do show. As firmas tentam desenvolver as habilidades de desenvolvimento de negócios de seus advogados com a expectativa de que todos os sócios gerem negócios para a firma. Essa é uma aspiração válida, mas os advogados precisam desenvolver um leque mais amplo de habilidades para se tornarem grandes profissionais e até mesmo rainmakers.
Cada uma das categorias mencionadas acima se abre para uma descrição mais ampla de situações cotidianas, ações, valores e comportamentos que cada advogado pode refletir e trabalhar para desenvolver a fim de fortalecer aquelas áreas que são mais fracas em comparação com outras. O escritório deve contribuir para esse processo com informações de feedback e programas que ajudem cada advogado (sócio ou associado) a desenvolver suas competências. Cada advogado pode ter uma inclinação natural para ser o mais forte em um determinado tipo, mas é importante que todos os quatro tipos sejam desenvolvidos, pois só assim o tipo mais forte realmente brilhará. Um Empreendedor forte com um perfil fraco nos outros tipos tenderá a ser um Empreendedor limitado. Um grande profissional deve ter um bom desempenho em todos os quatro tipos, mesmo que as forças naturais estejam concentradas em um deles.
Também é importante entender que este é um projeto de desenvolvimento de vida profissional. Você não mudará ou se desenvolverá da noite para o dia. Você precisa se comprometer a desenvolver constantemente essas habilidades. Este deve ser um compromisso tanto do profissional quanto do escritório.
No entanto, a verdade é que pouco esforço é dedicado a esse fim. O desenvolvimento é maioritariamente técnico e segmentado em frações. Raramente é tratado como uma questão abrangente e estratégica. Os profissionais individuais também têm preguiça de gastar tempo e esforço em algo que não é urgente e exigido pelo escritório. As pessoas simplesmente tentam se concentrar nas coisas que lhes são familiares e que fazem melhor, sem uma percepção real das fraquezas e oportunidades.
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Essa questão é importante não apenas como questão de desenvolvimento de talentos em si, mas também como estratégia de retenção.
Um artigo recente da American Lawyer mencionou que os escritórios estão lutando para acompanhar as demandas por talentos relacionados ao desenvolvimento, seja com relação a carreira, seja sobre oportunidades de aprendizado, coaching e/ou mentoring. Uma abordagem conservadora e falta de flexibilidade estão criando problemas em um momento em que atrair e reter talentos é um ingrediente-chave na estratégia de qualquer escritório de advocacia.
Em um mercado altamente competitivo, os advogados precisam desenvolver suas habilidades em todo o seu potencial e transformá-lo em um projeto de vida. Escritórios de advocacia e profissionais individuais devem trabalhar em equipe para tornar este projeto estratégico para eles e para o escritório. Os quatro advogados é mais uma ferramenta para olhar para as competências profissionais e trabalhar no seu desenvolvimento, mas seja qual for a sua escolha, certifique-se de torná-la uma prioridade.
*Jaime Fernández Madero é advogado e consultor em estratégia e gestão de escritórios de serviços profissionais, com ampla experiência na área jurídica. Ele foi o fundador do Bruchou, Fernández Madero & Lombardi, escritório de advocacia na Argentina.
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