A estagnação econômica dos últimos anos obrigou as empresas a apertarem os cintos, com reflexo direto no orçamento dos departamentos jurídicos, que hoje precisam equilibrar uma demanda maior e mais complexa de serviços internos, avalia Benedito Villela, gestor jurídico da Nors Brasil e professor de gestão jurídica do Ibmec.
O advogado aborda o tema durante os congressos de departamentos jurídicos da 16ª edição da Fenalaw, maior evento jurídico da América Latina, que vai até amanhã no centro de convenções Frei Caneca, em São Paulo. De acordo com Vilela, o cenário difícil transformou a prática dos departamentos jurídicos nos últimos anos levando à menor contratação de escritórios e maior dependência de soluções tecnológicas.
A Fenalaw reúne mais de 280 palestrantes, estandes de mais de 70 empresas de prestação de serviços jurídicos, além de palestras gratuitas, as Fenatalks. Acompanhe nossa cobertura também nas redes sociais:
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Quais os principais desafios para os departamentos jurídicos?
Benedito Villela - Desde a crise de 2015, todas as áreas de suporte sofreram com cortes de Orçamento e a implicação direta foi fazer muito mais com muito menos, reduzir pessoal e deixar de terceirizar trabalho. Implicou também maior carga de trabalho , sem a respectiva remuneração. Tiveram que construir mais, entender de mais assuntos e dentro de uma estrutura com remuneração um pouco deficitária. A manutenção das grandes equipes foi um grande desafio, motivadas e eficientes. Tinha muitas pessoas boas desempregadas e as pessoas empregadas não estavam satisfeitas.
O segundo assunto foi justamente a questão das inovações tecnológicas, sendo a advocacia um setor fechado e tradicional. O advogado teve que ir contra o próprio DNA para se valer de ferramentas tecnológicas, robôs de gerenciamento, sistemas de workflow, sistema de contratos inteligentes. Teve que fazer isso para se integrar às empresas, bem como otimizar seu trabalho, mas é algo que demandava mais aprendizado e um mindset diferente do que fomos criados. A maioria dos gestores tem de 30 a 50 anos e tinha que lidar com o que não aprenderam na faculdade, essa é uma grande questão.
É uma mudança grande de mindset…
Benedito Villela - A terceira questão é justamente essa problemática de outras habilidades e outras competências que nunca foram parte do departamento jurídico. Hoje é normal falar de controladoria jurídica, advogados que conseguem aptidão para criar métricas de acompanhamento de processos, gráficos de solução de demanda… Você muda o perfil do advogado, que era voltado para o Word, tinha que falar, escrever e se vestir bem, para advogados que têm que mexer com ferramentas como Power Point e outras que não são inerentes à nossa atividade. Aprender a fazer de forma digital e por fim agregar outras competências, de informática como disse há pouco e também de apresentação e marketing.
Os últimos indicadores econômicos sugerem uma incipiente e lenta retomada a atividade econômica, isso já se reflete na disposição de investir?
Benedito Villela - Boa pergunta.. o que acontece é que com a mudança do governo a expectativa é que seriam emplacadas algumas reformas e leis que já dariam uma rápida guinada na economia, que traria investimento externo ansioso por voltar.. Mas não só as reformas e leis não foram aprovadas com a celeridade esperada, como houve acirramento de disputas internacionais de diversos governos, não só do brasileiro como dos outros. O mundo está em convulsão política econômica e social… Cada semana é um país diferente na América latina e europa com protestos. Isso faz com que investidores internacionais decidam investir em lugares com juros mais propícios, como os de terceiro mundo. Existe percepção de melhora mais discreta e as pessoas estão fazendo questão de superestimarem, só estão investimento no que é necessário.
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