O Brasil precisa olhar o mercado real para sair da crise do coronavírus

Um colapso na economia elevará a quantidade de vítimas para além daquelas que morrerão por causa do coronavirus/Pixabay
Um colapso na economia elevará a quantidade de vítimas para além daquelas que morrerão por causa do coronavirus/Pixabay
Utilizando a expansão monetária e o próprio mercado é possível evitar um colapso.
Fecha de publicación: 28/05/2020

Antes da crise econômica provocada pelo coronavírus, a maior preocupação dos brasileiros era com os ajustes e política econômica que colocaria o país no rumo da expansão do mercado. Mas, de repente, tudo mudou nos últimos meses, colocando em xeque planos e objetivos estipulados para o ano. Agora, o mundo inteiro se vê diante do maior tombo financeiro desde a Grande Depressão, em 1929, o qual é bem provável que ficará conhecido na história como a crise do coronavírus.

 

Ocorre que o mundo mudou de lá para cá, e nenhuma economia está parada. O Reino Unido, por exemplo, vai pagar 80% dos salários de todos os trabalhadores para evitar demissões. Na Alemanha, o pacote econômico atingirá 30% do seu Produto Interno Bruto (PIB) e nos Estados Unidos, o valor do pacote vai ser maior que todo o PIB do Brasil, somando 2 trilhões de dólares.

 

No Brasil, as medidas adotadas até aqui parecem insuficientes e ineficazes para dar conta do recado, a exemplo do auxílio apelidado de “coronavoucher”, de R$ 600, que não atinge os que precisam e nem chega na velocidade ideal.

 

O que vemos são empresas com dificuldade de acessar o crédito, algumas por não ter uma contabilidade eficiente, outras por burocracia e despreparo do mercado financeiro para viver em ambiente de guerra. E as medidas de proteção do emprego mudam a todo momento, com a publicação de portarias, prejudicando sua utilização efetiva, gerando insegurança jurídica e ansiedade em toda sociedade.

 

Entendo que está na hora do Brasil levar realmente a crise a sério, do ponto de vista sanitário e econômico, e utilizar todas as ferramentas disponíveis de forma eficiente e estruturada. Na perspectiva econômica, temos as políticas monetárias, há tempo negligenciadas por causa do combate à inflação. É claro que ninguém quer a volta da inflação, mas, com queda no consumo de 20% neste ano, é loucura pensar que a inflação irá voltar tão cedo. Além disso, a taxa de juros, que já está no menor patamar das últimas décadas, não será suficiente para qualquer reação ou retomada da economia.

 

Temos um cenário de incertezas. E, geralmente, o que as pessoas fazem nesse momento? Freiam o consumo. As empresas, por sua vez, ou demitem preventivamente para guardar caixa ou ainda fecham as suas portas. Isso tratado de forma isolada é um problema, mas imagine todos os agentes econômicos tento essa postura ao mesmo tempo?

 

Então, é preciso ampliar o dinheiro disponível, para que ele chegue a quem precisa e, mais do que isso, para que esse dinheiro retorne a economia pelo seu multiplicador. E como se faz isso? Lógico, “imprimindo dinheiro” – em outras palavras, permitindo o dinheiro circular.

 

Esse imprimir é o significado para recompor a base monetária. Não significa ligar a impressora e fazer a cédula de papel, até porque em tempos de cartão de crédito e conta digital, o papel moeda não vale nada nessa guerra econômica.

 

O Tesouro e o Banco Central devem fazer essa recomposição monetária pelos instrumentos de dívida e recompra de títulos públicos. E, para fazer isso, as políticas devem atingir realmente o mercado real, e não financeiro.

 

Entre as medidas que precisam ser tomadas temos: ampliação do diferimento dos impostos nas empresas e Tesouro atuando mais diretamente para conceder empréstimos diretos para as pequenas e médias empresas.

 

Pode-se devolver 100% do FGTS dos saldos de contas dos trabalhadores, diferir os pagamentos das prestações da casa própria e emprestar dinheiro para pessoas físicas com base no Imposto de Renda, utilizar as ferramentas disponíveis para garantir uma renda mínima aos informais e autônomos e revisar a tabela do IR.

 

Essas medidas elevaram a dívida pública sem dúvidas, porém, utilizando a expansão monetária e o próprio mercado é possível evitar um colapso, que no caso brasileiro elevará a quantidade de vítimas para além daquelas que morrerão por causa do coronavirus.

 

*Leandro Batista de Oliveira é contabilista e economista formado pela PUC-SP, especialista em finanças e projetos Six Sigma.

Add new comment

HTML Restringido

  • Allowed HTML tags: <a href hreflang> <em> <strong> <cite> <blockquote cite> <code> <ul type> <ol start type> <li> <dl> <dt> <dd> <h2 id> <h3 id> <h4 id> <h5 id> <h6 id>
  • Lines and paragraphs break automatically.
  • Web page addresses and email addresses turn into links automatically.