Batalha contra a inflação faz Copom elevar taxa de juros para 4,25%

Esse já é o terceiro aumento do ano: Selic foi elevada em 0,75%/Pixabay
Esse já é o terceiro aumento do ano: Selic foi elevada em 0,75%/Pixabay
Previsão é de que Selic termine 2021 em 6,5%. Veja como isso afeta o seu bolso.
Fecha de publicación: 16/06/2021

Em uma elevação já esperada pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou a alta da taxa básica de juros, a Selic, de 3,5% para 4,25% ao ano na reunião desta quarta-feira (16). Esse é o terceiro aumento do ano e a expectativa do mercado é que a Selic chegue a 6,5% no fim de 2021.

"Infelizmente somos um dos poucos países que passaram a elevar as taxas de juros em momento ainda de recuperação econômica. Mas a vida de país emergente é assim mesmo, aliado a uma elevação apreciável no preço de commodities e risco de racionamento de energia lá na frente (maiores tarifas atuais), foram as principais razões para a autoridade monetária elevar a taxa básica de juro", avalia Roberto Dumas, economista e professor do Insper.

De acordo com o comitê, apesar da intensidade da segunda onda da pandemia, os indicadores recentes continuam mostrando evolução mais positiva do que o esperado, implicando revisões relevantes nas projeções de crescimento. Assim, os riscos para a recuperação econômica caíram. O Copom mostrou ainda uma especial preocupação com a alta da inflação nos últimos meses.


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“A persistência da pressão inflacionária revela-se maior que o esperado, sobretudo entre os bens industriais. Adicionalmente, a lentidão da normalização nas condições de oferta, a resiliência da demanda e implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica contribuem para manter a inflação elevada no curto prazo, a despeito da recente apreciação do Real. O Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos”, disse o comitê em um comunicado do Banco Central.

O Comitê ressaltou que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco. Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico.

“O BC adicionou um parágrafo importante sobre a persistência inflacionária, com citação inclusive sobre o cenário hídrico, deixando clara sua preocupação, mesmo considerando a recente apreciação cambial. Além disso, o trecho sobre ajuste parcial foi retirado, que também já era esperado pelo mercado. Então, esses dois pontos confirmam a preocupação do BC com a inflação, sinalizando intenção de novos ajustes na Selic, podendo, a nosso ver, aumentar a intensidade, a depender da evolução desse cenário”, avalia Fernanda Consorte, economista chefe do Banco Ourinvest.

É bom lembrar que em maio, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,83%, o maior patamar para o mês em 25 anos. O acumulado em 12 meses é de 8,06%. Nem mesmo o mercado esperava essa alta, que foi puxada principalmente pela inflação no atacado.

"Diante de tal escalada, o Banco Central se vê forçado a aumentar o ritmo das altas da Selic no curto prazo, buscando levar a inflação aos níveis próximos à meta. Com esse último aumento da Selic, diminuiria a necessidade de elevações maiores nos juros a longo prazo, por exemplo", afirma Leonardo Costa, especialista em renda fixa e sócio da Ethimos Investimentos.

Nessa área, há impactos principalmente em títulos de renda fixa. "Neste atual cenário, os títulos prefixados e indexados à inflação, com prazos mais longos, podem apresentar valorização em um primeiro momento. Por outro lado, os títulos de curto prazo devem se desvalorizar, o que prejudicaria investidores que já investem em produtos pré-fixados e atrelados à inflação. Mas é importante dizer que o mercado financeiro considera o cenário da alta da Selic positivo para outros títulos que acompanham a taxa básica de juros", avalia Costa.

Para as entidades que representam o setor de serviços, o aumento dos juros é visto com preocupação. “A alta da Selic em 0,75 ponto percentual encarece o crédito bancário da micro e pequena empresa, abrindo janelas de oportunidades ao fomento comercial”, afirma o presidente da Associação Nacional de Fomento Comercial (Anfac), Luiz Lemos Leite.

Mercado imobiliário

Segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), o novo aumento da taxa básica de juros (Selic) foi uma medida técnica da Instituição para conter o avanço da inflação no país e, mesmo com a elevação da Selic, as taxas de crédito imobiliário seguem em patamares baixos e o setor se mantém atrativo tanto para investimentos quanto para os interessados na aquisição da casa própria.

Os especialistas apontam que essa mudança significa uma possível pequena retração nesse mercado, visto que haverá mais produtos financeiros voltando a remunerar melhor. "Outro impacto será nas taxas atreladas à poupança. Na contratação, as taxas estavam muito chamativas, com a Selic a 2%. Agora sobem para taxas maiores, sendo melhor para o cliente voltar a usar as taxas atreladas à TR”, afirma Vinicius Motta, especialista em mercado imobiliário.

É bom lembrar que a Selic regula um dos produtos de financiamento. Existem outros que continuam com taxas consideradas atraentes pelo mercado. “O maior volume de contratação sempre foi atrelado à TR (taxa referencial), que continua intacta. Para quem vai construir ou comprar imóvel novo e pronto estamos vivendo as menores taxas do mercado da história”, diz o especialista.


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A próxima reunião do Copom acontece nos dias 3 e 4 de agosto e há a sinalização de novo aumento de 0,75%.

“Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização monetária com outro ajuste da mesma magnitude. Contudo, uma deterioração das expectativas de inflação para o horizonte relevante pode exigir uma redução mais tempestiva dos estímulos monetários. O Comitê ressalta que essa avaliação também dependerá da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e de como esses fatores afetam as projeções de inflação”, diz o comunicado do BC.

"Em 2021, the ship has gone, nada muito o que fazer, dado que a nossa meta de inflação de 3.75% e limite superior de 5.25%, certamente será desrespeitada, dado que o IPC-A dos últimos 12 meses bateu 8.06% (maio). Para o final do ano, o Banco Central deixou claro que passou a adotar uma postura mais hawkish, tirando do comunicado o termo “normalização parcial” do estímulo monetário. Além disso, cogitou também acelerar o ritmo de alta de juros indicando a normalização do juro para o patamar considerado neutro, nem contracionista e nem expansionista, o que se levarmos em consideração a meta de inflação para 2022 de 3.5%, esse juro seria 6.25% até o final do ano e 6.5% no início de 2022", afirma Dumas.

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