Justiça de São Paulo mantém multa por publicidade infantil 

Em 2014, empresa promoveu campanha publicitária direcionada a crianças/Vigor
Em 2014, empresa promoveu campanha publicitária direcionada a crianças/Vigor
Marca de produtos alimentícios foi condenada pela Fundação Procon-SP. 
Fecha de publicación: 28/07/2021

A Justiça de São Paulo negou pedido da Vigor e manteve multa de mais de R$ 1 milhão, aplicada pelo Procon à empresa de laticínios, por prática de publicidade infantil. A decisão, publicada no diário oficial na última sexta-feira (23), reconheceu, a ilegalidade da publicidade infantil e reforçou a proteção das infâncias. 

Na sentença, o juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, ressaltou o impacto da publicidade infantil na dinâmica familiar e a importância do redirecionamento de toda publicidade aos adultos, responsáveis diretos pelas compras das famílias. 

"O argumento de que a decisão de compra ou não do produto caberia, em última instância, aos adultos, ignora a dinâmica da vida real, uma vez que a propaganda destinada às crianças tem exatamente o intuito de fazer com que ela peça aos pais para comprá-lo. Além disso, a publicidade infantil, com frequência, gera conflitos entre filhos e pais, que não raro acabam cedendo diante da ‘birra'. No caso, o fato de ser um produto alimentício agrava o quadro, pois a publicidade induz a criança ao consumo de alimento processado", afirma Laroca.

"Comemoramos a decisão da Justiça de São Paulo em manter a condenação à Vigor. A Justiça sustentou o entendimento do Procon de que a estratégia publicitária desenvolvida pela empresa de laticínios exerceu pressão sobre as crianças para persuadi-las ao consumo indiscriminado do produto. Com essa importante decisão, a Justiça reconhece a ilegalidade da publicidade infantil e a prioridade absoluta na proteção das crianças frente à exploração comercial", diz João Francisco Coelho , advogado do programa Crianças e Consumo, do Instituto Alana, que denunciou o caso à época.


Leia também: Os impactos jurídicos no Brasil do processo contra o TikTok no Reino Unido


Relembre o caso

Em 2014, a empresa de produtos alimentícios promoveu uma campanha publicitária do produto Vigor Grego Kids direcionada a crianças. A estratégia buscava falar diretamente com o público infantil em diferentes lugares: de anúncios de TV às próprias embalagens, incluindo o desenvolvimento de um jogo digital especialmente para fins de marketing. O anúncio televisivo iniciava com a chamada "atenção pessoas nascidas a partir de 2003, a Vigor tem uma notícia extraordinária". Além disso, o comercial continha depoimentos de crianças sobre o iogurte.

Outra estratégia comercial adotada pela empresa nesta campanha foi anunciar a parceria com a Walt Disney Studios para patrocinar a exibição da série Star Wars Rebels. Foi desenvolvido um aplicativo de jogo de realidade aumentada, cuja chave de acesso estava na própria embalagem do Vigor Grego Kids. Também continha, junto aos pacotes do produto, cartas colecionáveis da campanha. A ação foi divulgada em todos os meios de comunicação do grupo Disney: rádio, veículos impressos (almanaques e gibis) e canais infantis na TV paga.

A campanha foi denunciada pelo Criança e Consumo e, em 2019, a marca de produtos alimentícios foi condenada pela Fundação Procon-SP pelo direcionamento da campanha publicitária do produto Vigor Grego Kids a crianças, uma prática considerada abusiva e ilegal no Brasil. Ainda no mesmo ano, a empresa recorreu da decisão, mas o órgão negou o pedido e manteve a multa. Diante disso, a Vigor ajuizou nova ação na Justiça pedindo que sua condenação fosse anulada. Em decisão recente, a Justiça sustentou o entendimento do Procon e manteve a multa aplicada à empresa.

Em nota enviada a LexLatin, a Vigor informou que "tem como princípio o respeito ao consumidor e atende à regulamentação dos órgãos competentes, incluindo normas estabelecidas para a publicidade de produtos. Sobre a ação nº 1501020-75.2021.8.26.0014 promovida pelo Procon, a Vigor informa que já apresentou recurso de defesa ao órgão responsável e está à disposição para quaisquer esclarecimentos. A empresa reforça ainda que a ação se refere a iniciativas realizadas no ano de 2014 e que a produção do item em questão foi descontinuada desde 2016".

Add new comment

HTML Restringido

  • Allowed HTML tags: <a href hreflang> <em> <strong> <cite> <blockquote cite> <code> <ul type> <ol start type> <li> <dl> <dt> <dd> <h2 id> <h3 id> <h4 id> <h5 id> <h6 id>
  • Lines and paragraphs break automatically.
  • Web page addresses and email addresses turn into links automatically.