Como vai ser o novo normal nas firmas e empresas da América Latina?

Advogados avaliam três questões que são importantes sob o ponto de vista da competitividade dos escritórios: clientes, pessoas e liderança/LexLatin
Advogados avaliam três questões que são importantes sob o ponto de vista da competitividade dos escritórios: clientes, pessoas e liderança/LexLatin
Em conferência da International Bar Association em SP, advogados tentam entender o futuro da indústria jurídica.
Fecha de publicación: 04/05/2022

A América Latina, embora se esforce para adotar novas tecnologias e dinâmicas de trabalho, ainda tem um caminho longo a ser percorrido na transformação da indústria jurídica. A pandemia mostrou que é possível a flexibilização e novas rotinas de trabalho. E isso mexe com toda a forma e a cadeia de produção dos escritórios de advocacia. Para as lideranças do setor, a mudança do mindset é o primeiro passo para que as firmas tomem medidas imediatas de ação. O passo seguinte é o compromisso de articular planos de desenvolvimento tecnológico e estratégias para inovar, já que o modelo tradicional tem sofrido um desgaste natural com a pandemia.


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Dados da pesquisa “Como a dinâmica do trabalho está mudando nos escritórios de advocacia da América Latina?”, realizada em conjunto pela Thomson Reuters e LexLatin, mostram que uma parte importante do setor está em fase de identificação de necessidades para reformulação da estratégia organizacional, uma espécie de rearranjo arquitetônico. Cerca de 70% dos entrevistados mostraram interesse na automatização de processos em suas áreas de atuação. 

Com a flexibilização das medidas sanitárias, os escritórios de advocacia estão tentando entender as mudanças pelas quais o mercado está passando. E discutem como será o chamado novo normal. Esse foi o tema de um dos painéis da conferência da International Bar Association (IBA) Mergers and acquisitions in Latin America in a challenging world (Fusões e aquisições na América Latina em um mundo desafiador, em tradução livre), em São Paulo, que terminou nesta quarta-feira (4).

De acordo com os especialistas, a retenção e desenvolvimento de talentos, desenvolvimentos de estratégia e mercado, preços, novos desafios e cultura nestes tempos “híbridos” precisam ser discutidos. 

“Há que entender as novas necessidades dos advogados. Muitos deles já não querem uma carreira de muitos anos numa firma de advogados, nem querem ser sócios. Simplesmente querem aprender e ter uma boa experiência, mas não à custa total de sua vida privada, algo que acontecia antes. Há 25 anos, quando comecei no Gomez-Pinzon, tudo que fazia era trabalhar para a firma, não havia tempo para nada mais. Hoje as pessoas estão se dando conta de que a vida é muito curta para se dedicar somente ao trabalho”, analisa Lina Uribe, do escritório Gomez-Pinzon Abogados, de Bogotá, na Colômbia e uma das speakers do painel “Como será o novo normal?” 

Segundo os especialistas, a mudança, pelo lado das firmas, não tem um sentido de urgência, porque a situação econômica, em relação ao número de clientes, está satisfatória. “

"Há trabalho para todos e o dinheiro está fluindo. Quando você não tem esse fator de desafio é muito difícil mudar ou necessitar de uma mudança. E aí, em minha percepção, muitas firmas, sobretudo as principais na América Latina, não sentem a necessidade de mudar algo. A transformação está acontecendo em firmas menos diferenciadas, com menor trajetória e institucionalização”, avalia Mariano Batalla, managing partner da firma Alta Batalla, em San José, na Costa Rica. 

Durante o encontro, os advogados discutiram três questões que são importantes sob o ponto de vista da competitividade dos escritórios de advocacia: clientes, pessoas e liderança. 

“Nós sabemos que esse momento de saída da Covid é uma época de muito trabalho para as firmas. Elas estão tendo mais sucesso do que se imaginava e mais lucros. Mas precisamos trabalhar a questão: o que acontece depois disso? Muitas das sociedades estão saindo deste momento difícil bastante unidas e próximas. Em outras, as pessoas estão bastante separadas e distantes. Então é tempo de os sócios não falarem de lucro, mas quais são os pontos fortes do escritório e como podem ajudar”, afirma Moray McLaren, da Lexington Consultants, de Londres, no Reino Unido. 

Outro tema discutido nesta quarta-feira foi “As consequências dos esforços anticorrupção na América Latina: o que mudou?” 


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O painel procurou responder às perguntas: o que os países latino-americanos aprenderam com experiências recentes, como a execução de sentenças resultantes da Operação Lava Jato, Panamá Papers, entre outros? Quais as tendências atuais e as maiores preocupações de uma perspectiva de conformidade anticorrupção, bem como as oportunidades e riscos envolvidos em transações de M&A em dificuldades emergentes devido a ações de fiscalização anticorrupção? 

Eles também analisaram qual é o papel das sanções do Office of Foreign Assets Control, da Lei de Práticas de Corrupção no Exterior dos EUA, da Lei de Suborno do Reino Unido e de outras regulamentações na luta contra a corrupção, o terrorismo e a lavagem de dinheiro. 

Os advogados compartilharam suas experiências na negociação de acordos de M&A antes e depois dessas grandes investigações que impactaram toda a América Latina. Segundo os especialistas, o programa de compliance de uma empresa não era tão relevante na hora de fazer a due diligence como é hoje. Antes, os advogados só conversavam com os diretores jurídicos das empresas. Hoje, é necessário conversar também com o setor de compliance. E a palavra de ordem nesse momento é "clareza", principalmente por parte dos diretores das companhias. 

Painel sobre corrupção na América Latina

O último painel da conferência trouxe para o debate alguns dos principais advogados in-house de companhias da região. O tema foi: “A Covid-19 mudou a forma como as empresas lidam com conselheiros externos?”

Os advogados compartilharam suas perspectivas e experiências em relação às novas demandas, oportunidades e desafios da era pós-pandemia. Quais áreas de especialização se tornaram as mais valiosas? Como advogados e escritórios de advocacia podem liderar o caminho em relação à tecnologia, privacidade, ESG, conformidade e outras preocupações e demandas recentes?

Para Valentina Moreno Aristeguieta, diretora jurídica da Uber na América Central, região dos Andes e Caribe, foi desafiador estar neste momento de pandemia em uma empresa de tecnologia e transporte.

“Não podemos simplesmente ter passado por isso e não aprender. Nossos dois principais negócios tiveram caminhos distintos na pandemia: um estava totalmente parado e outro crescendo. O que estava parado era o mais lucrativo. O que significa uma emergência absoluta neste momento? Inovamos, criamos coisas, mudamos o enfoque, aproveitamos para ajudar as comunidades e gerar valores que vamos necessitar no futuro”, diz a advogada. 


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“Hoje não estamos 100% recuperados. Na maioria dos países, não chegamos ao 100% de antes, com a exceção do Brasil. Eu, como advogada in-house, também tive que mudar, ser mais ágil, buscar oportunidades que não se viam antes e também para apoiar os colegas de trabalho para solucionar problemas da empresa. Foi um desafio muito grande e segue sendo. O que vem agora é desconhecido”, afirma a advogada. 

LexLatin vai publicar uma série de reportagens especiais nos próximos dias sobre os desafios de fusões e aquisições na América Latina. Você pode acompanhar tudo sobre a conferência da IBA na cobertura especial de LexLatin e em nosso podcast, com o resumo do último dia do encontro.

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