Participação de produtos industrializados em exportações tem pior resultado em 44 anos

Brasil precisa reduzir o Custo Brasil e avançar na agenda de comércio exterior/Pixabay
Brasil precisa reduzir o Custo Brasil e avançar na agenda de comércio exterior/Pixabay
Dados da CNI mostram que índice foi 43% em 2020, o menor desde 1977.
Fecha de publicación: 04/02/2021

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Com a crise desencadeada pela pandemia da Covid-19, a participação dos produtos industrializados na pauta de exportação brasileira registrou em 2020 o pior resultado em 44 anos. Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que esse índice foi de 43% em 2020, o menor desde 1977. Naquele ano, ele foi de 41%.

O resultado do ano passado ficou 8,6 pontos percentuais abaixo da média registrada na última década. Os números mostram que, na média, os produtos industrializados representaram 51,6% da pauta de exportação entre 2010 a 2019. Na década de 2000, esse percentual era próximo a 70%.   

No levantamento, os industrializados incluem tanto produtos manufaturados quanto semimanufaturados.

“É um resultado muito preocupante para a indústria. A perda de agregação de valor na pauta de exportação nessa magnitude preocupa e reflete, claramente, a desindustrialização que vive o Brasil. Esse movimento vem ocorrendo há mais de uma década e acelerou nos últimos anos, sobretudo em 2020”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Eduardo Abijaodi.

Em valores, a exportação de industrializados foi de US$ 90,1 bilhões em 2020, uma redução de US$ 16,2 bilhões ou 15,3% na comparação com o resultado de 2019. E também o pior resultado desde 2009, ano da crise causada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos. Naquele ano, as vendas de industrializados ao exterior totalizaram US$ 87,8 bilhões.

Por outro lado, mesmo com a crise, a participação de produtos básicos na exportação subiu de 53% em 2019 para 57% em 2020. Em valores, passou de U$$ 119 bilhões para US$ 119,7 bilhões.

Processo de desindustrialização atinge emprego e massa salarial

O diretor ressalta que esse processo de desindustrialização atinge a atividade econômica como um todo e o dia a dia das pessoas, provocando o encolhimento do mercado de trabalho e da massa salarial.

Dados do IBGE e do governo mostram que cada R$ 1 bilhão em exportação da indústria por ano contribui para a sustentação de 36.004 empregos e tem um impacto de R$ 4,4 bilhões sobre a economia brasileira (direto, indireto e sobre a renda).


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Na agricultura, esse mesmo R$ 1 bilhão em exportação por ano sustenta 28.136 empregos e gera R$ 2,3 bilhões para a economia. Na mineração, esses números são de 21.556 empregos e R$ 3,4 bilhões de impacto sobre a economia.

Para reverter queda na exportação de produtos industriais, Brasil precisa reduzir o Custo Brasil e ajustar sua política comercial.

O diretor afirma que, para reverter esse quadro e ampliar a inserção internacional das empresas e produtos brasileiros, sobretudo industrializados, o Brasil precisa urgentemente resolver problemas de duas ordens. De um lado, as questões estruturais que atrasam o progresso do Brasil, desindustrializam a economia, inibem a criação de empregos e, consequentemente, reduzem de forma acelerada a competitividade internacional. De outro, os desafios específicos da falta de uma política de comércio exterior.

Dentro de casa, o Brasil precisa, por exemplo, avançar nas reformas estruturais, como a tributária, e reduzir os demais itens do Custo Brasil. A agenda de comércio exterior envolve desde a melhoria de sua governança, passando pela desoneração da tributação e da melhoria do financiamento, até a abertura comercial por meio de acordos e da redução de barreiras aos nossos produtos em terceiros mercados.

O Brasil também precisa fortalecer o seu sistema de defesa comercial para combater as práticas desleais de comércio, principalmente o dumping e o uso de subsídios em outros países que distorcem a concorrência dentro do Brasil, e avançar na agenda de integração com os seus principais mercados estratégicos.

13 dos 20 principais produtos industrializados registram redução nas exportações

Os resultados do levantamento da CNI mostram que a queda é disseminada entre os produtos. Dos 20 principais produtos industrializados mais exportados pelo país, 13 registraram queda na venda ao exterior em 2020 na comparação com o ano anterior. O mesmo número de queda de produtos se viu na última década.

As reduções mais importantes tanto no último ano quanto na última década foram os seguintes produtos:

•          Máquinas e aparelhos para terraplanagem:  40,2% em 2020 em relação a 2019 e 37,33% na década.

•          Aviões: 37,9% em 2020 em relação a 2019 e 47,3% na década

•          Automóveis de passageiros: 29,0% em 2020 em relação a 2019 e 38,0% na década

•          Partes e peças para automóveis: 27,9% em 2020 em relação a 2019 e 67,6% na década

•          Ferro e aço: 22,8% em 2020 em relação a 2019 e 30,3% na década

Entre os produtos industriais que tiveram alta, os mais relevantes foram os relacionados a produtos naturais:

•          Celulose: queda de 19,9% em 2020 em relação a 2019, mas aumento de 20,0% na década

•          Óleos combustíveis: aumento de 0,4% em relação a 2019 e aumento de 20,5% na década

Em contrapartida, na mesma base de comparação, dos 10 produtos básicos mais exportados, sete registraram alta em 2020 na comparação com 2019. Na década, nove registraram alta. As altas mais importantes foram:

•          Algodão em bruto: 22,2% de aumento em relação a 2019 e 103,3% na década

•          Soja triturada: 9,5% de aumento em relação a 2019 e 75,0% na década

•          Carne bovina congelada ou fresca: 13,8% em relação a 2019 e 79,0% na década

Para Alessandro Azzoni, advogado especialista em direito ambiental empresarial e economista especialista em mercados internacionais, esse resultado mostra o risco  que a economia brasileira atravessa.

“Se a indústria de transformação reduzir mais, até a sua extinção, isso representará que teremos que importar produtos com valores agregados superiores, e com isso a variação cambial será algo importante para definição de preços, o que impactaria na inflação e na balança comercial. O resultado da pesquisa CNI serve de alerta para a equipe econômica, que tem de rever as políticas liberais”, avalia. Com informações da assessoria de imprensa da CNI.


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