Transformação digital: inteligência artificial ou automatização?

O processo de transformação digital passa pelo desafio da mudança de mindset ou forma de ver o mundo dos negócios jurídicos”, afirma Ana Burbano (KPMG Abogados), oradora no debate. / Ahrens Rotne - Unsplash
O processo de transformação digital passa pelo desafio da mudança de mindset ou forma de ver o mundo dos negócios jurídicos”, afirma Ana Burbano (KPMG Abogados), oradora no debate. / Ahrens Rotne - Unsplash
Mudança tecnológica beneficia processos criativos dos escritórios e serviços ao cliente.
Fecha de publicación: 18/02/2022

Os termos inteligência artificial (IA) e automatização ainda mantem uma atmosfera futurista dentro do escritório. Com isso, ficam a certa distância a necessidade de entrar no assunto e colocar em prática como soluções que poderiam agilizar processos e dar maior margem para otimizar a atenção ao cliente e inovar a estratégia jurídica. Mas não podemos perder tempo.

Vamos começar estabelecendo a distinção entre um e outro e as implicações de adotá-los. Colocar esses termos na mesa faz parte de um processo que se espera que seja transversalizado e disruptivo: a transformação digital.

Esta aproximação é o eixo do debate, em espanhol, organizado por LexLatin e Thomson Reuters, Inteligência Artificial vs. Automatização: Por onde e como começar?, que será realizado no dia 22 de fevereiro. A discussão conta com a participação de Ana Paula Rumualdo (Hogan Lovells), Ana Burbano (KPMG Abogados), Rosa Rascón (Thomson Reuters) e Raúl Stolk (LexLatin). Não perca!

Mudar o mindset

Há exatamente um ano, a mídia especializada em inovação do setor jurídico anunciava uma verdade: em termos de adoção de tecnologia, “os advogados por natureza seguem, não lideram”.

Para Ana Burbano, o processo de transformação digital passa primeiro por vencer o desafio de “mudança no mindset ou na forma de ver o mundo dos negócios jurídicos”. Em entrevista para LexLatin, a associada sênior em Legal Operations & Transformation Services (LOTS) do KPMG Abogados, adverte a dificuldade de dar um cuidado especial e tratamento apropriado à mudança cultural que todo escritório deve ter.

“Tem que inovar internamente para ser mais eficiente e, ao mesmo tempo, ser capaz de adaptar o modelo de negócio às novas ondas de mudanças tecnológicas, de mercado e culturais”, afirma a especialista em legaltech. “A mudança deve ser refletida em todas as normas internas, procedimentos, políticas e, em geral, decisões dos gerentes e diretores”, completa.

Ana Burbano desenvolveu o âmbito de transformação digital de serviços jurídicos em escritórios internacionais de referência, como Garrigues, Cuatrecasas e Allen & Overy.

Perguntas fundamentais

Entrando no tema, de acordo com Burbano, a chave ao falar de automatização e IA está em ter mente aberta para fazer perguntas fundamentais: por que queremos automatizar? Temos capacidade suficiente para fazer mudanças organizacionais que possibilitem o uso do sistema de IA?


Participe do Debate Inteligência Artificial vs. Automatização: por onde e como começar?, no dia 22 de fevereiro.


Ana Romualdo, diretora da divisão de tecnologias digitais na Hogan Lovells, acredita que é melhor levar a discussão ao uso aplicado e prático. Em matéria de automatização, por exemplo, um uso bastante comum que nos dá ideia sobre o tema e sua gestão está na aplicação de formatos ou templates. Essa experiência por si só torna o termo menos estranho. O exemplo dá a oportunidade de identificar os cuidados com a adoção de processos que otimizam o uso do tempo e a qualidade do atendimento ao cliente.

“Esses formatos requerem cuidado para não errar em detalhes que posteriormente podem ter implicações significativas ou, no mínimo, constrangedoras. A solução não é trabalhar sobre um formato com espaços em branco, já que isso implicaria uma revisão manual que pode ser trabalhosa ou em que podemos nos equivocar, mas sim automatizá-lo para agilizar e evitar erros, de modo que unicamente os textos que sempre mudam entrem nas caixas e ao apertar enter o documento seja gerado automaticamente”, detalha.

Em termos de IA, Romualdo lança um argumento simples, embora não necessariamente rápido de atender: a escolha depende de quem a utiliza e de suas necessidades. “A IA oferece uma ampla variedade de possibilidades para os profissionais jurídicos de uma perspectiva complementar e pode até capacitá-los”, enfatiza.

Para entender essa afirmação, a especialista em inteligência artificial e regulação de robótica traz à tona duas aplicações específicas da IA ​​no setor jurídico.

“Pode ser aplicado, por exemplo, na identificação de tendências em tribunais e diferentes reguladores. Isso nos permite identificar tendências e mudanças nos critérios que nos permitem fornecer aos clientes uma análise de risco ou análise preditiva derivada de números específicos. Tem software cujo produto chega na previsão, tem outros que podem te dar a tendência e você faz a previsão. Os softwares também podem ser usados ​​para rotular e classificar documentos no âmbito das investigações, o que é particularmente útil quando há uma quantidade muito volumosa de documentos, pois os equipamentos e o tempo utilizados podem ser mais eficientes”, detalha.

A América Latina chegou tarde para essa festa?

É possível em matéria de automatização, mas não necessariamente em matéria de IA. De uma forma ou outra, a pandemia deu um empurrão necessário acelerando o passo para atender a mudança cultural necessária para uma transformação digital.

“Muitos estão implementando mudanças porque é necessário para se adaptar às novas modalidades de trabalho e para estar em dia. Mas, mais além de uma mudança conjuntural, deve ser uma mudança de paradigma. O DNA do escritório deve ter um componente digital. O maior obstáculo para a transformação digital é essa mudança de mentalidade. Entender que é um processo constante. Não se trata somente de integrar tecnologia, mas de mantê-la atualizada. E no melhor dos casos, inovar”, afirma Raúl Stolk, advogado e assessor do conselho diretor do LexLatin.

Segundo Stolk, o problema para os escritórios latino-americanos, muito comum ainda para os escritórios a nível mundial, é que a transformação digital “nunca foi um processo orgânico, nem um assunto que teve que ser incluído no planejamento de um orçamento” e é isso que falta visibilizar nesta onda de oportunidade que a pandemia ofereceu.

Para Rosa Rascón, consultora sênior de LegalTech na Thomson Reuters, a dimensão e a variedade de desafios do setor jurídico latino-americano nesta matéria já tem uma contraparte que pode atendê-lo. Rascón argumenta com otimismo seu ponto de vista.

“Os desafios das firmas latino-americanas são variados, mas as oportunidades são ainda maiores. A maioria das firmas não tem pessoal dedicado à inovação ou legal operations. No entanto, já existem consultorias especializadas em transformação digital do setor jurídico na região para apoiá-los. Por outro lado, embora a maioria das soluções de software jurídico estejam focadas em escritórios do mundo do Common Law, nos últimos anos tem aumentado a oferta de plataformas adequadas para a Ibero-América”.

Na opinião de Rosa Rascón, automatização e inteligência artificial são tecnologias sobre as quais ainda estamos com bom timing para entender e implementar.

“Por um lado, implementar a automatização para não ficar para trás já é uma tarefa pendente para muitas firmas e, por outro, é um bom momento para começar a entender o que é inteligência artificial, pois existem muitos mitos em torno deste último conceito”.

O processo de transformação digital e adoção tecnológica toca naquela verdade que as empresas não podem mais deixar para trás: adaptar-se para inovar, inovar para ser mais eficiente e assim atender às mudanças. Tudo isso contribuirá para economizar tempo e capacidade intelectual em prol dos processos criativos exigidos pelo escritório e seus serviços ao cliente.

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