Afinal, no que poderia ser desafiador o cenário econômico de 2022?

Fica difícil esperar um crescimento de pelo menos 1% em 2022/Canva
Fica difícil esperar um crescimento de pelo menos 1% em 2022/Canva
Quão ruim ou bom estamos?
Fecha de publicación: 17/12/2021

Já ouvimos e lemos ad nauseam que o cenário econômico será desafiador em 2022. Bem vindo ao Brasil e aos mercados emergentes. Assim é a nossa vida. Como um passeio de montanha russa com mix de repentes alegres misturados a gritos de euforia e/ou quase desespero ao testemunharmos alguns planos fiscais mirabolantes, como se o credor (nós), não estivesse sentindo a falta de chão na derradeira descida. Exagero poético.

Não estamos tão mal assim. Mas quando leio ou ouço algum economista falando assim, já penso pelo outro lado. Então quão ruim ou bom estamos? A recessão de 2022 já está praticamente contratada. Já passou por todas as entrevistas e só falta o teste de Rochard e o psicotécnico, dado os últimos indicadores de vendas no varejo, produção industrial, serviços, mesmo com a abertura da economia, aumento da Selic e menor renda da população via maior inflação. O início do fim do afrouxamento monetário protagonizado pelo FED já se iniciou, com diminuição de compras de US$30 bi por mês, podendo terminar o expansionismo monetário já em março do ano que vem, quando provavelmente já veremos 3 aumentos nas taxas de juros e 2 em 2023.

Longe de querer entrar fortemente um uma seara política, mas como a sociologia nos ensina, política, economia e sociedade fazem parte de um único espectro onde cada um acaba influenciando os outros. Ora, se a economia vai mal, a sociedade reclama e a população pede a cabeça do rei.

Dado que em meus humildes modelos econométricos de equações múltiplas tenho utilizado informações antecedentes, contemporâneas e expectativas quanto a confiança dos agentes econômicos, produção industrial serviços, curva de juros, fica difícil esperar um crescimento de pelo menos 1% em 2022. Na realidade, acredito sim, em recessão para o próximo ano com queda do PIB entre 0.5% e 0.7%, a despeito do sempre setor agropecuário tentando não piorar as coisas.


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Mas como estão os cenários? Vejamos:

  1. Como afirmamos anteriormente, o FED diminuiu o expansionismo monetário devendo findá-lo já em março do ano que vem, com aumento dos juros em 2022 e 2023, o que certamente não ajuda o nosso câmbio e nem alivia as pressões inflacionárias domésticas;
  2.  Aprovação da PEC dos Precatórios engolida à seco pelos agentes econômicos e já embutida nas curvas de juros e prêmios de risco;
  3. Auxílios emergenciais estendidos e outras benesses abertas pela PEC dos Precatórios, mesmo que mandando às favas a Lei de Responsabilidade Fiscal, a qual profere que para cada despesa perene adicional deverá existir uma receita perene compensatória.  Mais uma garfada à seco, regada a fantasia da aprovação da reforma tributária ou do imposto de renda.

O que esperar agora? Note. Economistas e analistas incialmente não torcem em seus ambientes de trabalho, mas buscam traçar o cenário mais provável para seus investimentos e planos de negócios. Depois, obviamente, esperam que seus prognósticos se concretizem e sejam remunerados por suas análises. Entretanto, dada as últimas pesquisas eleitorais – já sei, todas viesadas e cobertas de ódio parnasiano semioculto e clamadas como “lixo”, sem distinção - como responderia fiscalmente se o atual presidente estiver atrás de algum de seus concorrentes?

Ora, com mais benesses fiscais, que inexoravelmente levariam a uma deterioração do já precário cenário fiscal. Afinal, nenhum candidato ao posto maior da República, e com a ajuda do Congresso no orçamento gostaria de morrer na praia da corrida eleitoral. Eis o ponto nevrálgico que pode deteriorar as condições de crédito em 2022 ainda mais (curva de juros), a percepção fiscal do país e a paridade cambial.

Novamente, não existe essa conversa de que a economia vai bem, mas a política vai mal e vice-versa. Mas, que Deus o tenha, nem o Padre Quevedo consegue tirar isso da cabeça de alguns torcedores e crentes incorrigíveis. Paciência.

*Roberto Dumas é economista e professor do Insper.

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