Ao assumir ser gay, Eduardo Leite move uma peça no xadrez para 2022

“No Brasil, com pouca integridade neste momento, a gente precisa debater o que se é e nada esconder. Sou gay, um governador gay. Não sou um gay governador, tanto quanto Obama não foi um negro presidente, foi um presidente negro”/Governo RS
“No Brasil, com pouca integridade neste momento, a gente precisa debater o que se é e nada esconder. Sou gay, um governador gay. Não sou um gay governador, tanto quanto Obama não foi um negro presidente, foi um presidente negro”/Governo RS
Com exposição de intimidade, tucano deu um passo importante na tentativa de consolidar-se como alternativa na chamada “terceira via”.
Fecha de publicación: 05/07/2021

Repercutiu fortemente a fala do governador gaúcho Eduardo Leite (PSDB) ao jornalista Pedro Bial. De maneira direta e sem subterfúgios, ele afirmou ser um “governador gay, e não um gay governador”. Ao expor sua intimidade, o tucano deu um passo importante na tentativa de consolidar-se como alternativa na chamada “terceira via” nas eleições presidenciais de 2022. Algumas considerações sobre o caso são importantes.

Em primeiro lugar, a orientação sexual do governador era objeto de discussão mesmo antes de sua eleição. Em um país machista como o Brasil, a homossexualidade sempre foi um tabu difícil de quebrar. Ao assumir, Leite mostrou coragem - e elevou o nível de sua aposta política para 2022.


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De um lado, as declarações foram muito bem recebidas pelos setores progressistas da sociedade. Todas as minorias sentiram-se, de alguma forma, abraçadas e representadas pelo governador. As redes sociais, é claro, foram tomadas por defensores da decisão de Leite. Mas há um outro ponto.

Nas eleições de 2018, o então candidato ao governo do Rio Grande do Sul apoiou abertamente o nome de Jair Bolsonaro para a presidência da República. A campanha do atual titular do Planalto, como se sabe, foi marcada por ataques às mesmas minorias que hoje aplaudem Leite. Mais ainda, em recente entrevista ele afirmou que poderia apoiar novamente o presidente, na disputa pela reeleição.

Essa aparente contradição inevitavelmente será explorada pelos adversários do governador. Aliás, a cobrança já começou. O ex-deputado Jean Wyllys (PT), militante da causa LGBTQIA+, criticou duramente no Twitter. Segundo ele, enquanto Leite não demonstrar arrependimento pelo apoio dado a Bolsonaro, sua “saída do armário” não será fonte de alegria crítica. A fala do ex-parlamentar é um pequeno exemplo do que o tucano enfrentará.

Chama a atenção ainda o momento da declaração de Leite, justamente quando o presidente da República sofre forte pressão para ser afastado do cargo. Mesmo de maneira involuntária e em meio ao espetáculo da CPI da Covid, o governador gaúcho atraiu a atenção dos holofotes para si, o que pode parecer oportunismo político para alguns.


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No PSDB, a militância apoiará em massa a posição de Leite. Isso, porém, não garante a ele votos contra seu principal adversário no partido, o paulista João Dória. Outras variáveis terão peso na definição do vencedor das prévias previstas para novembro.

De todo modo, o governador gaúcho moveu uma peça importante no tabuleiro político. “Coragem” e “sinceridade” poderão entrar no vocabulário de seus eleitores e simpatizantes, e até se tornar slogans de campanha. A terceira via, em crise existencial pelas dificuldades em encontrar um nome viável, pode sonhar um pouco.

*André Pereira César é cientista político.

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