Bolsonaro, Moro e o jogo sucessório

Ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) está competindo na mesma faixa ideológico-programática do atual presidente/Isac Nóbrega/PR
Ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) está competindo na mesma faixa ideológico-programática do atual presidente/Isac Nóbrega/PR
Ex-juiz é um adversário que assusta o presidente e pode levar a uma mudança na estratégia governista.
Fecha de publicación: 30/11/2021

Todo chefe do Executivo, seja presidente da República, governador ou prefeito, precisa atingir um mínimo de avaliação positiva de sua gestão caso deseje disputar a reeleição em condições competitivas. Para muitos, a linha de corte seriam os 20% de aprovação de uma gestão. Abaixo disso, o risco de derrota seria elevado.

Pois bem, recém-filiado ao PL, o presidente Jair Bolsonaro pode ter efetivamente ingressado nessa zona de risco. Pesquisa da consultoria Atlas/Intel, realizada entre os dias 23 e 26 de novembro e divulgada na segunda-feira, 29, pelo jornal Valor Econômico, mostra a avaliação positiva (ótimo/bom) do governo em 19%, contra 60% de avaliação negativa (ruim/péssimo). No último levantamento, de setembro, esses índices eram, respectivamente, 24% e 61%.


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A pesquisa avalia ainda o desempenho do titular do Planalto. A desaprovação é de 65%, contra 29% de aprovação - 64% e 32% em setembro, respectivamente. A trajetória descendente do presidente junto à opinião nesse final de ano é uma realidade. Essa trajetória, diga-se, teve início em maio último.

As preocupações da população também são elencadas no levantamento. A “corrupção” lidera o ranking, com 21% das citações, seguida de “pobreza e desigualdade”, com 19%, e “inflação/preços em alta”, com 17%. Interessante notar que a pandemia não é citada diretamente pelos entrevistados - o “acesso à saúde” recebeu 5% das menções, número muito baixo dada a realidade da crise sanitária.

Para piorar, Bolsonaro tem uma série de obstáculos a curto e médio prazos que poderão pressionar ainda mais sua administração. As perspectivas para a economia em 2022, ano eleitoral, são sombrias, com possibilidade inclusive de retração do PIB e desemprego e inflação em alta; um potencial agravamento da pandemia, com a entrada em cena da variante Ômicron do coronavírus; e o acirramento da disputa sucessória, em especial com a presença do ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) competindo na mesma faixa ideológico-programática do atual presidente. Jogo bruto.

Moro, por sinal, larga forte na disputa, e traz consigo parte da caserna que antes apoiava Bolsonaro. Mais ainda, ele tem o discurso pronto para o eleitor anticorrupção e antipetista, com potencial para abrir uma clareira no bolsonarismo, ameaçando inclusive o segundo turno do titular do Planalto. Um adversário que assusta o presidente e pode levar a uma mudança na estratégia governista.


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Bolsonaro, então, está definitivamente fora da disputa? Longe disso. O governo tem recursos políticos para reverter o quadro, e o Planalto aposta suas fichas hoje no programa Auxílio Brasil, o Bolsa Família “vitaminado”. O próprio ingresso de Bolsonaro em um partido relevante como o PL recompõe parte do capital político presidencial, sem sombra de dúvida.

A popularidade do titular do Planalto está moribunda, mas uma recuperação, mesmo que por ora improvável, não pode ser descartada. Sérgio Moro, por seu turno, precisa mostrar a que veio.

“A partida só acaba quando termina”, lembremos.

*André Pereira César é cientista político.

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