Captação de investimentos é o meio ou o fim?

O volume médio das rodadas de investimento cresceu substancialmente/Freepik
O volume médio das rodadas de investimento cresceu substancialmente/Freepik
Se há dez anos o cenário das “Fat Startups” era contraindicado, hoje o contexto é outro.
Fecha de publicación: 14/09/2021

Ben Horowitz, cofundador de um dos mais prestigiados fundos de Venture Capital — o a16z —, publicou há mais de 10 anos o artigo “The case for the Fat startup”. O texto desafiava a ideia, padrão na época, de que as startups deveriam captar pouco investimento e preservar o capital. O autor argumentou, usando a sua própria história como exemplo, que em alguns cenários as empresas podem, e devem, captar e queimar bastante dinheiro para vencer no mercado.

Se há dez anos o cenário das “Fat Startups” era contraindicado e Horowitz precisou apresentar um caso (muito bom, por sinal) para justificar essa estratégia, hoje o contexto é outro. O volume médio das rodadas de investimento cresceu substancialmente. Segundo levantamento da firma de VC Wing, entre 2010 e 2018, o valor médio de uma rodada Seed cresceu 4.3x. O montante que em 2010 era a média captada na Séries A (U$5 Mm), hoje, representa uma rodada Seed.


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E não tem problema algum em ser uma startup gorda. Mas quando essas rodadas milionárias (ou bilionárias) são destacadas nas mídias e louvadas em nossos grupos de WhatsApp, ou quando apostamos sobre quem será o próximo unicórnio, parece que o capital se transformou no fim em si — e não no meio.

Ainda de acordo com o argumento central de Ben Horowitz, toda startup está em uma furiosa corrida contra o tempo. Ela precisa encontrar o product market fit que a direciona ao negócio certo e substancialmente dominar o mercado antes de ficar sem dinheiro. Como resultado, abaixo, listei as duas grandes prioridades:

1.      Encontrar o produto que 1.000 empresas ou 50 milhões de consumidores querem comprar, e conquistar esses consumidores antes que seu competidor o faça;

2.      Captar dinheiro o suficiente e gastá-lo de maneira inteligente de modo que você não vai falir no meio do caminho.

Gastar muito ou gastar pouco é o meio, não o fim. O meu conselho é: escolha a estratégia certa para conquistar o mercado, ou você pode acabar indo diretamente para o purgatório - de startups.

Vivemos um momento de abundância de capital no mercado. Parafraseando o Sam Altman, da YCombinator, hoje, é mais fácil receber investimentos do que investir. Isso não significa, porém, que você PRECISA captar grandes investimentos - ou captar qualquer investimento.

O quanto você capta depende de sua necessidade de capital para executar o seu plano e conseguir sobreviver. E o seu plano dependerá de seu contexto — do momento de sua startup, de seu mercado e de seus concorrentes. Abaixo, listei mais algumas dicas para você levar em consideração na hora de captar.

1.      Quanto você tem no caixa?

2.      Quanto você gasta/planeja gastar por mês? Planeje-se para gastos e cenários inesperados.

3.      Quais são os seus próximos cenários de capital (novas rodadas, saída ou se tornar lucrativo o suficiente para não necessitar de capital externo)?

4.      O quanto você precisa para, dado o seu planejamento do negócio, chegar na próxima etapa de captação ou saída (considere um cenário de pelo menos 12–18 meses)?

Por fim, quando se trata de captação em troca de participação societária, o investimento é um “produto” que você, empreendedor, está comprando — em troca de um de seus mais valiosos bens. O quanto vale o seu negócio (ou o quanto você está disposto a vender dele) impacta no seu planejamento de captação e estratégia para rodadas de funding. É importante levar em consideração “o quanto você está disposto a pagar” pelo investimento, no momento de traçar a sua estratégia de captações. O seu primeiro passo, quando se deparar com a questão de “o quanto devo captar”, é considerar qual a sua verdadeira necessidade de capital. No final do dia, não existe uma estratégia certa ou errada — seja uma startup magra ou uma startup bem gorda, o que realmente importa é para onde o capital vai te levar, e não o que você é hoje por causa dele.

*Camila Nasser, sócia fundadora e CEO do Kria


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