Como desaceleração da economia chinesa afeta o Brasil?

Podemos esperar uma continuidade na pressão sobre o câmbio e no aumento de juros pelo Bacen/Pixabay
Podemos esperar uma continuidade na pressão sobre o câmbio e no aumento de juros pelo Bacen/Pixabay
Uma gripe no país asiático pode virar uma pneumonia por aqui.
Fecha de publicación: 20/10/2021

Economista brasileiro quando começa a acompanhar a evolução da economia chinesa acaba ficando mal-acostumado. Depois de ter crescido 7.9% no segundo trimestre deste ano em comparação com o primeiro, ao receber a notícia de que o PIB chinês cresceu “somente 4.9%” em relação ao segundo trimestre, já torce o nariz. Exagero!

Claro que as expectativas já não vinham boas, dada as ultimas noticias vindas de lá da Ásia. Na realidade esse desempenho “abaixo” do esperado deveu-se a uma conjunção de fatores, que infelizmente acabam afetando a nossa já combalida recuperação econômica. Três fatores podem explicar o crescimento chinês do terceiro trimestre um pouco abaixo do esperado:

1. Outbreak da variante Delta em algumas províncias na China;

2. Crise energética; 

3. Processo falimentar da gigante incorporadora Evergrande.


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O impacto ou os impactos na economia brasileira nitidamente são mais evidentes dada a crise energética e a hecatombe da Evergrande.

Com a política de diminuição de emissão de CO2 implantada pelo 14° plano quinquenal, o governo chinês acabou fechando várias minas de carvão como forma de endereçar seu compromisso com as mudanças climáticas. Dado que 56% da matriz energética chinesa é termelétrica a carvão, com o aumento da demanda mundial por chips, semicondutores, papelão de embalagem, fertilizantes e defensivos agrícolas a oferta de carvão no país asiático para dar conta dessa crescente demanda tem sido insuficiente.

Mas onde entra o Brasil aqui? Aproximadamente de 20% a 25% dos fertilizantes e defensivos importados pelo Brasil vêm da China. Falta de energia, carvão mais caro, aliado a uma provável restrição a exportação de fertilizantes pela China, fatalmente tem batido no custo de produção agrícola.

Custo mais alto para a produção de grãos se traduz em mais inflação alimentícia, que acaba prejudicando mais ainda as classes menos favorecidas, que têm a alimentação como a maior parte de sua cesta de bens. Maior inflação lá na frente, significa maiores taxas de juros pelo Bacen, prejudicando um importantíssimo motor de crescimento econômico do pais: o consumo.

Infelizmente, o impacto não será apenas na cadeia alimentícia, empurrando a meta de inflação de 2022 cada vez mais para o limite superior de 5.0%. Apesar de não acreditar que as intempéries financeiras experimentadas pela gigante incorporadora Evergrande acabe se tornando um evento semelhante à falência do banco norte-americano Lehman Brothers em 2008, não quer dizer que será sem custo.


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Aproximadamente 26% do PIB chinês tem como força motriz o setor imobiliário. Com a queda do preço dos imóveis, advindos da necessidade de outras incorporadoras em se adequarem ás métricas de alavancagem financeira estabelecida pelo governo chinês em outubro do ano passado, o setor esfriou. Menor ritmo na construção de casas, menor demanda por aço importado e consequentemente, minério de ferro. Justamente a nossa maior parte de exportação para a China.

Se colocarmos tudo junto, misturado e bem dosado, menor entrada de recursos via menor exportação para a China e maior risco fiscal doméstico e inflação alimentícia, podemos esperar uma continuidade na pressão sobre o câmbio e no aumento de juros pelo Bacen.

*Roberto Dumas é economista e professor no Insper.

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