A corrida pela presidência da Câmara dos Deputados

O movimento tem consequências diretas para o governo Bolsonaro/Roque de Sá/Agência Senado
O movimento tem consequências diretas para o governo Bolsonaro/Roque de Sá/Agência Senado
Saída do MDB e DEM do chamado Centrão muda o jogo de forças, pretensões governistas e pode ajudar até uma eventual abertura de processo de impeachment.
Fecha de publicación: 30/07/2020
Etiquetas: Brasil

A decisão de MDB e DEM de deixar o Centrão, bloco suprapartidário que, em tese, conta com mais de duzentos deputados, muda radicalmente a distribuição de forças na Câmara. O movimento tem consequências diretas para o governo Bolsonaro, que recentemente se aproximou do grupo e também porque antecipou, em muito, o processo sucessório na Casa.

 

Mesmo faltando muitos meses para a disputa, a cadeira de Rodrigo Maia (DEM/RJ), atual presidente da Câmara, é ambicionada por parlamentares dos mais diversos partidos. Nomes não faltam. Um dos postulantes, até o momento, vinha protagonizando boa parte das ações junto a Executivo e Legislativo e, sem dúvida, é o grande perdedor da saída do grupo.

 

O deputado Arthur Lira (PP/AL) é, decerto, o principal elo entre o Centrão e o governo Bolsonaro. Com o ingresso do Centrão na base de sustentação, ele conseguiu emplacar aliados em cargos estratégicos em ministérios, estatais e autarquias.

 

Mais ainda, tornou-se homem de confiança do presidente e de ministros. Com esse apoio, o caminho para o comando da Câmara começava a ganhar musculatura, não só por conta do apoio de Bolsonaro, mas muito mais porque Lira cumpria os acordos e entregava o prometido, o que de fato, no Parlamento, é o que conta.

 

Lira, porém, não contava com o poder de reação de seus pares. Mesmo em seu partido, o PP, sua movimentação despertou insatisfação. A concentração cada vez maior das decisões e, por consequência, o poder amealhado, começou a incomodar.

 

Daí que a resolução de MDB e DEM de deixar o bloco, respaldada por Maia, não chega a surpreender. Trata-se de um freio de mão nas ambições do deputado alagoano, que de imediato perde poder de fogo em suas articulações para a cadeira da presidência da Câmara. Arthur Lira será obrigado a recuar algumas casas no jogo.

 

Por fim, outras peças estão em movimento. O PSDB, por exemplo, pode se juntar a MDB e DEM - há afinidades históricas entre as três agremiações. Já PTB e PROS, também hoje membros do Centrão, cogitam da possibilidade de formar um bloco alternativo com o PSC e o PSL - esse último dividido entre bolsonaristas e críticos do governo.

 

A sucessão de Rodrigo Maia segue absolutamente em aberto e, dada a inédita antecipação do início da disputa por sua cadeira, muito há de ocorrer até fevereiro de 2021, quando o novo comandante será escolhido. Até lá, a bolsa de apostas trabalhará intensamente e nomes subirão e descerão com frequência.

 

Para o governo Bolsonaro o quadro é muito ruim. O Centrão, em sua configuração original, era um importante aliado para fazer avançar sua agenda e, mais ainda, para evitar uma eventual abertura de processo de impeachment. Desidratado, o bloco pode enfrentar sérias dificuldades para ajudar a contento o presidente.

 

Em suma, de protagonista e favorito do Planalto para ocupar a presidência da Câmara, Arthur Lira se vê obrigado a rever suas estratégias. O jogo está longe do fim.

 

*André Pereira César é cientista político da Hold Assessoria Legislativa.

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