Os diretórios jurídicos mais reconhecidos a nível global anunciaram, há alguns dias, uma série de medidas especiais e o adiamento de alguns dos seus prazos de investigação como resultado do avanço da pandemia da Covid-19. Em sua comunicação, concordaram em ponderar as circunstâncias extraordinárias e delicadas do momento, bem como seus efeitos no mercado jurídico, que teve que reorganizar sua operação para o teletrabalho e audiências remotas, acelerando a adoção de tecnologias de informação e comunicação para manter sua capacidade de resposta aos clientes.
Na perspectiva da assessoria jurídica, este ano colocará à prova centenas de escritórios na América Latina que enfrentam diariamente novas leis e regulamentos focados em questões trabalhistas e econômicas, exigindo uma interpretação oportuna do alcance dessas disposições e a forma em que cada cliente realiza ações para gerenciar uma crise que, provavelmente, se prolongará durante 2020 e boa parte de 2021. Com as urgências na ordem do dia, a participação em diretórios e rankings legais certamente parece estar em segundo plano.
Mas de outra perspectiva, sistematizar e relatar suas atividades durante a crise pode ser uma oportunidade para os escritórios de advocacia se olharem e extrair lições. Em última análise, trata-se de propor uma pausa para construir o relato corporativo sobre sua capacidade de adaptação e reinvenção em tempos de crise.
De colocar em perspectiva sua estratégia e analisá-la criticamente. De analisar como se comportou seu portfólio de clientes e as principais atribuições que ocuparam seu tempo. De avaliar o grau de adequação às necessidades do mercado e como foram realizados seus serviços e produtos nesse ambiente. Como eles mantiveram sua marca atualizada e como cuidaram de cada pessoa que bateu à sua porta.
Estamos sendo receptivos o suficiente? Temos a empatia necessária para ter um cliente que pode ver seus projetos e sonhos desmoronar? Sabemos como aconselhar aqueles que estão desesperados por soluções? Ainda somos competitivos? Somos reconhecidos, indispensáveis, eficazes, próximos, amigáveis?
Muitas vezes deixamos de lado que o exercício de postulação a diretórios legais envolve colocar em palavras o que estamos executando em ações. Refazer nossos passos e relatar como percorremos esse caminho em tempos turbulentos é uma tarefa ambiciosa.
Esse processo bem conduzido pode representar um poderoso exercício de autoavaliação para ajustar diretrizes estratégicas e um investimento em gestão do conhecimento, o que torna o resultado do trabalho coletivo disponível para todos os integrantes de uma firma.
Por esse motivo, talvez os diretórios jurídicos não mereçam ser adiados, colocados em segundo plano para quando tivermos tempo ou passarmos o momento de maior dificuldade. Vai além o simples fato de construir a história de uma aplicação e ter referências sobre o desempenho da firma, fazendo menção especial ao valor agregado na prestação de seus serviços a seus clientes, permitindo-lhes enfrentar os desafios dessa crise.
Informar sobre mudanças nas regulamentações é fundamental e pode ser tremendamente construtivo em meio a toda essa incerteza. É um investimento valioso que equilibra o que é urgente e o que é importante, deslocando o incentivo do reconhecimento para a oportunidade de “re-conhecimento” com base nos serviços prestados, onde o cliente deve agora ser mais do que nunca o centro das atenções e o consultor externo seu aliado.
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* Ian Badiola é sócio diretor da Audentia Consultora, de Santiago do Chile.
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