ESG: a nova máxima da economia global

Ignorar o ESG significa colocar em risco a continuidade do ser humano no planeta/Pixabay
Ignorar o ESG significa colocar em risco a continuidade do ser humano no planeta/Pixabay
Prática é importante para governança, gestão de risco e compliance.
Fecha de publicación: 30/08/2021

ESG é a nova máxima da economia global. O alerta é de Klauss Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial. Para ele, o comprometimento público das empresas em relatar os impactos obtidos através das métricas ESG, além dos resultados financeiros, é um passo importante em direção a uma economia mundial que trabalha para o progresso, as pessoas e o planeta.

A sustentabilidade foi assunto transversal nos encontros da reunião do Fórum Econômico Mundial, no início do ano, e considerada peça-chave da recuperação econômica no mundo pós-pandemia. Durante a Agenda Davos 2021, executivos, líderes da sociedade civil e chefes de Estado endossaram a importância de se estabelecerem diretrizes como propósito antes do lucro, humanização das relações, transparência, responsabilidade social e medidas quanto à questão da mudança climática. E mais de 50 líderes empresariais presentes no Fórum Econômico Mundial se comprometeram, conjuntamente, em inserir as métricas de ESG em seus modelos de negócios.


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Longe dos holofotes desses fóruns, no dia a dia do mundo corporativo, a ascensão da agenda ESG – acelerada pela pandemia – vem transformando as funções de governança, gestão de riscos e compliance das empresas. Métricas incorporando as questões ambientais, sociais e de governança já são utilizadas como critério de avaliação de empresas e análise de investimentos, na mesma medida em que os tradicionais índices financeiros.

As empresas, entretanto, têm enfrentado muitos desafios para a implementar o ESG. O que seria na prática a melhor adaptação dos fatores ambientais, sociais e de governança dentro do segmento das organizações e no contexto social de diferentes regiões do Brasil? Quais as melhores práticas para cada negócio? Como avaliar e mensurar as iniciativas na área para acionistas, sociedade e o mercado? Qual é, afinal, o parâmetro que deve ser utilizado? E como avaliar se o custo para adotar práticas ESG é viável?

São todas questões importantes, mas o fato é que não existe um manual padrão do que seriam as melhores práticas ESG, começando com a tentativa de conceituar o ESG dentro do contexto de cada negócio. Diariamente, são anunciadas diversas iniciativas socioambientais de empresas de variadas localidades e diferentes segmentos. Cada uma delas atua da forma que entende ser a mais apropriada. Na área social, por exemplo, algumas se engajam em doações de alimentos e roupas a comunidades carentes; outras preferem desenvolver projetos de educação, qualificação e treinamento. Há ainda empresas que defendem publicamente a bandeira da diversidade e as que decidem estabelecer cotas em busca de equidade de gênero.

Todos esses exemplos revelam como a forma de atuação é muito plural e diversa, o que aumenta a complexidade para se estabelecer um padrão. Sendo assim, para escolher a melhor direção, em primeiro lugar, a empresa precisa fazer uma análise do tipo de negócio, considerando temas relevantes, o sistema em que está inserida, os públicos correlacionados e quais aspectos ESG são importantes, de acordo com seu contexto. A partir daí, é possível identificar impactos e riscos associados, estabelecendo as melhores práticas e os critérios a serem incorporados.

Uma vez superada essa etapa, o próximo desafio é definir a melhor métrica para comparar os resultados das iniciativas na área. Ainda existem muitas dificuldades sobre como utilizar standards e frameworks globais de métricas ESG. Na realidade, até o momento, não há ainda uma forma efetiva de medição de geração de valor para essas empresas e do impacto das medidas adotadas na área no curto, médio e logo prazo.

Com algumas customizações, o mercado brasileiro deve seguir o modelo que será adotado na Europa. Até o final do ano, a União Europeia planeja finalizar uma regulamentação com métricas mais claras e objetivas que poderão ser utilizadas pelas empresas, um passo importante para que investidores e órgãos reguladores tenham medidas de referência.

De certa forma, portanto, esses dois grandes desafios vêm sendo endereçados, mas isso não encerra a jornada das empresas, que também precisam buscar o equilíbrio na relação custo x benefício. Adotar medidas sustentáveis implica iniciativas que exigem um investimento representativo. Nesse ponto, é preciso ter uma visão de longo prazo. Quando uma empresa decide reduzir o desperdício no processo de produção, seja de matéria-prima, seja de recursos naturais, por exemplo, está garantindo a sua existência diante da possibilidade de escassez dos próprios insumos. O que parece um investimento inicialmente grande pode tornar-se um negócio com maior perenidade, durabilidade e até mais competitivo no futuro.


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Além disso, as instituições financeiras já afirmaram que estão dispostas a reduzir o custo de capital para empresas mais sustentáveis. Com isso, muda-se a alocação de recursos para negócios com processos produtivos conscientes e responsáveis no longo prazo.

Hoje, ignorar o ESG significa colocar em risco a continuidade do ser humano no planeta. Práticas sustentáveis deixaram de ser só uma decisão financeira, considerando seu impacto no longo prazo. Portanto, não há outra saída a não ser enfrentar o desafio de avaliar os custos de decisões operacionais e estratégicas sob a perspectiva da sustentabilidade, do social e da governança. Não é algo fácil e não existe um guia, mas é possível e imprescindível, diante da nova agenda global de desenvolvimento econômico. 

*Adriana Moura é sócia head de governança, gestão de riscos e compliance (GRC) da Grant Thornton Brasil.

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