Já deu para perceber de que o titular do Ministério da Economia, o ministro Paulo Guedes, perdeu consistência e, hoje, sua presença não responde mais aos mínimos anseios dos mercados. A debandada registrada na equipe econômica, com quatro secretários de Guedes entregando seus cargos, representou o ápice desse quadro. Pior, entre os demissionários encontra-se Bruno Funchal, considerado o principal fiador da política fiscal, que alegou deixar o cargo “por uma questão de princípios”. Mais claro impossível.
A origem do movimento está no pedido de Guedes de ter “licença para gastar”, ou seja, furar o teto de gastos, peça central da política econômica. O anúncio de um entendimento entre o ministro e a ala política do governo em torno do tema foi a gota d’água. A reação dos mercados foi inevitável - bolsa em forte queda e dólar nas alturas. Investidores em polvorosa.
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Pouco importam os nomes dos substitutos. O fato é que a agenda liberal e privatizante da campanha eleitoral de 2018 tornou-se página virada. O que importa agora é a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a qualquer custo, ou melhor, ao custo de pelo menos R$ 83 bilhões. A bola está com o populismo.
Na prática, Paulo Guedes, hoje, é um ex-ministro em atividade. Sem um plano para enfrentamento da alta dos preços e de recuperação econômica, a saída de Guedes efetivamente da pasta não gerará maiores danos do que os registrados na fatídica quinta-feira. O estrago está feito.
PS. O populismo de Bolsonaro repercutiu também no ministério de Minas e Energia. Por discordar do “Auxílio Caminhoneiro”, anunciado pelo titular do Planalto, o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da pasta, José Mauro Coelho, pediu demissão.
*André Pereira César é cientista político.
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