A importância da cooperação internacional entre escritórios de advocacia na América Latina

Mais que uma barreira física, nota-se uma barreira cultural, especialmente no mercado de prestação de serviços jurídicos/Unsplash
Mais que uma barreira física, nota-se uma barreira cultural, especialmente no mercado de prestação de serviços jurídicos/Unsplash
O surgimento de startups inovadoras e disruptivas na região exige o fortalecimento das relações de cooperação entre escritórios de mercados vizinhos.
Fecha de publicación: 06/09/2022

Diferentemente de outros mercados, a América Latina guarda singularidade quando se fala em atuação de escritórios de advocacia: salvo raríssimas exceções e casos pontuais, os escritório são locais, não há internacionalização com presença regional.

 

Com seiscentos e cinquenta milhões de habitantes e um PIB total de $ 4.4 trilhões, incluindo-se os países do Caribe, a América Latina é um mercado relevante. Há décadas, escritórios americanos criaram seus Latin American Desks, áreas dentro dos escritórios focadas em prestar consultoria a esse mercado, especialmente em transações comerciais e financeiras internacionais e em arbitragem.

 

Os escritórios locais, por outro lado, concentram suas práticas especialmente em seus países e em lei local. É bem verdade que muitos países têm restrições para atuação de advogados e firmas estrangeiras (sustentadas pelos próprios órgãos da classe), como é o caso do Brasil, o que limita a regionalização ou abertura do mercado. Por outro lado, ainda ficando no Brasil, as grande bancas entendem que seus mercados locais são grandes o suficiente para desencorajar expansões regionais.


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Nesse contexto, o que se verifica na América Latina é uma grande interação de escritórios locais com escritórios internacionais sediados nos Estados Unidos e Europa, mas pouca interação dos escritórios latino americanos entre si. Talvez um pouco mais entres os países hispânicos entre si, por questões culturais, mas ainda tímida ou quase nenhuma cooperação  visível entre as barreiras da Cordilheira do Andes que separam o português do castelhano. Mais que uma barreira física, nota-se uma barreira cultural, especialmente no mercado de prestação de serviços jurídicos.

 

Isso precisa mudar. A cooperação entre os escritórios na região tem que aumentar.

 

O intercâmbio cultural ajuda a difundir o conhecimento e a melhor conhecer os mercados de origem e destino de clientes com operações transacionais, o que, por outro lado, reflete diretamente na qualidade do apoio jurídico que é prestado a esses clientes. Além disso, a integração comercial dos países em blocos (Mercosul, Comunidade Andina das Nações, Unasul) ou em um grande bloco é uma realidade na agenda geopolítica, e o mercado jurídico precisa acompanhar essa integração através do fortalecimento da cooperação entre os escritórios.

 

A economia desafiadora desses países tem propiciado o surgimento de startups inovadoras e disruptivas, cujo primeiro passo na expansão internacional tem sido sempre o acesso aos mercados vizinhos, que tem ambiente de desenvolvimento socioeconômico similar e cujas vantagens competitivas poderiam ser reproduzidas. Os escritórios de advocacia têm que estar prontos para cooperar entre si e atender a essa demanda consistentemente, seja no país onde está domiciliada a companhia, seja no país para onde pretende ir.

 

Hoje, o que se nota é que os clientes recorrem a rankings ou a indicações locais de parceiros comerciais que muitas vezes não são capazes de avaliar a qualidade de serviços jurídicos. O ponto é que o apoio quase nunca é induzido pelos próprios escritórios, porque eles não se conhecem, não interagem e pouco cooperam, diferentemente do que ocorre entre escritório locais e escritório americanos ou europeus.


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Na prática, cada escritório está, de forma geral, focado em seu mercado local e pouco preocupado em formar laços regionais, isso não faz parte de seu planejamento ou da reunião anual de sócios.

 

Como dito, isso precisa mudar. A cooperação entre os escritórios na região tem que aumentar, o intercambio entre advogados tem que ser fomentado e os vínculos têm que ser criados e permanentemente fortalecidos.

 

Cooperando estamos ajudando nossos clientes e melhorando a qualidade técnica dos trabalhos a partir de intercâmbio mútuo de ideias, conhecimento e experiências. Portanto, a agenda do futuro para os escritório latino americanos deve ser: cooperemos mais.

 

*Thiago de Paula Ribeiro é socio fundador de DPR LAW.

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