Porque investir em diversidade se minha preocupação é inovação e lucro?

Quem está com você nesta jornada? O seu ambiente é diverso e propicia esse tipo de reflexão? Quem são seus exemplos de sucesso? Quais são os seus vieses e olhares?”/Canva
Quem está com você nesta jornada? O seu ambiente é diverso e propicia esse tipo de reflexão? Quem são seus exemplos de sucesso? Quais são os seus vieses e olhares?”/Canva
Trabalhar essas questões conjuntamente pode ser o ponto chave de virada e de sucesso de qualquer escritório ou empresa.
Fecha de publicación: 04/04/2022

Falamos de inovação e mudança, mas que modificações e desenvolvimentos queremos no mundo? Como podemos atingir novos resultados e inclusive lucros financeiros em mercados que parecem cada vez mais saturados, diante de crises econômicas e uma pandemia mundial? Ou mesmo, onde está o “oceano azul” que tanto é falado em diversos discursos e textos?

Infelizmente, a resposta é que não adianta só colocarmos novas tecnologias, metodologias ágeis, transacionarmos com startups, etc. se mantivermos o mesmo padrão de pessoas. Neste sentido, não inovaremos efetivamente, só reproduziremos as tendências tecnológicas e teremos pequenas mudanças e desenvolvimentos. Contudo, como sociedade, não evoluiremos.

A inovação não é dissociada da diversidade e inclusão. Não são apenas “buzz words” do momento, precisamos ir além se efetivamente queremos transformar e evoluir os padrões que vivemos. Se sempre tivermos pessoas com experiências ou conhecimentos parecidos, não fomentaremos um ambiente inovador ou rico para o desenvolvimento de novas ideias e sugestões. Mas tão somente reproduziremos o mesmo tipo de pensando e de vieses, o qual, inclusive, alguns poderiam dizer que conseguiriam pensar ou desenvolver sozinhos.


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Por isso, investir em diversidade e inovação é efetivamente acreditar no potencial de mudança e trabalhar para construí-la. Não apenas realizarmos divulgações internas ou externas sobre esses temas. Ainda que isso possa trazer publicidade, com o tempo essa estrutura não se mantém, em razão da demanda de terceiros, inclusive de clientes de ações mais afirmativas e de prestações de contas acerca do que está sendo realizado acerca da diversidade e das mudanças atingidas.

É por isso que para aqueles que efetivamente querem evoluir, criando um ambiente mais inovador e, para tanto, mais diverso, a mudança deve ser estrutural. 

Para efetivamente termos diversidade são necessárias ações concretas e afirmativas internamente na corporação. Como, por exemplo, adaptações no RH, ações de conscientização, mudança de procedimentos, políticas específicas para tanto, mapeamentos dos níveis de diversidade atingidos e constante vigilância de condutas e potenciais problemas, com a criação de espaços para ouvir, entender e, caso necessário, inclusive denunciar. 

Não basta, porém, realizar essas atividades exemplificadas acima, caso não exista uma constante política de aprendizado e revisão. Ora, na realidade de cada negócio vão surgir outras necessidades e atividades que precisarão ser implementadas e adaptadas, é preciso entender efetivamente em que contexto estamos inseridos para que assim seja possível criar um local mais diverso e inovador.

Não adianta, tampouco, trazer soluções externas ou mesmo contratar pessoas que se enquadrem como “minorizadas”, é preciso uma mudança cultural. Caso contrário, serão criados silos entre as áreas e as pessoas que pensam ou se identificam com determinado contexto. E, novamente, não será possível inovar.

Neste sentido, a realização da ação deve ser pensada considerando a experiência, a vulnerabilidade e a visão de cada um. Não basta implantar soluções prontas ou simplesmente “mudar as regras”, pois novamente podemos ter o problema de efetiva integração e de inclusão, não favorecendo o desenvolvimento do potencial de cada um que é necessário para criar algo inovador.

Lembrar que erros existem na jornada de todos, inclusive dos negócios é importante também! Admitir isso e, se for o caso, recalcular a rota é um passo necessário. Seja para repensar posicionamentos, seja para auxiliar na humanização das relações, acolhendo diferentes pessoas e fornecendo não apenas voz, mas também o sentimento de pertencimento.

Ainda que essas expressões pareçam estar desconectadas do contexto empresarial, elas são necessárias para que as pessoas falem e efetivamente criem. A inovação é realizada por pessoas. Para tanto, elas precisam sentir-se à vontade no ambiente para expressarem as suas opiniões, confiando que não serão julgadas caso os demais não concordem com o quanto falado, e, ainda, acreditem que o que expressarem não será esquecido, ignorado ou mesmo menosprezado. 

Como poderia um pesquisador apontar a sua nova invenção ou uma determinada sugestão de solução para um problema da área, caso ele saiba que o seu gestor ou seus colegas não o ouvirão ou, pior, poderão rir dele?


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Assim, o investimento na mudança cultural é importante, sempre com foco em diversidade e espaço para todos, fomentando assim um ambiente de criatividade e segurança em que as pessoas consigam expor seus planos e ideias para que seja possível efetivamente inovarmos.

Contudo, o primeiro passo é uma mudança e reflexão pessoal. Será que de fato estamos dando espaço para a diversidade e a inovação? Para tanto, basta um exercício relativamente simples analisar e responder algumas perguntas. “Quem está com você nesta jornada?”, “O seu ambiente é diverso e propicia esse tipo de reflexão?”, “Quem são seus exemplos de sucesso?” e “Quais são os seus vieses e olhares?”

Entender a origem dos nossos vieses e olhares perante a sociedade é crucial para pensarmos de onde viemos e para onde vamos. São tais pontos que nos colocam onde estamos e nos auxiliam a atingirmos os nossos objetos. E nos mostram se “apesar de termos feito tudo que fizemos, ainda somos como nossos pais”.

*Fernanda Galera é doutoranda e mestre em direito comercial, com foco em propriedade intelectual pela Faculdade de Direito Universidade São Paulo (FDUSP).
 

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