Liderança não é sobre o líder, é sobre os liderados

Tornar-se um líder é menos sobre dar ordens e ser reconhecido por posições de prestígio dentro de organizações/Unsplash
Tornar-se um líder é menos sobre dar ordens e ser reconhecido por posições de prestígio dentro de organizações/Unsplash
É preciso coordenar os interesses das empresas com os de cada membro da equipe.
Fecha de publicación: 29/06/2021

Indivíduos com perfil de liderança tendem a ser classificados como “mandões”, “grossos” e até “estressados” por seus pares. Apesar de banalizados, tais adjetivos nada têm a ver com as características de um líder nato, que deve perseguir atributos como confiança, alto desempenho, comprometimento com o trabalho, visão sistêmica, lealdade, dentre outros.

Tornar-se um líder é menos sobre dar ordens e ser reconhecido por posições de prestígio dentro de organizações. O bom líder, como considera o manual de boas práticas, sequer se vale desse esforço, uma vez que seus liderados sabem exatamente como atuar em cada situação.

O bom líder também não entende de todos os assuntos. Ao contrário, conhece bem seu time e sabe juntar as pessoas certas para a solução de problemas específicos. Conclui-se, a princípio, que liderança não é tanto sobre o líder, mas sobre os liderados. Sendo assim, a partir daqui, nosso foco será outro.

A Interact/Harris realizou uma pesquisa em 2015, publicada na Harvard Business Review, que muito interessa à temática da liderança. Nesse estudo, feito online com cerca de mil trabalhadores americanos, descobriu-se uma notável falta de inteligência emocional entre os líderes empresariais.

As principais falhas que os funcionários apontaram de seus líderes foram: falta de reconhecimento, instruções pouco claras, falta de tempo para reuniões de equipe, recusa a comunicar-se com subordinados, assumir créditos pelas ideias de outros, desconhecer o nome de seus colaboradores, recusa a falar com pessoas ao telefone e pessoalmente e ignorar a vida dos funcionários fora da empresa. A partir desse resultado, nota-se que os apontamentos feitos foram justamente aqueles com relação aos seus liderados. 


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Atualmente, as comunidades globais vivenciam uma nova revolução, impulsionada pela inteligência artificial e tecnologias avançadas. Cidadãos são invadidos por toneladas de informações irrelevantes, superficiais e não confiáveis. Algoritmos direcionam o consumo e o gosto dos consumidores, padronizando comportamentos e limitando ainda mais o tempo, que encontra-se ainda mais escasso.

Nesse panorama, é urgente a compreensão de que humanos não são capazes de acompanhar a velocidade das máquinas. Não há como estar atualizado sobre todas as notícias dos feeds das redes sociais, e pouco importa o desenvolvimento de tecnologias disruptivas sem que pessoas éticas possam operá-las.

Diversas empresas tendem a desperdiçar tempo e dinheiro promovendo pesquisas de clima e reorganizando a pirâmide hierárquica. Poderiam, em vez disso, dedicar esforços a conectar pessoas, criar vínculos e gerar oportunidades para que haja um ambiente mais humano e propenso à auto expressão, sem temer represálias, humilhação ou apropriação de ideias.

O papel de um líder é fundamental nesses termos. A título de comparação, um líder tem muitas semelhanças com um maestro, responsável por coordenar os músicos de uma orquestra. Só que, em vez de música, trata-se de desenvolver as habilidades cognitivas e emocionais de seus liderados para o alcance do propósito comum, seja ele qual for, e o progresso individual de cada um.

O líder que sabe usar a tecnologia a seu favor — tanto por sua velocidade, quanto pelo seu potencial de armazenamento de informações e dados — sai na frente dos demais. Pois graças a essas facilidades, ele é capaz de desenvolver habilidades humanas e recrutar os melhores profissionais para atividades específicas. Mas isso levando em consideração um ambiente seguro, de alta confiança, empatia, colaboração e, sobretudo, ética.

Essa tarefa, ao que se pode concluir dos atuais líderes — sejam eles governantes de países ou CEOs de empresas —, está longe de ser concluída da melhor forma. O que leva-se a concluir que, em verdade, liderança não está necessariamente associada com hierarquias e cargos, noções que podem gerar presunções irrealistas como a de “quem está no topo é competente”. Tal afirmação trata-se de uma farsa.

As estruturas de liderança recentes geram uma série de intrigas entre indivíduos pelo poder, responsáveis por desgastes emocionais e às custas de precioso tempo de profissionais verdadeiramente competentes, que poderiam focar em outros assuntos que não o próximo degrau da hierarquia. A saber: trabalhar melhor com seu time, de forma harmônica e direcionada por um objetivo coletivo comum.

O líder nato não pode e não deve se deixar envolver por tais intrigas, ou se corromper por interesses puramente individuais. Seu papel é trabalhar para que os liderados sejam o foco de todas as questões e decisões: quem são, como vivem, o que pensam, o que querem, quais são suas ambições, o que os torna únicos e valiosos para aquela organização e qual o sentido que estar naquela organização dá à sua vida.


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A partir dessa extensa exposição, fica claro que liderança é sobre atuar na coletividade da melhor forma possível — coordenando os interesses das empresas com os interesses individuais de cada membro da equipe. É um cargo verdadeiramente desafiador, levando em conta as dificuldades comportamentais e adversidades da economia global.

Por isso, mostra-se fundamental a imersão no conhecimento e estudo constantes sobre modelos de empresas e organizações que conseguiram prosperar, tanto em valor de mercado, quanto em satisfação de seus funcionários.

*Camila Gullo, Fundadora da plataforma CompliancePME, Gestora Jurídica e palestrante da 1ª Jornada de Liderança da CompliancePME

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