Mercado jurídico: mercado de advogados?

Os escritórios tradicionais devem se preparar e entender que sua concorrência agora também é digital/Unsplash
Os escritórios tradicionais devem se preparar e entender que sua concorrência agora também é digital/Unsplash
Entrada da Amazon na venda de serviços jurídicos trouxe novos desafios para os escritórios tradicionais.
Fecha de publicación: 19/07/2021
Etiquetas: Gestão LexLatin

A entrada da Amazon na venda de serviços jurídicos trouxe novos desafios para os escritórios tradicionais, os quais deverão repensar a forma em como oferecem seus serviços jurídicos. É claro que o da Amazon é um projeto piloto; contudo, os escritórios tradicionais devem se preparar e entender que seus concorrentes já não são unicamente outros escritórios, mas novas empresas do mundo da tecnologia que irromperam no âmbito jurídico para, através dos seus desenvolvimentos, começar a prestar serviços de uma maneira diferente.

O mercado jurídico já não é um mercado exclusivo dos advogados. O número de concorrentes que ofertam serviços jurídicos é cada vez maior. Adicionalmente, os serviços jurídicos agora são prestados através de diferentes estruturas. A concepção dos escritórios com figura piramidal é cada vez mais questionada, o que foi aproveitado por muitas outras empresas de distintos setores para marcar a disrupção no mercado jurídico.

Na atualidade encontramos empresas dedicadas a prover soluções legaltech que buscam apoiar na geração de processos otimizados. Igualmente, encontramos os Provedores Alternativos de Serviços Legais (Alternative Legal Service Providers, ALSP por sua sigla em inglês), os quais focam em cobrir as necessidades dos clientes por projeto ou oferecer o serviços de levar adiante aquelas tarefas jurídicas repetitivas, que são muito trabalhosas para um escritório, por um preço mais econômico. Uma das grandes diferenças das ALSP em comparação com os escritórios tradicionais é que a sua faturamento não é por horas, mas por projeto, o que é cada vez mais solicitado pelos clientes. Este modelo de faturamento por projeto está encontrando uma boa acolhida entre os escritórios tradicionais, ainda que seja muito cedo para saber se este tipo de faturamento substituirá definitivamente a tão arraigada faturamento por horas.

Os escritórios tradicionais já entenderam que os clientes buscam eficiência (menor tempo, menor custo), razão pela qual seguiram novas rotas para continuar sendo atrativos para os clientes. Entre estes novos caminhos podemos destacar a inovação dentro do escritório ao adotar tecnologia em prol de um cliente que busca perceber uma maior eficácia no uso dos recursos da firma, e as novas parcerias estratégicas entre os escritórios tradicionais e as startups legaltech, com o fim de contar em primeira mão com a aplicação de novas tecnologias na firma.

Um exemplo claro deste tipo de parcerias é o que se refere ao desenvolvimento de ferramentas de automatização para documentos jurídicos. A concepção de que todos os documentos jurídicos devem ser tailor made (feitos à medida), é cada vez mais refutada pela realidade. Embora cada negócio tenha suas particularidades próprias, muitos documentos jurídicos são reutilizados como ponto de partida para a preparação de um novo documento. O uso de ferramentas de automatização de documentos permite gerar maior eficiência e uma maior possibilidade de evitar erros humanos. As ferramentas tecnológicas permitem que os clientes sejam os grandes beneficiários com estes novos processos, apoiando escritórios tradicionais que transitam por novas condições de mercado, diante da realidade em constante mudança que nos tocou viver. 

A entrada de novos concorrentes é benéfica para os clientes, mas tão ou muito mais benéfico é para o setor, o qual foi muito relutante em lidar com novas tecnologias. Este cenário permitirá que os escritórios e os advogados provem e entendam como a tecnologia gera uma maior produtividade nos seus trabalhos diários. Poderão comprovar que esta produtividade lhes permitirá dedicar mais tempo a entender o negócio dos seus clientes com o fim de conhecer o que no marketing é chamado de “pain point” de cada um deles. Esta é a forma na qual as firmas alcançam prestar melhores serviços. 

A inovação não se limita à adoção de tecnologia. Os escritórios iniciarão um processo interno que lhes permitirá entender quais são as cadeias de valor dentro dos seus modelos de negócio e dentro destas cadeias os processos repetitivos não geram valor, e que podem ser automatizados, serão atendidos através de mecanismos similares aos que estão oferecendo entidades como Amazon ou startups jurídicas. Esta adoção de inovação nas operações das empresas jurídicas (Legal Ops) permitirá o surgimento da verdadeira diferença competitiva: a experiência que viverá o cliente graças à atenção oferecida pelos advogados especializados da firma. Hoje vivemos em um mundo das experiências e quem conseguir oferecer soluções jurídicas direcionadas com serviços diferenciados para cada um dos seus clientes, conseguirá não só manter o seu lugar, mas escalar exponencialmente.

Já existem muitas opções para “entrar” nesse novo modelo - e virão ainda mais. Exponho três ideias: a primeira é começar a explorar o que oferecem as startups e, em caso de encontrar alinhamento em objetivos, trabalhar em parceria com elas. A segunda é criar dentro do escritório uma área de tecnologias da informação, encarregada de analisar as legaltechs existentes, decompor os processos do escritório e implementar ferramentas que permitam colocar em marcha a melhoria dos serviços internos e externos. Uma terceira proposta, últimas mas não menos importante, é contratar um “champion” que se converta em gestor do conhecimento e apoie a mudança da cultura organizacional pois está provado que nenhuma adoção de inovação é exitosa se as pessoas dentro da empresa não estão abertas à mudança. Sempre existirão alternativas que permitam começar a transitar por novos modelos que impõem a tecnologia aos negócios, e dos quais não podia ficar isolado o direito.

Bem-vindos os novos concorrentes no mercado jurídico que impulsionem a inovação e que façam mais eficiente o setor com o fim de focar no que devia ter sido prioridade há muito tempo: oferecer maior valor aos clientes.

*Juan Sebastián Ferreira Vargas, parceiro ativo da ALIL é advogado especializado em direito internacional de negócios pela ESADE e mestrando em direito digital na Universidad de Barcelona. Conta com experiência em direito corporativo, dados pessoais e comércio eletrônico na Colômbia e Europa. 

Add new comment

HTML Restringido

  • Allowed HTML tags: <a href hreflang> <em> <strong> <cite> <blockquote cite> <code> <ul type> <ol start type> <li> <dl> <dt> <dd> <h2 id> <h3 id> <h4 id> <h5 id> <h6 id>
  • Lines and paragraphs break automatically.
  • Web page addresses and email addresses turn into links automatically.