A venture capital (VC) First Round, uma das primeiras investidoras do Uber, carrega logo na entrada do escritório, no Vale do Silício, o slogan “O futuro é (das) fundadoras”. Em 2015, ao completar 10 anos de mercado, a empresa analisou a performance de seu portfólio — 300 startups investidas, 600 fundadores - e descobriu, que empresas com pelo menos uma fundadora, performaram 63% melhor que as fundadas apenas por homens.
A empresa é apenas um exemplo, porém, existem muitas outras pesquisas que comprovam que equipes com maior diversidade têm melhor desempenho e retorno financeiro. Um estudo realizado pela plataforma Crunchbase revelou que apenas 17% das startups que receberam aporte de venture capital têm ao menos uma fundadora. Quando falamos de mulheres CEOs, esse número cai para 2.7%. Ou seja, em um mercado onde potenciais de negócios e equipes deveriam ser os fatores determinantes ao sucesso, as oportunidades para mulheres são mais escassas.
Leia também: A ascensão das mulheres no mundo legal: algo natural, positivo e tardio
Os dados da segunda edição da pesquisa “Indicadores sociais das mulheres no Brasil”, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam isso, pois a pesquisa mostra, que apenas 37,4% das mulheres brasileiras ocupam algum cargo de gerência. Além disso, 38,1% das participantes recebem bem menos que os homens, mesmo ocupando cargos semelhantes.
Mas veja que interessante, segundo a U.S Small Business Administration, quando há uma mulher à frente dos investimentos, o aporte em empreendedoras quase triplica (34% vs 13%). Em casos com mulheres CEOs, a discrepância é ainda maior (58% vs 15%). Essa correlação ocorre, em parte porque a maioria das startups de mulheres está ligada a mercados considerados historicamente femininos como moda e beleza, que são menos visados por investidores.
Soma-se a isso a tendência dos investidores de aportar dentro de suas redes (ou com recomendações) como meio de aplacar os riscos. E a rede de contatos dos homens é majoritariamente masculina, assim como o mercado de capital também é.
No Angelist, plataforma que introduziu os sindicatos de investimentos para investidores qualificados, em 2014 apenas 7,4% dos investidores eram mulheres. Adoraria ver estatísticas mais recentes deles, mas considerando que no ano passado só 8% das mulheres tinham cargos de liderança nas venture capitals, pouco progresso foi feito.
Mudar a dinâmica do mercado de venture capital poderá levar um tempo (percebeu que desde 2012, a porcentagem de fundadoras que receberam aporte não cresceu?). O que tem o potencial de transformar mais rápido o cenário do investimento em startups é o equity crowdfunding.
Vamos acabar com o monopólio masculino
Com o equity crowdfunding não é necessário trabalhar com venture capital, ou seja, uma investidora qualificada: todas podem investir em startups. Estamos falando de milhões de pessoas com acesso a negócios de alto potencial de crescimento e impacto, investindo no que acreditam e expandindo suas redes para além das fronteiras geográficas e sociais.
Para as fundadoras, é uma porta de acesso a investimento anjo — inclusive, a maior parte dos investimentos do Republic, plataforma americana, são em startups fundadas por mulheres.
Acredito que o momento é ideal para construirmos uma comunidade diversificada, capaz de impulsionar o empreendedorismo de forma igualitária para mulheres e as demais minorias sub-representadas no mercado tradicional. No final, o que queremos é dar oportunidades iguais para os igualmente talentosos, independente do gênero, raça ou origem.
*Camila Nasser é cofundadora e CEO da Kria.
Veja também: Direito ao trabalho na América Latina, restritivo e desigual para as mulheres
Add new comment