O mindset do consumidor e o consumo consciente

A tendência é o consumidor se preocupar cada vez mais com o impacto socioambiental que o consumo de determinados produtos pode causar/Freepik
A tendência é o consumidor se preocupar cada vez mais com o impacto socioambiental que o consumo de determinados produtos pode causar/Freepik
No contexto de pressão sobre os recursos naturais e a biodiversidade, o mundo volta os olhos para o consumo consciente sustentável.
Fecha de publicación: 01/09/2021

A busca pela sustentabilidade vem se mostrando cada vez mais presente no cotidiano das empresas, do mercado e da sociedade. Ao tratar do tema, é inevitável abordar a questão do consumo.

Na sociedade contemporânea, o consumo se tornou um pilar na vida do ser humano. O aumento do consumo de produtos ao redor do mundo, aliado à crescente urbanização e ao crescimento da população, resultam em um excesso de uso dos recursos naturais. Nesse contexto de pressão sobre os recursos naturais e a biodiversidade, o mundo volta os olhos para o consumo consciente sustentável.

Segundo o Instituto Akatu, o consumo consciente é aquele em que o consumidor se preocupa com os impactos que a escolha de determinado produto ou serviço pode gerar. É a conscientização dos impactos positivos ou negativos sobre o meio ambiente e as relações sociais gerados não apenas pela escolha do que comprar e/ou contratar, mas também de sua cadeia produtiva e de como descartar um produto.


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Consumir de forma consciente não significa deixar de lado fatores tradicionais na escolha dos produtos e serviços, como qualidade e preço, mas sim adicionar outros critérios ao processo de tomada de decisões, de modo a considerar as consequências desta escolha para o meio ambiente. como, por exemplo, cogitar a contração de um serviço prestado por determinada empresa em razão das suas ações de responsabilidade socioambiental ou ponderar o potencial impacto da compra de um produto que não poderá ser destinado para reaproveitamento ou reciclagem.

Nesse aspecto, observa-se um enorme potencial do consumidor, como elemento final e determinante do modelo de consumo da sociedade, no direcionamento dos meios de produção e das atividades industriais para modos menos impactantes numa perspectiva socioambiental. O mindset do consumidor no momento de optar por determinado produto ou serviço passa a ser elemento relevante para alterar os modos de produção e a disponibilização de serviços. Até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) indica que o consumo sustentável deve ser um dos objetivos perseguidos pela sociedade, tanto que foi apontado como um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A modificação consciente do padrão de consumo, contudo, não é visto como um processo simples.  Uma pesquisa do Instituto Akatu publicada em 2018 apontou que o principal obstáculo à adoção de hábitos mais sustentáveis, na opinião dos consumidores, é a necessidade de empreender um certo esforço (emocional, logístico ou econômico) para modificar comportamentos pessoais ou familiares, buscar informações a respeito dos impactos ambientais e sociais inerentes a uma determinada marca ou mesmo escolher um produto ou serviço cuja cadeia produtiva privilegie a sustentabilidade.

A tecnologia tem um papel fundamental na superação dos entraves às mudanças de hábitos e comportamentos dos consumidores em prol da sustentabilidade. Desde aplicativos que traçam o perfil de consumo do usuário e sugerem a substituição de certos hábitos por alternativas mais sustentáveis e baratas, a ferramentas de localização que apontam os lugares mais próximos para o descarte adequado de inúmeros tipos de resíduos, as diversas soluções tecnológicas disponíveis têm facilitado o acesso dos consumidores às informações necessárias para uma tomada de decisão mais consciente a respeito dos potenciais impactos ambientais e sociais de cada compra.

A crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 impôs mudanças nos hábitos dos consumidores em razão das medidas de isolamento social. Essas alterações de hábitos, que forçaram a sociedade a experimentar novos serviços, produtos, marcas e, sobretudo, novas maneiras de consumir, representam uma oportunidade para as empresas que operam com meios mais sustentáveis de produção.

Esse ponto de virada tem servido à readequação dos critérios de compra de muitas pessoas, com uma crescente procura por produtos e serviços mais sustentáveis. Muitos dos novos hábitos de consumo adquiridos em tempos de pandemia tendem a ser adotados de maneira permanente pelos consumidores.

Uma das formas de o setor privado contribuir com a mudança de mindset para consumo consciente é oferecer ao consumidor informações sobre ciclo de vida sustentável dos seus produtos, serviços e processos.


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Embora seja notável a movimentação da sociedade para adoção de ações concretas direcionadas à sustentabilidade dos meios de produção, ainda há certos obstáculos para o consumo consciente. Por isso, exige-se do mercado o papel fundamental de oferecer educação ambiental e social, notadamente quanto ao consumo de produtos e serviços mais sustentáveis. Os consumidores buscam também mais transparência nas informações que lhes são disponibilizadas, relacionadas tanto à qualidade e aos impactos dos produtos e serviços oferecidos, quanto ao modo de produção e de negócio das empresas.

Conceitos estratégicos como o da economia circular, que privilegia reutilização, redução de uso e recuperação de materiais e energia na confecção de produtos, estão cada vez mais integrados ao comportamento das pessoas, refletindo-se nos hábitos de consumo.

A tendência é o consumidor se preocupar cada vez mais com o impacto socioambiental que o consumo de determinados produtos pode causar, de forma que aqueles considerados efetivamente mais poluidores (ou decorrentes de meios de produção de significativo impacto socioambiental) passem a ser vistos não mais como solução, mas como um problema para as gerações futuras. O consumo consciente é, sobretudo, uma busca do equilíbrio entre a satisfação pessoal e os compromissos e preocupações ambientais, sociais e financeiras.

*Eduardo Ferreira, Thais Matallo Cordeiro e Ariana Anfe são sócios, Caio Souza Moraes e Victoria Weber são advogados do Machado Meyer Advogados.

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