Os desafios diários das advogadas no mercado jurídico

Escolher com quem você trabalha é tão fundamental quanto escolher onde você trabalha/Canva
Escolher com quem você trabalha é tão fundamental quanto escolher onde você trabalha/Canva
Escolher com quem você trabalha é tão fundamental quanto escolher onde você trabalha.
Fecha de publicación: 08/03/2022

Se você está procurando um artigo que contenha dados estatísticos sobre a posição das mulheres no mercado jurídico está lendo o artigo errado. Esse é um relato nada científico sobre duas advogadas que se tornaram sócias do mesmo escritório de advocacia, cujas vidas se cruzaram por acaso, mas as trajetórias têm muitas semelhanças!

“Cheguei cedo no escritório naquele dia, usava a minha melhor roupa (adquirida em 6 parcelas no cartão de crédito, arduamente pagas com salário de advogada recém-formada). Esperava ser chamada na sala de reuniões a qualquer momento para explicar uma complexa operação de M&A para um cliente estrangeiro (homem). A porta se abriu, o meu chefe (homem) chamou pelo meu nome, eu saí da minha “baia” e antes de entrar na sala eu olhei para a Marcinha, secretária do meu chefe, que disse baixinho para mim: “Você é uma mulher ou é um rato?”.

Essa era a frase que eu sempre ouvia da Marcinha quando tinha que enfrentar algum desafio no dia: uma reunião com cliente importante ou uma apresentação na frente de uma grande plateia. Era a forma inusitada dela me dizer: “Levante a cabeça, se orgulhe de quem você é, seja corajosa, não se esconda, não deixe te encurralarem, seja uma MULHER! E assim eu fiz!


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Seria ótimo se todas nós pudéssemos ter uma Marcinha, sempre nos lembrando do nosso potencial, não seria? Tantos anos depois, ainda me pego repetindo essa frase para mim mesma em certos momentos.

Cresci lembrando de uma frase muitas vezes repetida pela minha mãe: “Estude e trabalhe muito para que você nunca dependa de um homem na sua vida!” E assim foi, no colégio, na faculdade, no primeiro estágio, no primeiro escritório até chegar aqui: nada poderia me diferenciar de um homem e eu poderia fazer qualquer coisa que quisesse e lutasse para alcançar.

Para aquelas que militam no contencioso, uma frase já pode ter sido ouvida: “deixe que fulana vá despachar, é mais bonita, vai nos trazer a liminar”. E eu ouvi, claro. Mas, na hora, peguei o meu casaco e minha pasta e fui eu mesma despachar, trazendo a liminar pelos meus méritos profissionais.

Seria ótimo se todas nós pudéssemos ter bons exemplos nos encorajando de tudo que somos capazes. E os anos se passaram, e sempre nos lembramos desses momentos profissionais.

Ainda que a gente saiba quem somos, vem a pergunta “para onde vamos?” No início da carreira, nós duas nos questionávamos se era possível alcançar tudo que sonhávamos – viver um grande amor, ser uma advogada de sucesso, ser mãe, fazer uma maratona (no caso ainda na lista de pendências da Renata), ou aprender a cozinhar (no caso da Tatiana, ainda um pavor entrar na cozinha).

Nós duas temos carreiras muito semelhantes. Começamos cedo no mercado de trabalho, passamos por perdas familiares significativas em nossas vidas, fomos mães, trabalhamos em grandes escritórios cercadas de muitos homens e, hoje, estamos juntas, sócias numa boutique de M&A – palco de grandes negociações.

Olhando para nossas conquistas, notamos que elas vieram de forma diferente, momentos diferentes, situações diferentes. Entendemos, então, que é sim possível ter tudo que sonhamos, mas que isso não virá necessariamente ao mesmo tempo e da mesma forma.

Apesar de não ter uma receita de bolo, encontramos alguns ingredientes em comum, entre nossas histórias: determinação, foco, coragem, dedicação, preparação e, principalmente, escolhas conscientes!

Por exemplo, quando se fala de crescimento profissional, a maternidade é uma questão. Fisiologicamente, compete a nós mulheres a maternidade. Se quisermos ter filhos, teremos que fazer uma pausa. Não podemos mudar isso. E, profissionalmente, isso acaba “atrasando” o caminho natural percorrido profissionalmente. E podemos também deixar de ter filhos, mas não porque queremos sucesso profissional, mas apenas porque não queremos ser mãe. E isso não poderá nos ser questionado. A mulher pode e deve ter direito à escolha do que quer para sua vida.

Escolher com quem você trabalha é tão fundamental quanto escolher onde você trabalha! Pode parecer óbvio, mas não é! Voltamos ao exemplo da maternidade. Apesar da licença maternidade ser um benefício importante, a percepção do seu chefe e colegas de trabalho sobre ela é tão valiosa quanto. Ouvimos relatos e vivenciamos com algumas mulheres que receberam promoção durante a licença maternidade, e com muitas outras que viram suas carreiras desabarem no mesmo período de afastamento. Todas receberam o mesmo benefício!

Seria a maternidade o grande problema? Acreditamos que não. Lembremos de nossas escolhas, está nelas a definição do caminho para o sucesso.


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É claro que nós, como sociedade, precisamos criar regras e incentivos para diminuir as desigualdades de gênero no ambiente de trabalho, mas como indivíduos precisamos estar atentos para que as conquistas como sociedade não sejam em vão. Que elas sejam compreendidas e aplicadas na prática. Isso requer uma consciência clara dos problemas e a vontade de mudança de todos!

Nós duas tomamos a decisão consciente de trabalhar num ambiente que proporciona a igualdade de gêneros. Convivemos lado a lado de advogados que nos respeitam e nos encorajam a crescermos profissionalmente sem deixar para atrás nossas escolhas de vida. Seguimos advogadas, mães, mentoras e mulheres.

Nosso recado para as mulheres: não desistam, façam boas escolhas e apoiem umas às outras para dividirem experiências, emoções e dificuldades. Afinal, seguimos no mesmo barco, com um único destino: a igualdade!

*Tatiana Chiaradia e Renata Simon são sócias do escritório Candido Martins Advogados. 

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