Os novos velhos candidatos à presidência do Brasil

Na corrida para ocupar o Palácio do Planalto (foto), veremos um embate de acusações de ambos os lados/Governo Federal
Na corrida para ocupar o Palácio do Planalto (foto), veremos um embate de acusações de ambos os lados/Governo Federal
Debate político volta à polarização do lulopetismo vs bolsonarismo com anulações das condenações do ex-presidente.
Fecha de publicación: 09/03/2021

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Até cheguei a achar que a semana de 1 a 5 de março havia sido agitada, até receber a notícia, confesso com espanto, de que as condenações do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva haviam sido anuladas pelo relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin. Na decisão, Fachin determina que os processos contra o ex-presidente Lula sejam levados à Justiça Federal do Distrito Federal. Com a anulação das condenações, mas não a sua absolvição, pois não é sobre isso que se trata a decisão, Lula torna-se novamente elegível para presidente do Brasil.

Qualquer alienígena de qualquer parte do espaço sideral, da Via Láctea e além, acharia que essa decisão faria com que o atual presidente Bolsonaro urrasse de ódio, mas não. Em tempos de negacionismo quanto ao uso de máscaras e aglomerações, juro que já vi o atual presidente muito mais descontrolado quando lhe perguntam se a máscara funciona contra a Covid-19, do que quando ele foi entrevistado sobre suas opiniões quanto à decisão de Fachin.

Os leitores já sabem onde quero chegar: Tenho a impressão (modo ironia) de que o presidente gostou da ideia, pois sabe que seu melhor adversário em uma corrida presidencial seria o próprio Lula. Voltamos ao velho e inócuo antagonismo: lulopetismo vs bolsonaristas. Mas a pergunta mais importante é: se esses dois, eventuais candidatos, realmente se tornarem candidatos, qual seria plataforma de governo a ser apresentada por ambos? Liberalismo, estatismo, preocupação com o bem estar da sociedade, educação, saúde? Outra vez isso?


Leia também: Fachin anula condenações contra o ex-presidente Lula


Já vimos como a equipe do antigo presidente se preocupava com a população ceifando recursos de empresas estatais e aparelhando-as de forma a deixar “tudo dominado”. Por outro lado, não melhor, estamos vendo também a enorme preocupação com o povo do atual presidente Bolsonaro. Essa dicotomia ou diáspora serve apenas para o combate inócuo de egos preocupados apenas com a reeleição, mas dado o antagonismo fervoroso existente na sociedade atualmente poucos querem ouvir propostas ou um plano realmente de Estado.

Se essa disputa acontecer, veremos um embate de acusações de ambos os lados. De um lado, bolsonaristas pedindo votos utilizando a já manjada estratégia: “então vocês querem que o PT volte?” Do outro, as conversinhas miúdas de que apesar de sofrer com a ineficiência da justiça, o pai dos pobres voltou para ajudar os mais necessitados com Bolsa-Família e talvez algumas novas benesses para empreiteiros, mas agora de forma mais profissional.

E o centrão? E as ideias que o país gostaria de ouvir, aprender, debater e escolher? Ah isso não importa. Vamos para a batalha raivosa para a reeleição. De um lado, um possível candidato que vê em outro uma possibilidade de ganhar a eleição facilmente, dada a enorme rejeição que o povo tem pelas “eventuais falcatruas” exercidas durante o mandato do seu oponente e o aparelhamento do estado como forma de se perpetuar no poder.

Do outro, um candidato que se mostrará vítima das elites, da Justiça, do Congresso, dos juristas, do divino e tudo mais, discursando em cima de uma caixa de som, jurando que fez tudo em nome dos mais pobres. Além disso, como injustiçado, perseguido político, humilhado, diminuído pelas elites, finalmente merece ser reconhecido e ungido a dirigir nossa nação, como o único e verdadeiro líder. Entendeu o risco para o nosso país?   

E olha que eu ainda achava que a semana anterior é que havia sido tumultuada. Mas daqui até a eleição de 2022, muita água vai rolar. Sem dúvida, mas há de se esperar um atual presidente cada vez mais populista nesse interim, como forma de angariar mais votos e também de se vender como pai dos pobres, talvez escancarando o teto de gastos, como se não houvesse amanhã.

Os mercados já deram o recado. Chega desse antagonismo terceiro-mundista. Não sairemos do lugar. Tanto é verdade que a nossa moeda chegou a bater R$/US$5.86, com inevitáveis impactos na inflação, principalmente de alimentos. Dado que o IPCA de 12 meses já beliscou os 6% para uma meta de 3.75%, como será que o Banco Central agirá com essa inflação maior? Subirá os juros, absolutamente necessários na próxima reunião em março?

Roberto Dumas

Mas como permitir isso politicamente se esperamos uma contração do PIB no primeiro trimestre (entre 0.8% e 1%) e muito provavelmente no segundo trimestre (0.5%) também? Pode isso, Arnaldo? Não vai prejudicar a popularidade do atual presidente? Petrobras foi um aviso. E na eleição de 2022, para nós eleitores, apenas testemunharemos narrativas raivosas. Haja!

*Roberto Dumas Damas é economista, consultor Independente da Ohmresearch e professor de economia do Insper.


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