O governo Bolsonaro e a escolha do novo presidente da Petrobras

O imbróglio em torno da escolha do novo presidente da Petrobras deixa claro o amadorismo do governo federal/Agência Brasil
O imbróglio em torno da escolha do novo presidente da Petrobras deixa claro o amadorismo do governo federal/Agência Brasil
Fatos negam o discurso de boa gestão pública e a ausência de corrupção na atual administração
Fecha de publicación: 07/04/2022

Os mais recentes eventos têm colocado em xeque dois argumentos utilizados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados desde a posse do governo, no início de 2019 - a boa gestão pública e a ausência de corrupção na atual administração. Os fatos negam o discurso.

O imbróglio em torno da escolha do novo presidente da Petrobras deixa claro o amadorismo do governo federal. Inicialmente escolhido, o economista Adriano Pires foi obrigado a recusar a oferta por conflito de interesses. Sócio de uma das mais importantes consultorias no setor de óleo e gás do país, ele se rendeu à realidade. Sua desistência seguiu-se à de Rodolfo Landim, que assumiria a presidência do Conselho da empresa e igualmente recuou em função do conflito de interesses. Pelo mesmo motivo, o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Décio Oddone, também não aceitou assumir o comando da empresa.

Cabe reforçar aqui que o titular do Planalto tenta se utilizar da Petrobras de modo populista, questionando inclusive a política de preços da empresa - o que levou à demissão do economista Roberto Castello Branco e, agora, do general da reserva Joaquim Silva e Luna. A intervenção presidencial é clara.

Fica aqui uma questão básica - o governo não sabia de antemão dos obstáculos às indicações de Pires e Landim para os postos-chave da petroleira? A crise, que impacta o mercado e gera dúvidas quanto ao futuro da Petrobras, poderia ter sido facilmente evitada. Bastaria uma leitura minimamente atenta da Lei das Estatais e das regras de governança da empresa, e o problema não teria ocorrido.


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A questão da suposta ausência de corrupção no atual governo, por seu lado, começou a fazer água durante a pandemia, quando a CPI do Senado Federal mostrou a existência de um “gabinete paralelo” no ministério da Saúde e também a tentativa de compra de vacinas contra a COVID-19 a preços superfaturados. A ministra do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, por sinal, determinou que as investigações não sejam arquivadas. A pressão continuará nessa frente.

Agora, o ministério da Educação ocupa o centro das atenções. O escândalo em torno da ação de pastores ligados ao então ministro Milton Ribeiro, que cobravam propina de prefeitos para a liberação de verbas da pasta para municípios, e o leilão para a aquisição de ônibus escolares com recursos do Fundo Nacional de Educação (FNDE) a preços muito acima do mercado, evidenciam que o discurso de “fim da corrupção”, no limite, não passa de uma obra de ficção. Na administração Bolsonaro, as práticas são similares às de outros governos.

Em plena crise econômica e social, com desemprego, inflação e juros elevados, famílias passando fome e um conflito na Europa que tem forte impacto inclusive no Brasil, o presidente da República e seu entorno criam obstáculos extras para a recondução do grupo a mais quatro anos no Planalto. A verdade é nua e crua.

Os adversários, seja Lula (PT), Ciro Gomes (PDT) ou a chamada “terceira via” têm, em tese, farto material para explorar na campanha que se inicia. Conseguirão eles extrair dividendos do momento?

*André Pereira César é cientista político.

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