A reversão da perda dos direitos trabalhistas no Brasil

Espanha, que inspirou a reforma trabalhista brasileira, agora busca colocar no centro das procupações políticas a proteção dos trabalhadores/Canva
Espanha, que inspirou a reforma trabalhista brasileira, agora busca colocar no centro das procupações políticas a proteção dos trabalhadores/Canva
Além de não criar postos de trabalho, mudança ampliou a precarização do emprego.
Fecha de publicación: 18/01/2022

Ao longo das últimas semanas, entrou em pauta a possibilidade da revogação da reforma trabalhista aprovada em 2017. Isso porque, recentemente, entidades representativas de empresas e trabalhadores da Espanha concordaram em revogar parte das regras trabalhistas aprovadas em 2012 naquele país, as quais inspiraram a legislação aprovada no Brasil durante o governo de Michel Temer.

A reforma trabalhista brasileira foi justificada por seus idealizadores como uma norma que tinha o objetivo de reduzir o alto número de desemprego no país. Entretanto, além de não criar postos de trabalho, ampliou a precarização do emprego, reduziu a renda do trabalhador e prejudicou negociações coletivas e entidades sindicais.

Importante destacar que o nível de desemprego no Brasil fechou em 12,6% no terceiro trimestre de 2021, último dado divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No entanto, mesmo quando há geração de vagas e redução no índice, o movimento é puxado pela informalidade e por empregos com salários mais baixos, o que indica piora nas condições para os trabalhadores.

Na Espanha, o recente movimento de resgate parcial de direitos dos trabalhadores promovido pelo governo da Espanha colocou em pauta a necessidade de reversão das reformas trabalhistas precarizantes efetuadas ao longo da última década em diversos países. Em 2012, o país europeu promoveu a mais ampla alteração do Estatuto dos Trabalhadores desde a sua promulgação, em 1980.

Foram ampliados os poderes unilaterais das empresas, os sindicatos tiveram a atuação duramente restringida e foram incentivadas formas de contratação que beiravam a informalidade, sob o pretexto de se buscar reduzir o nível de desemprego e assegurar maior segurança jurídica e maior flexibilidade na contratação e dispensa de trabalhadores.

No Brasil, em 2017, a reforma espanhola foi utilizada como uma das principais fontes de inspiração para a reforma efetuada pelo governo Temer. De fato, algumas das alterações promovidas se assemelhavam àquelas empreendidas no país europeu cinco anos antes. A título de exemplo, em ambos os países os acordos por empresa passaram a prevalecer sobre convenções coletivas. Também em ambos os contextos, foram impostos constrangimentos à negociação coletiva, com a vedação da ultratividade das normas pactuadas por sindicatos.


Leia também: É possível reformar a reforma trabalhista?


Anos após a adoção dos novos marcos regulatórios do trabalho, verificou-se que o resultado prometido não foi alcançado. Na verdade, a participação da renda obtida pelo trabalho na riqueza nacional foi reduzida em ambos os países. As reformas trabalhistas levaram a uma deterioração das condições de quem vive do trabalho, com um aumento do grau de informalidade, das desigualdades e da concentração de renda.

Com maiores facilidades para as demissões, as mudanças conduziram à troca de trabalhadores mais bem remunerados por profissionais que, diante das difíceis condições econômicas, viram-se constrangidos à aceitação de salários mais baixos para obterem postos de trabalho.

O que se busca resgatar na Espanha é uma visão que coloca no centro das preocupações políticas a proteção ao estatuto jurídico dos trabalhadores. É um dos pressupostos para uma sociedade minimamente inclusiva e comprometida com a redução das desigualdades e a progressiva melhora das condições sociais.

É interessante notar, inclusive, que a nova reforma laboral espanhola é decorrente de consensos alcançados entre governo, trabalhadores e empresários e agora enfrenta o desafia de obter a aprovação política perante o Parlamento. Diante do fracasso das políticas implantadas desde 2017 no Brasil, é indispensável que se pensem estratégias de reversão da perda de direitos, ampliando a participação dos trabalhadores na renda nacional.

Para tanto, é essencial a integração das instâncias representativas desses trabalhadores no diálogo sobre as reformas necessárias para a ampliação de direitos, já que as entidades sindicais foram flagrantemente ignoradas no processo que resultou na reforma implementada no governo Temer.

*João Gabriel Lopes é advogado é sócio do escritório Mauro Menezes & Advogados.

Add new comment

HTML Restringido

  • Allowed HTML tags: <a href hreflang> <em> <strong> <cite> <blockquote cite> <code> <ul type> <ol start type> <li> <dl> <dt> <dd> <h2 id> <h3 id> <h4 id> <h5 id> <h6 id>
  • Lines and paragraphs break automatically.
  • Web page addresses and email addresses turn into links automatically.