Desafios para o mercado legal nos EE. UU. e América Latina

Desafíos para el mercado legal en EE. UU. y Latinoamérica
Desafíos para el mercado legal en EE. UU. y Latinoamérica
Fecha de publicación: 25/02/2016
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No número de dezembro da revista The American Lawyer, sua editora-em-chefe, Kim Kleman, aborda os seguintes desafios para a indústria legal em 2016:

  1. Mergermania. A grande corrente de fusões de firmas de advogados que tem se manifestado principalmente nos Estados Unidos, promete continuar. Este fenômeno parece responder a um mercado altamente competitivo – a pesar dos estragos causados pela crise de 2008.
  2. A natureza do partnership. O crescimento das firmas produto da consolidação, globalização, e outros fatores vinculados à competitividade, gera dúvidas sobre se as firmas seguem sendo verdadeiras partnerships e sobre o sentido que possa ter de converter-se em sócio nestas organizações.
  3. Permanência da pressão financeira. A pesar de que têm melhorado os números em relação às épocas da crise, seque havendo muita pressão para melhorar resultados nas firmas. Maiores rendas e lucros é um dos drivers fundamentais dos processos de consolidação e os movimentos de sócios entre as firmas, bem como também a decisão de reduzir o número de sócios com participação no capital da firma (“de-equitize”) e o aumento do leverage (relação entre número de sócios e advogados na firma).
  4. Desafios de liderança. Os managing partners e sócios envolvidos no gerenciamento das firmas enfrentam enormes desafios estratégicos, ademais de ter que equilibrar as necessidades e interesses de distintas gerações de profissionais com características muito dissimiles.

A autora conclui que as soluções se encontram onde sempre estiveram: concentrar-se nos clientes, antecipar-se às suas necessidades, responder à pressão sobre os honorários, e resolver seus problemas.

Estas questões têm importância na América Latina? A resposta mais habitual é considerar que nossa região e nossas firmas são diferentes. Certamente, há questão de tamanho, e as mudanças mais tecnológicas não têm forte impacto ainda na forma de operar das firmas em nossos países. Mas considerar estas questões como totalmente alheias à nossa realidade é simplista e arriscado. Vejamos alguns dos temas separadamente.

Consolidações e fusões

Nossa região não experimenta a fúria por fusões que vive o mercado americano e, parcialmente, o europeu e asiático, mas é evidente que há uma preocupação e interesse pelos processos de globalização e regionalização que estão ocorrendo. No último mês, a fusão entre Philippi (Chile), Prietocarrizosa (Colômbia) e Uría (Espanha, embora só em 30%), PPU, tem incorporado duas firmas peruanas, convertendo-se dessa maneira na firma regional de fala hispana de maior tamanho, com 319 advogados. PPU não é o único caso. Redes regionais na América Central estão também crescendo. Várias firmas internacionais estão com claros planos de expansão na região. E o Brasil conta com várias firmas que superam os 200 advogados.

É notório que para certo tipo de trabalho e clientes, o tamanho tem importância. Se bem o mercado latino-americano tem um forte matiz individualista que faz que os estudos tenham dificuldade em manter projetos estáveis e sofram constantes excisões, as pressões de competitividade do mercado geram uma necessidade de maior institucionalização que pode tender a limitar estas constantes divisões. Ao igual que ocorre noutras jurisdições, é possível que o futuro traga uma maior consolidação nos mercados latino-americanos, em especial nos níveis mais altos.

A evolução do partnership em Latam

Aqui também há uma similitude com os mercados regionais, embora tal vez numa etapa diferente. Enquanto que o mercado americano se pergunta quê significa o partnership em firmas de 500, 1.000 ou 2.000 advogados, em nossa região estamos transitando a mudança desde um mercado com firmas sob o modelo familiar a modelos mais profissionais e institucionais. Aqui também o sentido do partnership é distinto. Nas firmas familiares, o carácter de sócio está dado pela proximidade e relação pessoal entre os membros. Isso dá confiança e solidez à firma. O modelo institucional se baseia na solidez do projeto, e uma visão comum que os sócios compartilham, com objetivos e valores coletivos que sustentam.

Desafios de liderança

Talvez o aspecto que tenha uma relação mais direta entre as jurisdições analisadas seja o relacionado com as necessidades de liderança visionária que se necessita neste momento, à luz dos desafios significantes que enfrentam as firmas legais, tanto aqui como no resto do mundo.

A questão estratégica é muito mais significante que no passado. Não se trata simplesmente de eleger tal ou qual cliente, ou crescer mais ou menos ou outra das opções que normalmente se consideram estratégicas. O que está em jogo agora é a discussão do modelo de negócios, as bases que fazem o funcionamento e rentabilidade das firmas e o tipo de relação que se precisa ter com os clientes. Se bem estas questões não estão sempre explícitas nas discussões estratégicas na região, se encontram implícitas dentro das análises e discussões dos sócios.

Se, como diz Kleman, ademais é necessário enfrentar as tensões geracionais como nunca antes na história, num negócio cuja base são justamente profissionais resistentes a ser gerenciados e que levam usualmente uma pegada fortemente individual, é fácil coincidir que estamos frente a um cenário bem complexo.

O final: os clientes

Não posso deixar de coincidir fortemente com Kleman: a chave para navegar nestas mudanças é concentrar-se fortemente nos clientes, no serviço, e na qualidade. Eles são a origem das firmas, e também a finalidade.

¡Boa sorte com os desafios que o 2016 trouxer!

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