O adeus a Dilma e a uniformidade das culpas

El adiós a Dilma y la uniformidad de las culpas
El adiós a Dilma y la uniformidad de las culpas
Fecha de publicación: 17/04/2016
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Cada voto se sentia como um prego mais na tampa do ataúde do legado político de Lula da Selva. A sessão por meio da qual a Câmara de Deputados do Congresso do Brasil confirmou o impeachment à presidente Dilma Rousseff transcorreu lentamente. Não podia ser de outra maneira. Cada representante dava um breve discurso para acompanhar seu voto. Quem votou “sim” se apoiava na palavra “justiça, ” a diferença dos que se decantaram pelo "não” que insistiam na muleta “democracia. ” Houve vaias, vítores, insultos, e incluso um breve e tenso episódio no que o deputado Jean Wyllys cuspiu no conservador Jair Bolsonaro. Mas aparte disto, não houve maior surpresa. Esperava-se que a moção fosse aprovada, e assim ocorreu: com 367 votos a favor e 137 em contra (7 abstenções).

Agora a decisão que poderia despojar a Rousseff da presidência enquanto for investigada, fica em mãos do Senado.

Além de Dilma e o legado de Lula, se a presidente for removida de seu cargo, este seria um novo golpe (senão o mortal) à coalisão de presidentes que, sob pretextos de lutas sociais e igualdade que facilitam as ideologias de esquerda, lograram o poder na América do Sul e desperdiçar um dos booms econômicos maiores que tem visto a região.

Assim, o poder executivo brasileiro seguirá a sorte de Cristina Kirchner na Argentina, e do parlamento chavista na Venezuela, e das pretensões de perpetuidade da presidência de Evo Morales na Bolívia. Assim como faz 17 anos a tendência na região foi a de enquadrar-se detrás de “família fortes, ” agora, em tempos de vacas magras, parecesse que uma epidemia de sentido comum tem gerado um impulso que busca desmantelar estes regimes pseudoautocráticos e desvelar as redes de corrupção que os mantinham em funcionamento.

A tendência regional é mudar a forma como se tem feito negócios em nossos países desde o século passado. E esta leitura tem que ser entendida claramente pelas autoridades do sistema de justiça brasileiro, e as pessoas que vaiam conformar um muito possível novo governo. Se bem o impeachment a Dilma é palpável como um passo na direção correta, também é certo que a remoção de um presidente é uma prova de fogo para as instituições de um país.

Essa maneira de fazer negócios, que se presta para os favores e a corrupção, tão típica na Venezuela, Argentina, e Brasil, tem sido o modus vivendi de muitos políticos em nossos países. Como é bem sabido, alguns dos deputados que votaram a favor do impeachment à presidente Rousseff têm sido investigados ou assinalados por estarem implicados em escândalos de corrupção ou malversação de fundos. Assim, a depuração do sistema tem que ser uniforme.

Se se estão realizando investigações e processos pelos atos de corrupção que transcendem às parcialidades políticas, não pode ter tratamentos especiais. Do contrário, corre o risco de expor-se ao germe da antipolítica. Em momentos tão delicados como o que atravessa o Brasil, a cidadania é especialmente susceptível de perder confiança no sistema, e buscar alternativas que percebem como frescas e diferentes, mas que em realidade são parte do mesmo ciclo do qual estão tentando sair.

A antipolítica é terreno fértil para o caudilhismo.

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