“Fomos para o confinamento pensando que a crise seria pior do que efetivamente foi”

Fernando Eduardo Serec, 57 anos, é o CEO do escritório desde 2014
Fernando Eduardo Serec, 57 anos, é o CEO do escritório desde 2014
Fernando Serec, CEO do TozziniFreire Advogados, explica porque o mercado jurídico brasileiro não será tão afetado pela pandemia.
Fecha de publicación: 30/07/2020
Etiquetas: Brasil

Ele é o primeiro managing partner do TozziniFreire Advogados depois que José Luis Freire, um dos sócios fundadores, se aposentou. Fernando Eduardo Serec, 57 anos, é o CEO do escritório desde 2014. O advogado é head de contencioso e arbitragem, área que é uma das meninas dos olhos da firma, que hoje está entre os grandes players do mercado jurídico brasileiro.

Numa conversa com LexLatin, Serec falou das perspectivas para o mercado legal em 2020. E foi enfático ao explicar que, mesmo com a crise, o setor deve empatar em faturamento com 2019. Ele ainda prevê um boom de operações e novos negócios para os escritórios em 2021.

O que representa para você ocupar a direção do escritório depois da saída dos sócios fundadores?

Fernando Serec: O José Luis deixou de ser CEO do escritório em 2014 e passou a ser nosso CEO emérito. Portanto, quando de sua aposentadoria (2016) ele já havia deixado suas funções administrativas do escritório. Syllas Tozzini [outro sócio fundador] se aposentou antes, em 2010. Para mim foi um grande desafio, mas além do apoio do próprio José Luis tive ajuda de todos os sócios e nossas decisões são cada vez mais tomadas com a participação coletiva e atuação muito próxima do nosso comitê executivo, que na sua atual composição tem participação majoritária feminina. Além disso, a cultura implementada pelos nossos fundadores foi preservada e contribuiu em muito para que pudéssemos continuar crescendo e mantendo nossa relevância de mercado.

Uma das principais atuações do escritório é no contencioso e arbitragem. Como fica esse mercado depois da pandemia?

Fernando Serec: Vai continuar crescendo porque o número de disputas aumentou. Teremos um grande número de casos esse ano e em 2021. Mas o escritório é full service, nos alimentamos muito de operações e de casos gerados por outras áreas, como corporate, compliance e antitruste.

Qual a expectativa na área de contencioso?

Fernando Serec: É um mercado que só cresce, absorvemos profissionais e temos que buscar. Não conseguimos formar todo mundo dentro do escritório, então temos contratado bastante gente.

Do ponto de vista de receita, eu diria que tem uma tendência de aumento de pelos menos 20 a 25% em relação ao ano passado e talvez tenhamos o mesmo crescimento em 2021.

Que outras áreas vão crescer neste momento?

Fernando Serec: Muitas transações de M&A foram adiadas ou canceladas, por exemplo, mas já vimos uma retomada das operações. Acho que corporate tem uma tendência a crescer neste segundo semestre e no ano que vem, acho que puxada também por oportunidades no mercado brasileiro. Os ativos estão mais baratos por causa do câmbio e avaliações baixas, pelo menos em relação a moedas mais fortes.

Vamos ter um apetite do investidor estrangeiro. Haverá oportunidades por conta da situação de algumas empresas. Está em todos os jornais o movimento de busca de ativos da empresa de telefonia Oi por empresas de fora. Investidores estrangeiros estão olhando para o Brasil. Os chineses estão com apetite de buscar oportunidades, mas eu não diria que são só eles, temos também americanos e europeus também.

Acho que mercado de capitais, se não bombar no segundo semestre, bomba no ano que vem, porque já temos um volume maior de operações. Continuamos com muita demanda nas áreas tradicionais: contencioso, trabalhista, o próprio tributário com bastante coisa. Compliance você teve um ou outro projeto adiado, mas continuamos trabalhando bastante e também área de concorrencial com muita demanda.

E a área de tecnologia, como está?

Fernando Serec: Temos uma conta muito importante com o Facebook, que vai nos dar muito trabalho, com um número enorme de advogados envolvidos no projeto de eleições deste ano. E atendemos outros clientes importantes na área de tecnologia que também têm demandado um volume grande de trabalho: WeWork, Uber, Quinto Andar e muitos outros.

Você falou num assunto importante que temos discutido por aqui também, as eleições. Que tipos de demanda os escritórios de advocacia terão?

Fernando Serec: Trabalhamos para o Facebook há um bom tempo em eleições. Essas serão especiais, porque teremos uma diminuição da propaganda física, de palanque e ruas. Ela vai ser muito intensa em mídias sociais. Isso acaba trazendo algumas questões de direito eleitoral para o campo de litígio.

Muitas vezes o Facebook, que não é parte no processo, tem que tomar alguma providência em relação a algum tipo de disputa entre outras partes. Acompanhamos ainda as discussões relacionadas às fake news, tanto no Congresso [que debate uma legislação a respeito] quanto no Judiciário [com os inquéritos no STF e TSE].

Os chineses hoje são o nosso principal mercado e destino de exportações. Qual é, na sua opinião, a “galinha dos ovos de ouro” para eles e qual o papel dos escritórios nesse processo?

Fernando Serec: Acho que as áreas de infraestrutura, concessões e telecom. Ainda haverá investimento em energia, principalmente sustentável. Eles podem olhar até para outras áreas em função dessa situação de preço baixo de ativos no Brasil. Acredito que deveremos ter alguns players novos no mercado brasileiro por conta disso, se não em 2020, em 2021.

A retomada então já está acontecendo neste segundo semestre para as firmas brasileiras?

Fernando Serec: Voltam alguns projetos grandes, mas apostaria mais em 2021, que vai ser bastante importante para todos os escritórios. Começa neste segundo semestre, mas vamos ter ainda algumas restrições. Acho que a situação da pandemia pode segurar um pouco. Eu apostaria minhas fichas num boom em 2021.

Qual o tamanho da crise para os escritórios em 2020? Teremos lucros menores ou prejuízos?

Fernando Serec: Começamos o ano muito entusiasmados. Acreditávamos que esse boom que vejo em 2021 seria nesse ano. Conseguimos tanto do lado dos fornecedores quanto dos clientes boas negociações, o que nos garantiu um fluxo de receita contínuo e uma redução de despesas.

Devemos ter um ano bom. Não será um ano do ponto de vista de receita que a gente projetou. Mas será um ano de lucro provavelmente parecido com 2019, essa é a minha expectativa.

Do ponto de vista remoto temos conseguido fazer marketing, vender nossos serviços, ficar perto dos clientes. Assuntos novos chegam a todo momento, mas não vai ser aquele ano que projetamos, tínhamos uma expectativa maior.

Você está dizendo que o mercado jurídico brasileiro não vai sentir o peso da crise?

Fernando Serec: Fomos para o confinamento pensando que a crise seria pior do que efetivamente foi. Se formos comparar com outros setores, confirmando esse cenário, sendo igual ao do ano passado, não podemos reclamar de jeito nenhum.

O que a pandemia muda em termos de processos e atuação de advogados e escritórios?

Fernando Serec: Acabou o preconceito em relação ao home office. Eu mesmo confesso esse preconceito. Virou realidade, teremos um grande número de pessoas ainda trabalhando de forma remota por um bom tempo.

Investimos um bom volume de recursos em segurança [de dados] nos últimos anos e isso se provou importante ao você sair para o home office.

Percebemos que algumas reuniões são mais eficientes realizadas de forma remota. Um exemplo é nossa plenária de sócios que fizemos esses dias, com diversos temas de discussão. Um encontro que demora até 4 horas foi feito em duas, esgotando todos os temas da pauta.

Tem eficiência nesse processo, mas sentimos falta do contato físico ou de estar próximos das pessoas e dos clientes. No virtual, às vezes, temos que provocar algumas discussões para que elas aconteçam. Foi um treinamento intensivo esses mais de 100 dias de confinamento.

Entre advogado e cliente você tem que estar muito próximo, entender o negócio e saber o quanto ele foi afetado na crise. Ceder naqueles momentos em que é preciso, sabendo que ele vai te valorizar lá na frente em função desse trabalho que você fez e que teve que conceder alguma coisa. Acabamos ficando muito mais próximos de muitos clientes neste momento.

O que o mundo jurídico pode fazer para melhorar o mundo no pós-pandemia?

Fernando Serec: Acho que falar mais abertamente da questão da diversidade em todos os aspectos: a racial, a questão LGBTQIA+, mulheres, refugiados, pessoas com deficiência. São bandeiras muito caras ao escritório e que vamos continuar perseguindo. Acho que tem trabalho pro bono também relacionado à inclusão e diversidade, mas também muitos outros que queremos intensificar e continuar a fazer: projetos relacionados à responsabilidade social e voluntariado.

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