Carlos Souto: "O Brasil precisa de mais segurança jurídica e institucional"

“O nível de complexidade dos temas aumentou com a pandemia”
“O nível de complexidade dos temas aumentou com a pandemia”
Managing partner do Souto Correa Advogados fala da necessidade de um ambiente de negócios que favoreça o crescimento do país.
Fecha de publicación: 05/11/2020

Ele é multidisciplinar e tem conhecimento de áreas chave no mundo jurídico. Carlos Fernando Souto, managing partner do Souto Correa Advogados, é especializado em tecnologia, setor financeiro, energia, bens de consumo e indústrias de manufatura. A expertise nesses setores fez com que o advogado se especializasse em operações complexas, algo muito valorizado nesses tempos de pandemia.

 

Em uma conversa com LexLatin, o CEO fala da conjuntura dos negócios no Brasil, da importância da boa governança nas empresas e firmas, das questões governamentais que precisam ser enfrentadas e da necessidade de um ambiente de negócios que favoreça o crescimento do país.

 

Você teve Covid no começo da pandemia, como foi passar por esta experiência e o que ela trouxe de lição para sua vida e para o exercício da profissão?

 

Foi uma experiência diferente, tanto pelas dúvidas sobre as consequências dos sintomas e o tratamento de saúde quanto pela necessidade de conduzir a vida naquele momento. Eu não tive sintomas leves, mas não precisei de internação. 

 

Precisamos acreditar nas pessoas e em pessoas, pensarmos em médicos, colegas de escritório, acreditar em tudo aquilo que tem estrutura e capacidade de ser autogerido, que conseguimos ter assistência e apoio de gente qualificada. É preciso ter calma e serenidade  nestes momentos e  entender que há aqueles que dão sustentação nas horas de dificuldade, além de identificar quais os caminhos para resolver os desafios. 

 

O que ficou para você das pessoas neste momento de crise?

 

Vi uma coragem muito grande, nível de engajamento e espírito empreendedor. O nível de contribuição foi impressionante, as pessoas ajudando o escritório, apoiando as iniciativas, sendo participativas e todas elas se dedicando a estar próximas dos clientes, porque não era um problema só nosso, era de todos.

 

Como é ser uma firma do Sul do país se expandindo para outras regiões e quais são os desafios e possibilidades para os escritórios de advocacia a partir de agora?

 

Com juros mais baixos, precisamos buscar novos investimentos e alternativas para todo mundo. Notamos um crescimento de todas as iniciativas e práticas que procuram a realocação de recursos e de investimentos: iniciativas societárias, de M&A, planejamento tributário e uma série de aspectos vinculados a novos investimentos, como startups e a procura do capital com novas inciativas que gerem potenciais ganhos de rentabilidade.

 

Por outro lado, há a necessidade de administrar as consequências negativas da pandemia. E aí entra novamente planejamento tributário, a grande demanda de legislação trabalhista, renegociações, contratos, muitas negociações e questões pertinentes à interpretação de contratos, restruturação de negócios, direito imobiliário e sucessório e uma organização do planejamento de holdings familiares bastante profundas.

 

Eu não sei se tem uma particularidade do mercado regional, não consigo identificar no que diferencia em relação a São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.

 

Questões de direito sucessório cresceram então com a pandemia?

 

Carlos Souto

Muita gente se preocupou em organizar o patrimônio e a governança das empresas. Foi preciso revisitar este tema para ver se ele está bem estruturado, além de  empresas que estão fazendo esforço societário e de abertura de capital. A necessidade é de deixar todas essas coisas organizadas, pensando em sucessão, em perenidade e continuidade de uma  maneira bastante clara.

 

O cliente está demandando mais de vocês, buscando outras coisas que ele não procurava antes da pandemia? 

 

No nosso mercado a proximidade  é necessária. Notamos que aumentou, nesse momento, o nível de complexidade dos temas. Não se trata apenas de complexidade jurídica, mas também de complexidade econômica. Tem questões centrais para as empresas que impactam o negócio profundamente. 

 

Quais são essas questões?

 

Várias empresas estão passando por uma grande crise na pandemia: a indústria do entretenimento, hotelaria e aviação, entre outros. Com isso, questões que demandariam negociações que seriam mais triviais ganham uma emergência, urgência e complexidade. Então precisamos ter uma resposta rápida e precisa para o cliente, contemplar o contexto e entender o que nós estamos fazendo ali naquele momento para fazer com que as coisas funcionem e o cliente consiga receber o guidance que é necessário para ele dar conta daquela questão. 

 

Mais setores do escritório estão precisando se envolver em questões complexas? 

 

As questões se tornaram mais complexas pelo contexto e aí a multidisciplinaridade está perfeita. Acho que esta proximidade do advogado com o cliente, compreendendo o negócio, mas sobretudo dando uma relação de confiança, ganha uma importância muito grande, muito especial. O cliente sabe com quem ele está tratando, seja pela placa do escritório, pela questão institucional, por um advogado que esta ali representando aquela placa. Acho que em momentos assim, mais delicados, isso tem um peso diferente e é quando a gente vê ao vivo e à cores o resultado do investimento institucional, do peso institucional, na questão da governança, da estrutura de confiança no nível de abertura do diálogo e na qualidade das respostas trocadas com o cliente. Esses aspectos passam a ser universais. 

 

Falando um pouco da sua área de atuação, você trabalha com tecnologia, financeiro, energia, bens de consumo e indústrias de manufatura. Como equalizar todas essas expertises?

 

Minha história de vida é de múltiplas áreas. Conforme o tempo foi passando me concentrei mais na área societária e na administração de projetos complexos. Participo administrando essa relação e apontando os talentos do escritório conforme a especificidade das questões que se apresentem. Sou administrador de projetos complexos, mas com um viés mais societário para M&A e contratos. 

 

Quais projetos teremos nos próximos meses que vão envolver múltiplas áreas?

 

Os projetos que estou mais envolvido neste momento são: de aquisição, de organização societária de empresas que estão abrindo capital, de negociação de investimentos de fundos de infraestrutura, buscando já capital estrangeiro e oportunidades no Brasil, acompanhando projetos de desregulamentação para concessões. Pensando em voz alta, são projetos de porte com atração de investimentos de novos recursos com oportunidades de expansão em busca de mais retorno.

 

Falando de investimento estrangeiro, o Brasil está barato e o dólar está se valorizando frente ao real. Como está essa negociação com o investidor estrangeiro? Eles estão interessados, apesar de algumas turbulências que estão acontecendo? 

 

O Brasil está barato para quem entra, mas está caro para quem sai. E aí a grande questão é de segurança institucional. Nós temos um país que, historicamente, independentemente de quem está no poder e qual a cor partidária, que teima em não dar uma mensagem institucional que gere a possibilidade se ter uma segurança de longo prazo.

 

De outro lado, com a redução da taxa de juros, deixou de ser um país para uma oportunidade financeira. Então tem investidores que têm conversado conosco, ainda que conhecendo um pouco destes riscos, e estão começando a ficar dispostos pela possibilidade de ganho, pela lógica do investimento e fazendo investimento mais pela questão cambial, uma vez que converte em real, para voltar vai ser caro. O Brasil precisa de mais segurança jurídica e institucional, ainda tem uma imagem muito arranhada, de muita insegurança, o que faz com o nosso crescimento e nossa expansão fiquem contidos e andem numa velocidade lenta. Mas começa a ter algum tipo de negociação nesse sentido.

 

Então é menos especulação e mais investimento no setor produtivo? 

 

Exatamente. 

 

Quem é que é esse investidor, quem está procurando vocês?

 

Investidores americanos e europeus, mas nós temos clientes chineses também que estão vindo.

 

O que eles querem comprar?

 

Concessões nas áreas de energia, saneamento e 5G. Mas o quadro de carência do Brasil é toda a infraestrutura. Saneamento é uma tremenda oportunidade, assim como energia limpa, óleo e gás. A eólica tem muita coisa que estamos fazendo agora. A solar também vai ter um campo muito grande, além de contratos de distribuição e gás.

 

O investidor antes entrava para especular e agora está investindo nessa infraestrutura mais duradoura. O quanto isso pode transformar nossa economia nos próximos anos?

 

Carlos Souto

Pode transformar de maneira profunda, se conseguirmos ter uma segurança jurídica e uma estabilidade institucional tanto para manter juros mais baixos e ter confiança nas instituições. Poderemos ter um país mais capitalista no lado positivo, com mais progresso, investimento, poupança e livres trocas. Fazer esse dever de casa vai permitir que tenhamos um país muito mais rico e pessoas com qualidade de vida em todos os sentidos.

 

Qual a importância dos IPOs que estão acontecendo neste momento?

 

A capitalização reforça o caixa, permite novos investimentos e é algo que não é tão caro e arriscado. É um jogo de ganha-ganha para as empresas e potenciais investidores.

 

As companhias mais sólidas, mais ágeis e que tenham confiança institucional podem surfar ondas de oportunidade devolvendo retornos para investidores, algo que eles não encontrariam de outra maneira. Tem janelas abertas e oportunidades muito boas que virão pela frente.

 

Como você vê as discussões sobre tecnologia e dados no meio jurídico e no mercado brasileiro?

 

Essas transformações aceleradas podem ser fundamentais para a sobrevivência das organizações. Os mundos de plataformas e ecossistemas vão transformar muitas empresas e procedimentos como estamos habituados.

 

A LGPD é uma maneira de universalizar um tipo de cuidado com dados de clientes e observa uma lógica internacional. O grande cuidado é não confundirmos a necessidade de disrupção e de transformação o tempo todo. É preciso ter uma visão mais ampla, de que o ecossistema contemple o fortalecimento daquilo que é a nossa essência e que converse com aquilo que tem de ser preservado. É uma capacidade de reinvenção e aprendizado permanente.

 

Dessa vez vamos pegar o trem da oportunidade e aproveitar as mudanças que a tecnologia nos traz para produzir novos produtos e serviços para o mercado?

 

Historicamente estamos sempre atrasados. Só que esse trem agora é mais rápido, o mundo é muito líquido. O distanciamento entre os que mais podem e os que menos podem tenderá a aumentar se não fizermos o dever de casa. E esse é um risco que estamos correndo no Brasil hoje.

 

O fortalecimento institucional, a confiança nas instituições, a segurança jurídica, o respeito aos contratos, a diminuição dos custos públicos é fundamental, porque senão esse trem que insistimos em perder daqui a pouco não vai ter nenhuma parada que possamos entrar.

 

O que o Carlos Souto agrega ao mercado jurídico brasileiro?

 

Eu contribuo para o fortalecimento de uma instituição que busca oferecer aos seus profissionais uma oportunidade para aproveitar o seu potencial ao máximo e, ao fazer isso, desenvolver pessoas e relações com clientes, melhorar o ambiente onde o escritório está e com isso essas pessoas proporcionam um melhor ambiente para todos.

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