Teich: defesa do uso da cloroquina pelo governo e a falta de autonomia motivaram saída do Ministério da Saúde

Ex-ministro da saúde presta depoimento desde as 10h da manhã/Jefferson Rudy/Agência Senado
Ex-ministro da saúde presta depoimento desde as 10h da manhã/Jefferson Rudy/Agência Senado
Ex-ministro da saúde prestou depoimento por mais de 6 horas/Jefferson Rudy/Agência Senado
Fecha de publicación: 03/05/2021

 

Nesta quarta-feira (5), o ex-ministro da saúde Nelson Teich depôs na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, criada para apurar as ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia. O ministro ocupou o cargo por menos de um mês: entrou em 17 de abril e saiu em 15 de maio de 2020. Teich afirmou que saiu do governo porque não tinha autonomia para exercer o cargo. E deixou claro que discordava de tratamentos sem eficácia comprovada.

“As razões da minha saída do ministério são públicas, elas se devem basicamente à constatação de que eu não teria autonomia e liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da Covid-19”, afirmou.


Veja também: CPI da Covid é instalada no Congresso e senador Renan Calheiros assume relatoria


“Existia um entendimento diferente por parte do presidente, que era amparado por outros profissionais. E isso foi o que motivou a minha saída. Sem a liberdade para conduzir o ministério, optei por deixar o cargo”, complementou.

O ministro ainda afirmou que o estopim do pedido de demissão foi a partir da decisão do governo de ampliar o uso da cloroquina. “Era um problema pontual”.

Quando questionado sobre a posição do Conselho Federal de Medicina (CFM) em relação à cloroquina, o ministro declarou ser contrário. “Eu acho que é uma postura inadequada que pode estimular o uso de um medicamento que não foi comprovado, em condições que o paciente pode estar mais exposto a não ter os cuidados necessários para o uso do medicamento”, afirmou.

Teich disse que não participou da decisão de produção de cloroquina e que se aconteceu foi fora do seu conhecimento. “É uma conduta que, pra mim, é tecnicamente inadequada. Isso é para qualquer medicamento. Existe uma metodologia para você incorporar um medicamento”, explicou.

A respeito do responsável pela pressão em adotar o protocolo do medicamento, Teich afirmou que é informação pública que existia um desejo do presidente da República envolvido. 

Teich também disse que colocava claramente a questão de uma possível “segunda onda” na época em que estava a cargo do Ministério da Saúde. Ele ressaltou que ainda existe um grande grau de incerteza sobre a doença. Agora existem agravantes com o surgimento de variantes. Não sabemos como elas respondem à vacina, nem como respondem à reinfecção. Não sabemos como vai evoluir, nem quando a pandemia vai acabar.

“A minha estratégia era para bloqueio de transmissão combinando tudo: testagem, isolamento, rastreamento, quarentena [...] Esse programa de isolamento, testagem, rastreamento, é importante que seja feito agora. Quando os casos começarem a acabar, nada impede que surja uma outra variante e você pode voltar para o momento inicial”, afirmou.

O ex-ministro destacou que sua passagem curta pelo Ministério não possibilitou o desenvolvimento desses projetos de controle da transmissão do vírus.

Sobre a indicação do seu sucessor, Eduardo Pazuello, Teich disse que foi feita pelo presidente Bolsonaro. “Eu conversei com ele [Pazuello], ouvi o que ele tinha para falar, da experiência dele e me pareceu que, naquele momento, quando eu precisava ter uma agilidade muito grande na parte de distribuição, me pareceu que ele poderia atuar bem”. Depois ele afirma que "na posição de ministro, eu acho que seria mais adequado um conhecimento maior sobre gestão em saúde”.

Pazuello, que esteve por mais tempo no comando do ministério desde que a pandemia começou, iria depor nesta quinta-feira (6). Mas em um comunicado ele disse que teve contato com pessoas contaminadas pelo coronavírus e o depoimento dele ficou para 19 de maio.

A previsão é de que o atual ministro, Marcelo Queiroga, fale na quinta-feira (6), a partir das 10h, mesmo dia em que está agendado o depoimento do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, que tem previsão de falar à CPI às 14h. Todos vão comparecer ao Senado na condição de testemunhas.


Leia também: País chega a 400 mil mortos pela Covid-19 e Bolsonaro critica isolamento


Depoimento de Mandetta

Na terça-feira (04), o ex-ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta expôs a proposta que teria sido feita em reunião com vários ministros de editar a bula da cloroquina na Anvisa, colocando a indicação do medicamento para coronavírus.

“O próprio presidente da Anvisa, Barra Torres, que estava lá, falou: ‘Isso não’. E o ministro Jorge Ramos falou: ‘Não, isso daqui não é nada da lavra daqui. Isso é uma sugestão’. Mas é uma sugestão de alguém. Alguém pensou e se deu ao trabalho de botar aquilo num formato de decreto. Eu imagino que ele construiu fora do Ministério da Saúde alguns aconselhamentos que o levaram para essas tomadas de decisões que ele as teve, mas eu não saberia nomear a cada uma delas”, disse Mandetta.

Add new comment

HTML Restringido

  • Allowed HTML tags: <a href hreflang> <em> <strong> <cite> <blockquote cite> <code> <ul type> <ol start type> <li> <dl> <dt> <dd> <h2 id> <h3 id> <h4 id> <h5 id> <h6 id>
  • Lines and paragraphs break automatically.
  • Web page addresses and email addresses turn into links automatically.