Como a Covid afeta cenário econômico em 2021

Quais os desafios a serem enfrentados no ano II da pandemia?/Fotos Públicas
Quais os desafios a serem enfrentados no ano II da pandemia?/Fotos Públicas
Pandemia tornou ainda mais evidente a terrível desigualdade brasileira.
Fecha de publicación: 13/01/2021

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A Covid-19 e o combate aos efeitos da pandemia estarão no centro do cenário econômico em 2021. A queda expressiva do PIB no último ano e os aumentos do desemprego e da inflação representam uma realidade que precisa ser enfrentada e alterada. Por ora, no entanto, o quadro geral é de desalento.

Vacinação e economia - no atual cenário, a vacinação é elemento fundamental para qualquer previsão econômica, em todo o planeta. O Brasil não foge à regra. Indo além, a questão não se encerra no curto prazo. A evolução das condições da saúde da população determinará as projeções para os anos subsequentes.

No caso brasileiro, a incerteza ainda dá o tom. O governo federal, em especial o Ministério da Saúde, não age com clareza quanto ao processo de vacinação no país. Não se sabe ainda sobre datas e critérios. A politização da pandemia apenas piora o quadro.

Assim, é inevitável a pressão de setores da economia sobre o titular da Saúde, Eduardo Pazuello. Executivos de dezenas de grandes grupos empresariais trabalham no sentido de convencer o ministro de que a vacina, não importa qual, é fundamental para a retomada do crescimento. Não existe caminho alternativo e o fator tempo, nesse caso, agrava a situação.

Auxílio emergencial - talvez o grande drama de 2021 seja o fim do auxílio emergencial, implementado ano passado em decorrência da pandemia. Segundo dados preliminares, sem o auxílio e nada para substituí-lo, cerca de 3,5 milhões de brasileiros cairão para a condição de extrema pobreza - totalizando mais de 17 milhões nessa situação. O Brasil, assim, atingiria o pior patamar de pobreza desde 2012, quando se iniciou a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.

As consequências sociais e políticas do fim do auxílio emergencial são enormes. O sofrimento das famílias será palpável, e não pode ser descartado o aumento dos índices de violência. Para o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que almeja a reeleição, a popularidade aferida hoje pelos institutos de pesquisa deverá recuar. O quadro geral é tenebroso.

PIB, dólar, inflação e desemprego - a inesperada pandemia reverteu as expectativas iniciais e o PIB brasileiro registrará queda de mais de 4% em 2020. Para 2021, a princípio, as expectativas são tímidas. O mercado prevê expansão de cerca de 3%, mas a possibilidade de uma segunda onda da Covid-19 nos primeiros meses do ano poderá rebaixar esse valor.

O real foi a moeda que mais se desvalorizou em relação ao dólar em 2020. Em uma lista de trinta países, a moeda norte-americana teve alta de 40% em relação à brasileira. A falta de perspectiva de crescimento do Brasil, a política ambiental de Bolsonaro e a difícil situação fiscal estão entre os motivos para a queda do real - um quadro que dificilmente mudará em 2021.

A inflação fechou 2020 em 4,52%, a maior desde 2016 (6,29%), segundo dados do IPCA divulgados pelo IBGE. O índice ficou acima do centro da meta, que era de 4%. Os alimentos, muitos da cesta básica, tiveram grande peso nesse resultado, ou seja, as famílias mais pobres sentiram mais o aumento do custo de vida. Em 2021, a expectativa é de que o IPCA fique entre 3,2% e 3,5%.

O desemprego segue assombrando o brasileiro. De acordo com o IBGE, são 14,1 milhões de brasileiros sem ocupação, um índice de 14,6%, o maior da série histórica. Não estão computados, porém, os subempregados e aqueles na condição de desalento, que desistiram de procurar emprego. O quadro geral é de difícil reversão a curto e médio prazos.

Investimentos do governo - o que já estava ruim deve piorar. O aumento das despesas com benefícios previdenciários e assistenciais reduzirá significativamente os investimentos públicos. Em agosto, projetava-se o valor de R$ 28,6 bilhões para obras e afins, o menor em quinze anos. Agora, na sequência do reajuste do salário mínimo, esse montante será revisado para baixo.

Economistas de diferentes correntes afirmam que, dadas as restrições fiscais, o total do orçamento que sobrará para investimento será residual. Para tornar a situação ainda mais dramática, o Brasil segue padecendo de velhos problemas, como falta de planejamento e execução falha. O país paga essa conta.

5G - previsto para ocorrer ainda no primeiro semestre, o leilão de tecnologia 5G atrai as atenções de muitos. Os benefícios decorrentes são diversos - internet 100% mais veloz e possibilidade de mais aparelhos móveis se conectarem ao mesmo tempo, com maior estabilidade. A economia como um todo ganha muito com o 5G.

A disputa se dará entre empresas de todo o mundo, e aqui entra a questão envolvendo a chinesa Huwaei. A participação da companhia na implantação de redes de 5G tem sido alvo de críticas, que tem como centro o governo Trump, que vive seus últimos dias de presidente. A polêmica chegou ao Brasil, com integrantes do governo Bolsonaro questionando a idoneidade dos chineses, em linha com a agenda ideológica da atual administração. As operadoras de telefonia, por sua vez, são favoráveis à Huawei, que já fornece equipamentos para a telefonia móvel do país, sem maiores problemas. Uma possível saída da Huawei no atual estágio traria prejuízos ainda a ser calculados por conta da necessária substituição de equipamentos.

“Efeito Ford?” - a rigor, a decisão da Ford de fechar suas três fábricas instaladas no país têm diversas motivações - estratégia empresarial, situação do setor automotivo, conjuntura econômica brasileira, entre outras. No entanto, dada a realidade nacional, o movimento acendeu uma luz amarela. Afinal, estaria em gestação um quadro de êxodo industrial no Brasil?

É cedo e, de certo modo, alarmista se afirmar que tal cenário começa a se desenhar no horizonte. No entanto, há de se prestar atenção ao quadro, pois outras multinacionais deixaram recentemente o Brasil, como os laboratórios Roche e Lilly, a fabricante de câmeras Nikon, a montadora Mercedes-Benz, a cervejaria Brasil Kirin e a Sony.

O fato é que a política brasileira de subsídios e proteção à indústria está absolutamente ultrapassada. Aqui bate-se numa antiga tecla - as reformas são urgentes, assim como o estabelecimento de um ambiente de negócios mais saudável e a melhoria do nível educacional da população. Caso o Brasil continue no atual estágio, outros grandes grupos podem seguir o exemplo da Ford e buscar países com melhores atrativos para investimentos.

Considerações finais - “é a economia, estúpido!”. A frase, supostamente cunhada pelo então assessor de Bill Clinton, James Carville, segue mais atual do que nunca. A situação econômica da população determina, em larga medida, os rumos da política. O Planalto talvez não saiba dos riscos que corre ou finge não os temer.

A pandemia tornou ainda mais evidente a terrível desigualdade brasileira. As perspectivas para 2021 não são das melhores. Podemos estar iniciando um “2020, parte 2”.

*André Pereira César é cientista político.

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