Pandemia: o que não mata fortalece!

As crises são darwinistas e demonstram que os que sobrevivem não são os maiores ou melhores, mas sim os que melhor se adaptam/Pixabay
As crises são darwinistas e demonstram que os que sobrevivem não são os maiores ou melhores, mas sim os que melhor se adaptam/Pixabay
Inovar se tornou a palavra de ordem para empresas e até profissionais autônomos.
Fecha de publicación: 24/08/2020

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Em meio a todos os transtornos causados pela pandemia, inovar se tornou a palavra de ordem para empresas e até profissionais autônomos. No susto, do dia para a noite, rotinas foram totalmente alteradas e pessoas de todo o mundo se viram obrigadas a se reinventar para sobreviver. Por mais difícil que tenha sido nas primeiras semanas, hoje já começam a surgir relatos que comprovam o quanto as coisas mudaram – e muitas para melhor!

Existe um fenômeno na biologia que explica esse efeito, a hormese. Observado pelo toxicologista alemão Hugo Paul Friedrich, em 1888, o fenômeno revelava que pequenas doses de veneno estimulavam o crescimento do fermento. Por outro lado, doses maiores causavam prejuízo. De lá para cá, muitas indústrias, como a de pesticidas, fertilizantes e até medicamentos se valeram dessa lógica. Não por acaso existe um senso comum de que o que diferencia o veneno do remédio é a dose. Da mesma forma, podemos concluir que, aquilo que não mata, fortalece.

E o que isso tem a ver com o momento atual? Tudo! Excluindo, obviamente, a tragédia humanitária que a Covid-19 vem causando em todo o mundo, podemos observar que muitas pessoas e empresas usaram o momento ruim para criar oportunidades. Estão surgindo várias reportagens com histórias de brasileiros que usaram o auxílio emergencial para abrir seus próprios negócios. Ou seja, a água batendo no nariz fez muita gente se mexer!

Isso me lembra o conto da vaca no penhasco. Reza a lenda que mestre e discípulo caminhavam por uma área muito pobre, quando se depararam com uma humilde casinha. Ali, tudo que a família tinha era uma magra vaca leiteira. Sem hesitar, o mestre ordenou que o discípulo empurrasse a vaca no penhasco, acabando com a única fonte de sustento da família. Relutando, o discípulo acabou cumprindo a ordem de seu mestre. Algum tempo depois, o mesmo discípulo, andando por aquela região avistou uma bela e confortável residência naquele mesmo local.

Curioso e se sentindo culpado pelo destino daqueles pobres coitados, o discípulo se aproximou e perguntou ao novo morador sobre uma família muito simples que morava ali. Para sua surpresa, o morador disse que eram eles mesmos e que a família estava estabelecida ali há muito tempo! Então, o homem lhe contou que, em uma noite, um terrível acidente matou a única fonte de sustento da família, a pobre vaca leiteira. Sem alternativas, eles tiveram que começar a buscar trabalho. Descobriram suas próprias capacidades e as potencializaram, transformando-as em fontes inesgotáveis de recursos.

Histórias como essa não estão presentes apenas nos contos fictícios. Cada vez mais temos visto o quanto as crises são darwinistas demonstrando que os que sobrevivem não são os maiores ou melhores, mas sim os que melhor se adaptam. Mais que isso, eles são capazes de fazer o que a psicologia chama de sublimação, que é transformar algo ruim em algo bom. No popular, costumo chamar isso de transformar limões em caipirinhas.

No livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos”, o autor Nassim Nicholas Taleb descreve o conceito de antifragilidade. Segundo ele, embora o termo resiliência seja amplamente utilizado nos dias atuais, ele não é suficiente. Taleb diz que o resiliente resiste. O antifrágil supera e, como diz o próprio título da obra, ele tem ainda a incrível capacidade de se beneficiar com o caos.

O antifrágil tem consciência de que existem fatores externos, inesperados e incontroláveis. Ele não tenta mapear, prever, prevenir e mitigar falhas ou crises. Ao contrário, ele encara as intempéries como algo natural e parte integrante de qualquer processo. Portanto, quando elas acontecem, não são motivo de pânico, estresse ou desespero. O antifrágil busca oportunidades em meio às crises para continuar crescendo. E isso é senso de oportunidade, não de oportunismo.

*Marília Cardoso é sócia-fundadora da PALAS, de gestão da inovação.

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