Como fica o mercado de fusões e aquisições com a Covid-19 no Brasil

Escritórios de advocacia brasileiros serão afetados pela diminuição de atividades, mas crise pode ser sinônimo de oportunidades, dizem especialistas.
Fecha de publicación: 15/04/2020

A crise causada pela Covid-19 deverá ter um grande impacto no mercado de fusões e aquisições ao longo de 2020. Essa é a opinião de especialistas de mercado consultados por LexLatin. A análise leva em conta a dificuldade em realizar os acordos nesse momento de quarentena, mas também indica que a hora pode ser de grandes oportunidades para as empresas que estão com caixa. 

A mudança causada por esse período de isolamento social nem sempre é impedimento para grandes transações, com altos valores de negócios, principalmente para os maiores do setor.

O Cescon, Barrieu, Flesch & Barreto Advogados, por exemplo, realizou um dos maiores volumes de negócio nesse primeiro trimestre, com R$ 8,3 bilhões (US$ 1,58 bilhão em 15 de abril). O Mattos Filhos realizou 14 acordos e 11 foram assinados no mesmo período. Os dados foram fornecidos pelos escritórios. 

Outros que figuram entre os grandes da área são o Pinheiro Neto Advogados, o Demarest Advogados e o White & Case. 

Para Rodrigo Figueiredo Nascimento, sócio do setor de Fusões e Aquisições do Mattos Filho, com a crise haverá um rearranjo de peças corporativas. “A tendência é de que o primeiro semestre fosse muito aquecido, mas o coronavírus trouxe um elemento de surpresa e imprevisibilidade na tomada de decisões. Enquanto tiver esse cenário indefinido, isso com certeza afeta. Pararam as operações? Não, mas é um outro cenário”, diz

De acordo com Fernanda Bastos, sócia em Fusões e Aquisições do Cescon Barrieu Advogados, o ano começou animado, com várias operações acontecendo. “O primeiro impacto nas operações aconteceu no final de fevereiro e início de março. Logo depois elas começaram a ser suspensas ou reanalisadas”, explicou.

Uma das principais dificuldades apontadas pelos especialistas da área, nesse momento de quarentena, é a questão da logística das operações: reuniões presenciais e viagens, por exemplo. “Em março os bancos de investimento proibiram seus funcionários de realizar viagens, que são importantes para prospecção de investidores”, afirma Bastos.

Mas a quarentena significou também a mudança de padrão das negociações. “Seria o melhor primeiro semestre em muitos anos. Mas a crise traz um aprendizado: a capacidade do trabalho continuar de forma remota. Acredito que a forma de fazer deals (acordos) vai mudar daqui para frente”, afirma Pedro Dias, que também é sócio de Fusões e Aquisições do Mattos Filho. “Em épocas mais difíceis mudam as características das operações. A complexidade é maior”, diz

Historicamente, o setor de fusões e aquisições na região tem sido menos afetado do que outras regiões do planeta. Durante a recessão econômica de 2008, os números caíram em uma porcentagem menor do que o resto do mundo. Apesar da atividade desses países ter diminuído em 2009, saltou rapidamente de volta. A região teve um dos seus anos mais fortes no mercado de fusões em 2010, com participação de 14% das fusões e aquisições globais em volume.

Para o sócio do setor de Fusões e Aquisições do escritório Pinheiro Neto, Carlos Lima, a crise de 2020 é bem diferente da de 2008. "Agora a questão é global, de saúde, economia e política. São três crises diferentes. Vai ser mais agudo que 2008 e 2009. Mas o que aprendi é que no Brasil vivemos com mais volatilidade: chegamos no fundo do poço e voltamos. Vai depender do movimento global", analisa.

Para os analistas, enquanto o coronavírus se espalha, a região poderá sofrer mais quedas na atividade de M&A nos próximos meses. 

“Desde que começou a crise, começamos a ver uma disputa para não fechar as operações que foram firmadas antes da pandemia. As partes começaram a se apegar a pequenas coisas, para tentar sair do contrato”, afirma Bastos.

Para Suhel Sarhan Junior, especialista em Direito Empresarial e professor do Damásio Educacional, o ano de 2020 para o setor está perdido. “Acredito que a queda possa ser maior que 50%, principalmente na América Latina. A retomada só deve acontecer no segundo trimestre de 2021. Isso se a crise não se prolongar”, afirma.

Um dos setores mais afetados não só pela crise do coronavírus é o de empresas petrolíferas. A volatilidade dos preços do petróleo levou a Petrobras a retirar US$ 8 bilhões de linhas de crédito e a Covid-19 forçou a empresa adiar os prazos de venda das refinarias.

Por outro lado, o setor farmacêutico, médico e de biotecnologia (PMB, sigla em inglês) teve um dos primeiros trimestres mais fortes na região em valor no mercado de fusões.

Um dos motivos foi a aquisição de US$ 825 milhões da Hypera S.A., com sede no Brasil, da operação de medicamentos OTC na América Latina (over the counter – medicamentos muito utilizados e que não precisam de receita médica) da Takeda Pharmaceutical no Japão. Esse foi um dos maiores negócio do setor na região nesse primeiro trimestre.

Oportunidades

Para os especialistas na área, esse pode ser um bom momento para as empresas que chegaram capitalizadas na crise. Elas pode aproveitar para comprar concorrentes ou diversificar operações. 

“A crise é sinônimo de oportunidades, principalmente no setor farmacêutico. Muitas empresas não conseguiram fazer as aquisições que queriam. Quem não levou as melhores transações está com apetite”, explica Fernanda Bastos, do Cescon Barrieu Advogados. “Diversas empresas estão olhando os concorrentes, no sentido de aguardar oportunidades no curto prazo”.

Outros advogados também pensam da mesma maneira. A questão é tempo e amadurecimento. 

“O momento é de necessidade de quem está vendendo e oportunidade de quem está comprando”, afirma Pedro Dias, do Mattos Filho.

 “A oportunidade se faz num ambiente como esse. O timing da tomada de decisão ainda não está maduro. Tem a questão da saúde das pessoas. Com um pouco mais de amadurecimento e tempo muita gente vai precisar vender e muitos vão querer comprar”, analisa Rodrigo Nascimento, do Mattos Filho.

Com queda das ações de muitas empresas listadas em bolsas de valores, os valores estão abaixo do mercado. 

“Muitas empresas que estão listadas em bolsa estão com valor de mercado abaixo do valor patrimonial. É o momento de iniciar o namoro”, diz Suhel Sarhan Junior.

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