Bolsa de valores pode bater recorde histórico em 2021 com boom de IPOs

Expectativa é de que até 60 IPOs sejam realizados esse ano na B3/B3
Expectativa é de que até 60 IPOs sejam realizados esse ano na B3/B3
Pelo menos 33 companhias estão na fila para realizar abertura de capital e recursos captados podem chegar a R$ 30 bilhões.
Fecha de publicación: 16/06/2021

O mercado brasileiro de IPOs (sigla em inglês para oferta pública inicial) passa por um excelente momento em 2021. Desde janeiro, 26 companhias já abriram capital na bolsa de valores, a B3, e a expectativa é de que esse número possa mais que dobrar até o fim do ano. É que pelo menos 33 empresas estão na fila para abrir o capital. O movimento deve se intensificar entre julho e setembro, segundo os especialistas consultados por LexLatin. A expectativa é de que essas novas operações possam gerar até R$ 30 bilhões nos próximos meses .

Mas o que explica essa corrida das empresas na bolsa? Para os advogados de mercado de capitais são vários fatores: há uma grande liquidez entre os investidores, o país está barato com a desvalorização da nossa moeda frente ao dólar e novos brasileiros estão se interessando em investir no mercado de capitais, já que a taxa de juros está baixa, mesmo com o aumento anunciado pelo Copom de 3,5% para 4,25% desta quarta-feira (16).


Quer saber mais sobre IPOs? Como executar um IPO: o passo a passo para abrir o capital de uma empresa


“Esse boom não é de hoje, começou em 2019, com as empresas vindo ao mercado. Em 2020 tivemos um excesso de ofertas para os investidores avaliarem, com 80, 90 pedidos, mas somente um terço desse total recebeu aprovação [foram 28 IPOs]. Esse ano está mais cadenciado e esperamos um número parecido ou superior ao do primeiro semestre”, afirma Gustavo Secaf Rebello, sócio de mercado de capitais do escritório Machado Meyer.

IPO da C&A

“O grande problema do ano passado em comparação a 2021 foi o impacto inicial da pandemia, que fez com que o mercado ficasse completamente paralisado por aproximadamente três meses, sem que nenhum IPO fosse precificado. No entanto, passada essa fase, o ritmo voltou a acelerar, estando aberto até hoje”, explica Caio Cossermelli, sócio da prática de mercado de capitais do escritório Mattos Filho

Essa incursão de novas ações de empresas interessadas em abrir o capital ou na expansão da sua fatia de capital aberto pode chegar aos R$ 160 bilhões ao longo de 2021, na avaliação dos especialistas. O recorde histórico foi no ano passado, quando as injeções de IPOs chegaram a R$ 129 bilhões.

As companhias que estão prontas para receber a aprovação da Comissão de Valores Imobiliários (CVM) para despejar novos ativos na bolsa apostam nos resultados de seus balanços trimestrais. Essa é uma das principais formas de trazer os investidores para o jogo.

“O Índice Bovespa já superou a marca histórica dos 130 mil pontos no início de junho e podemos chegar aos 145 mil até o fim do ano. Isso traz um ânimo e tanto aos investidores. Por isso, os IPOs vão chegar num momento muito interessante do mercado. As novas empresas certamente vão desfrutar dessa onda positiva e atrair recursos”, avalia Fabiano Mariani, sócio fundador da Atrio Investimentos.

“Tem muito a ver com o desenvolvimento do mercado acionário brasileiro que já vem ganhando tração desde o início do ano passado com a queda da taxa de juros. Começamos a perceber uma movimentação do investidor para diversificar os investimentos e aí o mercado de bolsa acaba sendo uma alternativa natural. Podemos dizer que o Brasil está em evolução no mercado de bolsa e isso tem puxado os IPOs. A presença das pessoas físicas tem sido cada vez mais importante nas transações. Temos visto os IPOs sempre preocupados em fazer uma ação relevante, cuidadosa com os investidores pessoa física”, afirma Fernando Zorzo, sócio da área de mercado de capitais do Pinheiro Neto Advogados.

A previsão é de que a nova janela de IPOs envolva ações de companhias de saúde, educação, varejo, commodities e recursos naturais, além daquelas que têm algum componente de tecnologia em suas atividades, como telecomunicações (especialmente telefonia e banda larga de internet), fintechs, gestoras de recursos e empresas da nova economia de forma geral.

“Teremos um cenário de mercado bastante aquecido, que deve levar a quantidade de IPOs de 2021 a se aproximar, ou até ultrapassar o recorde histórico de 2007. Além das companhias que já se organizaram para fazer suas ofertas no segundo semestre de 2021, temos a possibilidade de ver algumas operações nas quais haja flexibilidade de timing e que originalmente foram planejadas para serem precificadas ainda no primeiro semestre, sendo postergadas em virtude da possível recuperação do mercado decorrente do avanço dos planos de vacinação e da possibilidade de aprovação de algumas reformas legais e regulatórias”, diz Caio Cossermelli. 

Além desses fatores, há outros nesse tabuleiro de xadrez do atual momento político e econômico do Brasil. Companhias que ainda não começaram a se preparar, mas que almejam um IPO no curto e médio prazo, podem vir a acelerar seus planos em razão das eleições do ano que vem, que, historicamente, deixam o mercado mais apreensivo, com possibilidades de restrições depois do primeiro trimestre.


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Outra questão importante é o desenvolvimento e a aprovação de legislações que fomentem o mercado. Uma delas é a Medida Provisória 1040/2021, atualmente em tramitação no Congresso, que tem como foco melhorar o ambiente de negócios do país. Uma das emendas em discussão é a instituição do voto plural, que permitirá que as empresas que realizem IPO vendam até 85% das ações sem perder o controle da companhia. Hoje o controle acionário fica para quem tenha mais de 50% das ações.

O Marco Legal das Startups também virou lei há poucos dias e define, entre outras regras, parâmetros para a contratação de empresas de inovação pela administração pública por meio de regras específicas de licitação. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) também trabalha numa nova regulamentação das ofertas públicas. O objetivo é modernizar, harmonizar e consolidar o arcabouço regulatório hoje formado por várias normas e orientações que foram editadas pela autarquia a partir de 2003, em especial as Instruções CVM 400 e 476.

Um dos resultados esperados é o aumento das hipóteses de ofertas públicas. Com a edição do Marco Legal das Startups, a CVM deverá, em breve, colocar em pauta regras específicas para estas empresas captarem recursos no mercado de capitais brasileiro.

Esse tipo de movimentação, de acordo com os advogados de mercado de capitais, têm função essencial na economia, seja de modo direto, pela quantidade de recursos que injetam nela, seja de modo indireto, por auxiliarem no combate ao desemprego e por acarretarem incremento na arrecadação pelo Estado.  

Cena tem se repetido em 2021

Para as companhias, o IPO representa uma fonte alternativa de funding ao mercado de crédito. “Isso serve de força motriz para seu crescimento, seja de modo orgânico, com a expansão de suas atividades e o desenvolvimento de soluções adicionais para seus clientes, ou no incremento de seu portfólio de produtos, seja de modo inorgânico, com a concretização de operações de M&A, por exemplo, destinadas à consolidação do mercado em que atuam ou para agregar negócios complementares aos que já desenvolvem. E para os poupadores e investidores, representa a possibilidade de diversificação de suas carteiras de investimentos, especialmente em um cenário de juros baixos e busca por maior rentabilidade”, afirma Caio Cossermelli do Mattos Filho.  

Tudo isso indica, já no curto prazo, um cenário de melhora do ponto de vista econômico brasileiro. “A natureza das empresas que estão ingressando ou fortalecendo sua participação na B3 contribui para um cenário otimista de novos investimentos. Porém, precisamos lembrar que o mercado está em alta, mas a volatilidade provocada pela pandemia ainda inibe o fluxo de capital para investimentos de maior risco. As empresas que estão chegando à bolsa passam a ser novas alternativas para os investidores que buscam este perfil de risco”, avalia Fabiano Mariani.


Empresas que estrearam na B3 em 2021: Getninjas (NINJ3), Dotz (DOTZ3), Infracommerce (IFCM3), Petrorecôncavo (RECV3), ModalMais (MODL11), Boa Safra Sementes (SOJA3), Caixa Seguridade (CXSE3), GPS Participações (GGPS3), Mater Dei (MATD3), Blau Farmacêutica (BLAU3), Allied (ALLD3), Eletromídia (ELMD3), Orizon Valorização de Resíduos (ORVR3), CSN Mineração (CMIN3), Oceanpact (OPCT3), Jalles Machado (JALL3), Bemobi (BMOB3), Cruzeiro do Sul Educacional (CSED3), Westwing (WEST3), Focus Energia (POWE3), Mobly (MBLY3), Mosaico (MOSI3), Intelbras (INTB3), MPM Corporeos (ESPA3), Vamos (VAMO3) e HBR Realty (HBRE3).


IPOs em destaque em LexLatin:

Grupo brasileiro GPS realiza IPO e capta R$ 2,4 bi

Banco Modal realiza IPO e arrecada R$ 1 bi

GetNinjas realiza IPO e capta R$ 482 milhões

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