Eleições 2020: Qual o recado que vem das urnas?

​​​​​​​Eleitores votam na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro/ Fernando Frazão/Agência Brasil
​​​​​​​Eleitores votam na Favela da Rocinha, no Rio de Janeiro/ Fernando Frazão/Agência Brasil
Com resultados do 1º turno definidos, partidos como DEM, PSDB e PSD saem fortalecidos. Esquerda volta a ganhar espaço e Bolsonaro perde força e tamanho nas prefeituras em todo país.
Fecha de publicación: 15/11/2020

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Com a apuração quase no fim em boa parte dos mais de 5.500 municípios brasileiros que tiveram eleições neste domingo (15) já dá para avaliar o recado que a população deixa através do voto popular. As urnas são soberanas e mostram, na avaliação de cientistas políticos e especialistas ouvidos por LexLatin, que as escolhas dos mais de 147 milhões de eleitores tendem aos partidos de centro, o que revela uma tendência de redução da polarização política que dominou as eleições passadas.

O Democratas (DEM) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) estão entre os que mais cresceram na votação de domingo. No placar das 25 capitais, o DEM elegeu, já no primeiro turno, três prefeitos: Salvador (BA), Curitiba (PR)  e Florianópolis (SC). O partido de Rodrigo Maia também continua na disputa no Rio de Janeiro, com reais chances de eleição de Eduardo Paes no segundo turno, nas eleições de 29 de novembro.

“O DEM se reformulou e tem figuras como ACM Neto e Rodrigo Maia que estão mais antenados com a realidade do país”, avalia o cientista político André Cesar.

Já o PSDB elegeu Alvaro Dias, em Natal, no Rio Grande do Norte, e Cinthia Ribeiro em Palmas, no Tocantins e está no segundo turno em Teresina, no Piauí e Porto Velho, em Rondônia. Mas o maior trunfo do partido é São Paulo, a maior cidade do país, onde Bruno Covas tem boas chances de ser reeleito.

“Vemos uma pulverização de forças, com DEM e PSDB ganhando grandes prefeituras”, afirma Francisco Fonseca, cientista político da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Outro que sai fortalecido é o PSD, do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab. O partido elegeu no primeiro turno o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, e o de Campo Grande, Marquinhos Trad, e ainda está no 2º turno em Goiânia, no estado de Goiás e Maceió em Alagoas.

“Kassab sai dessas eleições como um player importante e pode ser uma alternativa para as pretensões do presidente, que busca aliados nos chamados partidos do centrão”, analisa André César.

Rejeição a Bolsonaro

Mas o recado mais importante dessas eleições é a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro. Em boa parte dos locais em que ele manifestou apoio os candidatos caíram nas pesquisas ou não chegaram ao segundo turno. Foi o caso de São Paulo, por exemplo, em que o candidato Celso Russomano, do Republicanos, que chegou a liderar no início da campanha,  mas acabou em 4º lugar na disputa.

No Rio de Janeiro Marcelo Crivella, do Republicanos, chegou ao segundo turno em segundo lugar. Mas a rejeição do atual prefeito é uma das maiores do país, 62% segundo o Datafolha. Fenômeno parecido pode ser visto com maior ou menor grau em boa parte das 200 maiores cidades do país.

Neste domingo (15) o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), afirmou que depois da votação expressiva de 2018 Bolsonaro estaria “voltando ao tamanho normal”. E isso explicaria, na opinião dele, por que muitos candidatos apoiados pelo presidente tiveram dificuldades e um desempenho abaixo do esperado. “Havia em 2018 um sentimento que ele acabou representando, mas não necessariamente era a base dele. A base dele sempre foi, até o momento da facada, um candidato de 18% a 20%. A avaliação positiva era perto disso, com 23%, 24% de ótimo e bom”, disse o deputado depois de votar numa escola da zona oeste do Rio de Janeiro.

Para André César, essas eleições mostram que a onda conservadora de direita diminuiu e o principal perdedor é Bolsonaro. “Vimos a decepção do cidadão que deu o voto ao presidente em 2018. Rodrigo Maia deu a síntese do que aconteceu em 2020. Há dois anos Bolsonaro saiu vitaminado, urrando, mas agora não existe mais”, afirma.

“Bolsonaro saiu derrotado nas 200 maiores cidades do país que concentram grande parte da população. É uma resposta, uma derrota fragorosa de quem não tem partido. Onde ele apoia, o candidato perde. Isso mostra que nos grandes centros o espaço do bolsonarismo está derretendo”, explica Francisco Fonseca.

Para o cientista político e professor Rodrigo Prando, o eleitorado abandonou o discurso da nova política e preferiu os candidatos que já conhece neste momento de pandemia. “O eleitorado foi para o centro e se afastou da polarização do lulo-petismo ou do bolsonarismo”, avalia.

Alberto Rollo, professor de direito eleitoral da Universidade Presbiteriana Mackenzie, acredita que houve, nas eleições municipais, um descolamento de grandes nomes nacionais. “O eleitor pensou na administração das cidades e não nos apoios políticos nacionais. Os extremos de 2018 não estão se repetindo e os dois polos não estão se saindo bem. Mas ainda tem muita água para passar debaixo dessa ponte: pandemia, vacina e a economia serão importantes para definir as próximas eleições”, diz.

A nova esquerda

Um outro fenômeno também pode ser visto como resultado das urnas deste domingo, de acordo com os cientistas políticos: o crescimento de partidos de esquerda, que estão se descolando do Partido dos Trabalhadores, o PT. Em São Paulo, esse fenômeno pode ser visto com Guilherme Boulos, do PSOL, que cresceu na reta final e teve uma votação acima do que foi apontado pelas pesquisas de opinião a poucos dias das eleições. Já Porto Alegre teve Manuela Dávila, do PC do B, indo para o segundo turno. A vice da chapa de Fernando Haddad em 2018 enfrentará uma disputa equilibrada na capital gaúcha.  

“A centro-esquerda está começando a retomar suas bases no pós-Lava Jato e bolsonarismo, reconfigurando um espaço que já tiveram”, afirma Francisco Fonseca.

“Vemos o crescimento de uma esquerda descolada do PT. Manuela Dávila e Guilherme Boulos apontam caminhos distantes do PT”, avalia Rodrigo Prando.

“Guilherme Boulos é o grande vencedor do 1º turno no país, porque conseguiu sintetizar um discurso de esquerda para o século XXI, chamando jovens, as minorias e falando sobre as questões de gênero, por exemplo. O PT vai ter que baixar um pouco a bola e essa hegemonia terá que ser revisada. Se a esquerda quer vencer em 2022, vai ter que se unir”, analisa André Cesar.

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