O ecossistema fintech na América Latina

No ano passado, algumas iniciativas de fintech chegaram à categoria de unicórnio, como foi o caso da Clip. / Unsplash, CardMapr.
No ano passado, algumas iniciativas de fintech chegaram à categoria de unicórnio, como foi o caso da Clip. / Unsplash, CardMapr.
México e Chile se destacam entre os países pioneiros e com legislação para regular sistema.
Fecha de publicación: 08/02/2022

O surgimento de novos empreendimentos financeiros que contam com tecnologia e o papel cada vez mais frequente nas rodadas de investimentos tornaram-se constantes na região latina. Soma-se a isso o fato de que no ano passado algumas iniciativas de fintech atingiram a categoria de unicórnio, como foi o caso da Clip, plataforma de pagamento digital mexicana, e da carteira argentina Ualá.

Outra fórmula, como a da Nuvemshop, plataforma brasileira de e-commerce com presença no México e na Argentina, se destaca pelos valores obtidos em sua captação. Nesse caso, em sua rodada de investimentos da Série E levantou US$ 500 milhões.

LexLatin, por meio do Ágora, ferramenta que sistematiza as operações latino-americanas, documentou alguns movimentos de tendência no setor: em 2021 há um aumento notável nas operações de reconfiguração entre plataformas de e-commerce e fintech para expandir no mercado da região. Além disso, desde 2019, sem contar o Brasil, o país que registra a maior atividade desse tipo de empresa é o México, seguido pelo Chile. Falando apenas de 2021, as operações se concentraram no México, Chile e Argentina.

 

Atividade das fintechs por país - Ágora

 

Fora da América Latina, o maior número de operações de empresas financeiras com soluções tecnológicas é dos Estados Unidos, China, Austrália, Reino Unido, Espanha e Bélgica, segundo o Ágora.

O ecossistema fintech mantém o crescimento. Espera-se que este ano se recupere ainda mais e até se consolide em mercados como o México, que em 2018 promulgou uma lei para regular a atividade, e o Chile, onde atualmente estão sendo discutidos os novos termos transversais para essas organizações.


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México

Em relação a esse ecossistema em crescimento, segundo Pablo A. Morales, sócio e líder da área de fintech do escritório de advocacia mexicano GLZ Abogados, no caso mexicano os segmentos que mais crescem na indústria de fintech são pagamentos eletrônicos ou wallets, investimentos de dívida ou capital e o ramo imobiliário.

Atualmente, segundo a Finnovista, a maioria (21%) das mais de 500 fintechs cadastradas na Comissão Nacional de Bancos e Valores Mobiliários (CNBV) se dedica a serviços de empréstimo e 18% estão classificadas na categoria de pagamentos e remessas.

Morales detalha a cronologia do desenvolvimento desse ecossistema da seguinte forma: "Estamos em uma fase de consolidação que envolve processos de autorização para empresas que começaram em 2018 e 2019 e que finalmente estão concluindo. Uma onda maior virá, pois houve um crescimento exponencial de registros entre 2020 e 2021".

Até o momento existem apenas 14 fintechs autorizadas a operar no país, segundo o especialista. Ele calcula que até o final deste ano entre 30 e 35 terão passado o filtro dos reguladores da atividade, especificamente a CNBV, o Banco do México e o Ministério da Fazenda e Crédito Público.

Para o sócio da GLZ Abogados, não só a pandemia e o confinamento com o seu impulso de facilitar a abertura de contas à distância ou o investimento online ou o acesso a serviços financeiros sem ter de se deslocar a uma agência bancária deram o impulso ao crescimento, mas que a Lei das Fintechs também veio em boa hora.

Na sua opinião, este regulamento ajudou a dar tranquilidade aos usuários devido ao processo de autorização que estava sendo realizado, enquanto as empresas puderam entender melhor e afinar sua organização, enquanto as autoridades conheceram melhor seus modelos de negócios, operações e projeções.

Por exemplo, pelo fato de o México ter sido pioneiro na América Latina com a Lei das Fintechs, automaticamente muitas empresas consideraram instalar-se no país, como é o caso da Bnext, empresa espanhola de cartões pré-pagos com linha bancária, enquanto outras começaram a se expandir internamente e para a região como a Bitso, plataforma de criptomoedas que alcançou a categoria de unicórnio, com uma avaliação de mais de 1 bilhão de dólares.

O posicionamento do México na indústria fintech, para Morales, tem a ver com o fato de haver um ecossistema empreendedor crescente no país; também pela oportunidade que existe de abrir as portas à população ainda não bancarizada, na qual contribui o acesso à tecnologia.


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Chile 

O relatório Radar Fintech Chile 2021 indica que 23% das empresas de tecnologia financeira nesse país se dedicam a pagamentos e remessas, e 20% oferecem gestão financeira online. Segundo Francisco Barreda, sócio do escritório de advocacia local Barreda Legal Tech, isso se explica pelo boom do comércio eletrônico no contexto da pandemia, com a consolidação das compras eletrônicas e a massificação dos meios de pagamento não convencionais. Outros segmentos que se destacam no ecossistema fintech chileno são gestão de empréstimos (13%) e seguros (7%).

No caso chileno, Barreda comenta que a implantação da infraestrutura de telecomunicações, com 22 milhões de conexões móveis em setembro (2021), 12,4% a mais que no ano anterior, e 4 milhões de conexões fixas à Internet, 12,2% a mais que em setembro de 2020 , explicam o crescimento da indústria de fintech.

A isto se acrescenta que o Chile foi o primeiro país da região a licitar a tecnologia de alta velocidade 5G, enquanto a Subsecretaria de Telecomunicações (Subtel) promove o desenvolvimento de fibra ótica em nível nacional, em áreas extremas e para o desenvolvimento de última milha.

“Boa conectividade é obviamente fundamental para o desenvolvimento do ecossistema fintech”, destaca Barreda em entrevista.

Desde o ano passado, o Chile avançou na regulação do ecossistema fintech. O caminho não tem sido fácil. Em agosto passado, o Banco Estado e as fintechs Fintonic (Espanha) e Fintoc (Chile) fecharam um acordo para realizar operações de open banking. A instituição financeira chilena lançou um novo sistema de cibersegurança que bloqueou o acesso de Fintonic e outros usuários de fintech às suas contas no banco estatal e a possibilidade de efetuar pagamentos. O acordo foi considerado pela Fintonic como um primeiro passo para modernizar e abrir o setor financeiro chileno.

“A legislação da região está se abrindo para um sistema open banking, no qual terceiros com novas tecnologias podem competir com bancos tradicionais. Como resultado dessa maior abertura jurídica e cultural, novas empresas com estruturas leves e principalmente focadas em tecnologia concorrem de forma mais eficiente na implementação de produtos e serviços financeiros”, afirma.

Ele espera que o projeto de lei das fintechs chilenas seja aperfeiçoado e aprovado em breve. “Vemos com muito bons olhos certas menções que o projeto tem em relação aos criptoativos e seu potencial como instrumentos financeiros. O fato de já existirem diferentes investidores institucionais no mercado de criptoativos no mundo nos obriga a considerar a inclusão desses ativos como mais um instrumento financeiro”, sugeriu.

Segundo o sócio da Barreda Legal Tech, os grupos empresariais convencionais se abriram agressivamente para investir em venture capital, o que está gerando todo um ecossistema virtuoso para o crescimento exponencial das fintech.

Citando dados do relatório Fintech Radar Chile 2021, divulgado pelo Ministério da Fazenda chileno, ele disse que em 2021 foram contabilizadas 179 fintechs chilenas e 35 fintechs com sede no exterior e operações no Chile. Também cita a FinteChile, associação comercial que, desde 2017, agrupa essas empresas de tecnologia financeira, e hoje conta com 108 membros.


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Competição saudável

Pablo A. Morales López acredita que o ecossistema fintech é um grande mercado onde não há um player dominante, mas há espaço para crescer.

"Uma competição saudável pode gerar muita inovação e o maior beneficiado é o usuário", diz.

Ele considera que as fintechs têm um grande desafio, como ganhar a confiança que as instituições financeiras tradicionais já têm, “mas acho que estão indo bem. O fato da tecnologia e os aplicativos que utilizam serem amigáveis ​​não só no sentido de utilização, mas também na possibilidade de ter à mão todos os contratos assinados como a política de privacidade e as condições de utilização da plataforma ajuda muito”.

Ele destaca que, por sua vez, para os bancos, que têm histórico e confiança no público, há o desafio de se modernizar. De fato, alguns hoje têm ou estão tentando desenvolver um braço de fintech na corrida para entrar no ecossistema muito rapidamente e tentar replicar a tecnologia ou o tipo de aplicativos que as empresas dessa indústria oferecem.

De acordo com Francisco Barreda, no Chile o Banco Central flexibilizou os requisitos de acesso para novas operadoras de cartões de pagamento, com o que novas empresas de transferências bancárias e não bancárias começaram a competir ativamente com o Transbank, que até recentemente era a principal operadora de cartões no país.


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Ele alerta que é fundamental que dois atores-chave como o Ministério Público Nacional da Economia (FNE, sigla em espanhol) e o Tribunal de Defesa da Livre Concorrência (TDLC) tendam a uma maior especialização em análise de mercado e que isso ande de mãos dadas com um quadro de pessoal adequado.

“Vimos com preocupação o que aconteceu com a indústria de meios de pagamento, em relação a uma decisão do TDLC com efeito imediato sobre as tarifas cobradas pelo Transbank, que afetou diferentes PSPs (Provedores de Serviços para Processamento de Pagamentos) que operam com esta empresa e, consequentemente, diferentes relações comerciais e contratuais foram afetadas, ou seja, teve impacto em toda a cadeia de pagamentos”, disse.

Ele espera que a fixação definitiva das taxas de intercâmbio que o Comitê criado pela Lei Nº 21.365 (para regular as taxas de intercâmbio de cartões de pagamento) deverá estabelecer tenha uma visão altamente competitiva e esteja ciente de todos os atores envolvidos no pagamento rede, ou seja, marcas, emissores, operadoras, PSP, estabelecimentos comerciais e portadores de cartão.

O especialista também observa que as fintechs locais estão olhando com interesse para o México devido ao potencial de crescimento que existe em relação ao tamanho do mercado e que diferentes fundos norte-americanos estão investindo em fintechs da região com operações no México.

"Definitivamente, ter bons números no México é muito diferente de ter bons números no Chile", destaca.

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