O valor do olho no olho na indústria jurídica no pós-pandemia

Para muitos especialistas, ouvidos por LexLatin, o momento é de deixar o virtual e buscar o olho no olho no mundo dos negócios/Pixabay
Para muitos especialistas, ouvidos por LexLatin, o momento é de deixar o virtual e buscar o olho no olho no mundo dos negócios/Pixabay
Depois de um ano e meio de home office, trabalho presencial volta valorizado e com novo significado: tem que valer a pena.
Fecha de publicación: 19/09/2021

Todo mundo já sabe – e sentiu na pele – que a pandemia trouxe profundas mudanças na forma como nos relacionamos no mundo do trabalho. Passado um ano e meio, é tempo de retomar os trabalhos de forma presencial com o avanço da vacinação no país. E nessa hora a pergunta que fica para muita gente é o valor e o aprendizado do que foi vivido nesse período. Para muitos especialistas, ouvidos por LexLatin, o momento é de deixar o virtual e buscar o olho no olho no mundo dos negócios.

É nesse ambiente que os relacionamentos sempre aconteceram e os negócios até então eram fechados. Tudo isso com os cuidados exigidos pela pandemia e medidas de proteção e higiene. Então, afinal, qual o valor do contato, do presencial no mundo jurídico? É isso que tentamos analisar com alguns especialistas de mercado.

Para os líderes de escritórios de advocacia, há temas fundamentais a serem discutidos, como a questão do espaço e da mobilidade. Além disso, é preciso analisar que serviços serão os mais impactantes e como reinventar o escritório privado e repensar o modelo de firmas de advocacia com a interação física. Para esses profissionais, o híbrido e a modalidade remota são instrumentos de adequação, mas não vão ser nunca prioritários nem primordiais. Isso porque, para a cultura de muitas firmas, é determinante o trabalho colaborativo e físico, algo fundamental para o desenvolvimento de talentos e para gerar soluções com criatividade e em equipe.


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“Nós não voltamos, mas estamos prestes a voltar. Estamos aguardando que os mais jovens tomem a segunda dose da vacina para se sentirem totalmente confortáveis. A volta vai ser num sistema híbrido de três dias no escritório e dois em casa, o que vai permitir combinar um pouco do benefício que as pessoas sentiram do home office com os benefícios de realmente estar no escritório”, explica Paulo Rocha, managing partner do Demarest Advogados.

“Nada pode substituir um encontro presencial, especialmente se você não conhece a pessoa. Se você está falando de business development, captação de novos clientes, as pessoas vão tentar fazer um primeiro contato pessoal quando possível. É uma relação de muita confiança e pessoalidade. Você não contrata um médico online, você vai ao médico para pedir uma opinião. A relação do cliente com o advogado também tem muito da empatia e de confiança, atributos que, no geral, são passados num contato pessoal”, avalia o advogado.

 

Para os profissionais do direito, o presencial significa atenção em tempo integral, algo que é muito importante na hora de fechar um negócio ou avaliar uma questão complexa. “No presencial, você tem aquela identidade e atenção imediata, porque está todo mundo conectado presencialmente. No digital, você tem que ir além disso. Você tem que trazer algo que mantenha a pessoa com a atenção no que você quer passar. E ela recebe um bombardeiro, é WhatsApp, é Outlook, o Instagram, o LinkedIn, então você está disputando atenção. Quando a pessoa está presencialmente, em tese, ela está ali para você”, diz Patrícia Mendlowicz, sócia e advogada especialista em direito civil, contratos, marketing, inovação e relações de consumo do Martinelli Advogados.

Para muitos advogados, no começo da pandemia havia uma demanda por mais acesso a conteúdo, por isso a quantidade de eventos via internet. Mas hoje o mercado está carente de eventos presenciais. “Se você pensa no mercado jurídico e na dinâmica como os negócios se desenvolvem e o serviço é prestado, existe uma vertente de relacionamento em torno de conteúdo e conhecimento. Presencialmente é onde você melhor consegue conversar, trocar ideias, discutir”, afirma Salo Rapoport, diretor de Marketing, Desenvolvimento de Negócios e Business Intelligence do Cescon Barrieu.

Para o profissional, com a retomada as pessoas terão um comportamento mais seletivo em relação ao presencial. “Justifica promover um evento presencial ou consigo fazer um evento online? Teremos uma  maior valorização desse presencial: já que estou indo, tem que valer a pena. Como faço para extrair o máximo dessa oportunidade?”, avalia.

Os profissionais avaliam que, no longo prazo, o modelo de teletrabalho não é algo que pode funcionar tão bem.  Para pensar no escritório do futuro e o que foi o escritório, é preciso chegar a um consenso, reforçar a confiança entre as pessoas.

“O ambiente jurídico é alicerçado numa relação de confiança e ela vem muito do relacionamento pessoal e presencial. Sinto que o mercado está sentindo falta e todos os clientes estão ávidos pelo contato presencial, seja dentro do escritório com as equipes, com os clientes e com os parceiros”, afirma Andreia Gomes, especialista em marketing jurídico, fundadora da AGomes Marketing.

“Com certeza estar próximo presencialmente proporciona oportunidades de negócio. A prática jurídica é uma relação de confiança e por natureza presencial. Essa dinâmica do olho no olho, de conversar, do bater papo é onde as oportunidades são geradas. É onde um assunto liga ao outro e você consegue perceber as reações da pessoa. Os negócios da nossa tradição brasileira são muito do café, do almoço, desse olho no olho”, avalia a especialista.

A mesma visão é defendida por outros advogados. “É inegável que encontros presenciais geram mais empatia entre os participantes, além de viabilizar a comunicação não verbal, ferramenta tão importante na nossa rotina. O segredo é aprender a identificar encontros não produtivos e consequentemente desnecessários e usufruir das opções existentes para favorecimento dos negócios e sua gestão”, afirma Ariane Vanço, sócia do Nelson Wilians Advogados e diretora de compliance da firma.

“A discussão de casos complexos ainda se faz mais adequada presencial. Tivemos melhora com o trabalho de home office, que é de análise individual. A proximidade física favorece novas ideias e a inovação”, diz Luiz Antonio Varela Donelli , sócio do escritório Donelli e Abreu Sodré Advogados.


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Esse desejo de retorno presencial, ainda que de forma gradativa, é um caminho adotado por boa parte dos escritórios nesse momento. Isso, claro, se o número de novas infecções e mortes continuar a diminuir e a vacinação avançar. “Nesse período contratamos estagiários e advogados que nem conhecemos ainda pessoalmente, que não conhecem seus pares nem seu local de trabalho. As reuniões online, ao contrário do início, quando auxiliaram na produtividade, estão fazendo com que o dia fique mais curto e tem atrapalhado a concentração, pois aumentaram muito”, analisa Fabiola Meira, sócia-fundadora do Meira Breseghello Advogados.

Apesar da posição defendida por muitos advogados, os impactos da pandemia continuam sendo sentidos e, por enquanto, continuaremos enfrentando os efeitos de suas variantes por um tempo ainda indeterminado. Assim, a realidade de cada escritório fará com que eles implementem o modelo de trabalho que melhor se adapte à situação do momento.

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