A Boeing e a Embraer receberam a aprovação sem restrição de sua parceria estratégica pela Superintendência Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) no Brasil. A decisão será finalizada até 11 de fevereiro. A parceria recebeu autorização incondicional de todos os órgãos reguladores, com exceção da Comissão Europeia, que continua a avaliar a joint venture.
"Esta mais recente aprovação é outra validação de nossa parceria, que trará maior competitividade ao mercado de jatos regionais, mais valor para nossos clientes e maiores oportunidades aos nossos funcionários", disse Marc Allen, executivo da Boeing e presidente da Parceria Embraer e Operações do Grupo.
“A aprovação do acordo pelo órgão regulador brasileiro é uma demonstração clara da natureza pró-competitiva de nossa parceria”, disse Francisco Gomes Neto, CEO e presidente da Embraer. “A decisão não apenas beneficiará nossos clientes, mas também permitirá o crescimento da Embraer e da indústria aeronáutica brasileira como um todo”.
No início de janeiro, a Embraer concedeu férias coletivas aos funcionários das unidades no Brasil por 15 dias. Segundo a empresa, nesse período, foi implementada a separação interna dos negócios de aviação comercial das outras atividades, como parte do processo de integração das duas companhias.
A parceria planejada entre a Embraer e a Boeing vai criar duas joint ventures: uma joint venture composta pelas operações de aeronaves comerciais da Embraer e serviços associados (Boeing Brasil - Comercial), na qual a Boeing terá 80% de participação e a Embraer 20%; e outra joint venture para promover e desenvolver mercados para o jato militar C-390 Millennium (Boeing Embraer - Defesa), na qual a Embraer terá uma participação de 51% e a Boeing os 49% restantes.
Alguns analistas de mercado ouvidos pela equipe de Lex Latin acreditam que a parceria com a Boeing no setor de defesa pode ser fundamental para que a Embraer consiga uma expansão significativa no mercado de jatos militares. “A força da Boeing no contexto mundial vai abrir muitas portas para nós em muitos mercados. A Otan é um deles. Se entrarmos na Otan com o C-390 temos um mercado para mais de US$ 20 bilhões”, afirma Domingos Afonso de Deus, especialista no mercado de aviação executiva e responsável pela investigação dos principais acidentes aéreos brasileiros.
A empresa brasileira é líder na fabricação de jatos comerciais de até 150 assentos e a principal exportadora de bens de alto valor agregado do Brasil. A companhia mantém unidades industriais, escritórios, centros de serviço e de distribuição de peças, entre outras atividades, nas Américas, África, Ásia e Europa.
Desde que foi fundada, em 1969, a Embraer já entregou mais de 8 mil aeronaves e transporta anualmente mais de 145 milhões de passageiros. A companhia atua nos segmentos de aviação comercial, executiva, defesa, segurança e aviação agrícola, além de projetar, desenvolver, fabricar e comercializar aeronaves e sistemas, serviços e suporte a clientes no pós-venda.
Problemas na validação do negócio
A aprovação do negócio já foi concedida pelo Brasil, Estados Unidos, China, Japão, África do Sul, Montenegro, Colômbia e Quênia.
A Boeing e a Embraer mantém discussões com a Comissão Europeia, que avalia a transação desde o final de 2018. Representantes da Comissão pediram que as duas empresas repassem dados dos últimos 20 anos em vendas e forneçam 1,5 milhão de páginas de documentos e dados. Segundo analistas, isso reflete a preocupação dos europeus na validação desse acordo, que pode reduzir a competição no mercado internacional de jatos.
Outra questão importante é a crise na Boeing, que teve problemas com o 737 Max. A empresa norte-americana esteve envolvida em dois acidentes fatais em 2018 e 2019. Mensagens internas da Boeing publicadas como parte da investigação do Congresso e do Senado dos Estados Unidos a respeito dos acidentes revelam que técnicos e funcionários da empresa demonstraram desconfiança em relação à segurança da aeronave.
A especialista em compliance e processos administrativos, Marcela Pedreiro, destaca que as novidades no caso podem atrapalhar a compra do setor de aviação comercial da Embraer por parte da empresa norte-americana. “A análise da Comissão Europeia vai atrasar. Acredito que só saia entre maio e junho. Com isso, a compra deve ser efetivada só no fim do primeiro semestre”, afirma.
“A autoridade antitruste da Comunidade Europeia vai querer analisar a situação de possíveis corrupções e utilização de produtos mais baratos e não os necessários para a segurança do avião para baratear as aeronaves“, destaca a advogada. O prazo dado pela Comissão Europeia para aprovar ou não a compra é 30 de abril. Embraer e Boeing esperam a aprovação por lá para só depois efetivar o negócio.
"Estamos nos relacionando de forma produtiva com a Comissão para demonstrar a natureza pró-competitiva parceria que estamos planejando e esperamos um desfecho positivo", disse Allen. "Diante do endosso favorável que temos recebido de nossos clientes na Europa e das aprovações incondicionais de todas as agências reguladoras que analisaram nossa transação, esperamos receber a aprovação final para a transação o mais rápido possível", afirma.
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