No primeiro trimestre deste ano, o mercado global de fusões e aquisições começou a se recuperar aos níveis pré-pandemia, mas, de acordo com um relatório recente da S&P Global Intelligence, a alta inflação e o aumento das taxas para contrabalançar elevou o custo para financiar este tipo de operações e provocou uma desaceleração tanto em número quanto em volume em dólares entre janeiro e setembro, quando comparado ao mesmo período de 2021.
Alguns setores como tecnologia, mídia e telecomunicações (TMT) e serviços públicos, para citar alguns mencionados no relatório, sofreram os efeitos da conjuntura mais do que outros.
Nos primeiros três trimestres do ano e em relação ao mesmo período de 2021, a atividade de M&A (fusões e aquisições) diminuiu 35% e espera-se que, pelo menos no curto prazo, os ventos continuem a soprar contra.
Impor-se à conjuntura
Agora, como garantir o sucesso das negociações mesmo em meio a esse tipo de conjuntura?
Por ocasião do sétimo aniversário da LexLatin, conversamos com Luis A. Nicolau, sócio da Ritch, Mueller e Nicolau, que tem mais de três décadas de experiência em operações de M&A. O advogado mexicano acredita que a volatilidade que hoje marca o mercado local devido à incerteza política e às mudanças no regime regulatório se manterá por pelo menos dois ou três anos, o que será desafiador para os escritórios de advocacia e para o negócio bancário, e forçará a escolha de projetos que são vencedores e oportunistas, mantendo a atenção do lado do mercado.
Ele considera que hoje na região é um desafio medir um fluxo de saída e taxas internas de retorno (TIR) devido à volatilidade das moedas locais.
“Muitas vezes você consegue um retorno extraordinário, mas não necessariamente tem um bom retorno quando indexado em dólares ou euros”, diz o especialista.
O advogado acrescenta que algumas empresas têm, pelo seu tipo de cliente, um panorama um pouco mais controlado, recebendo receitas dolarizadas. No entanto, afirma que “em outros casos, devemos tentar encontrar instrumentos que nos permitam obter um retorno que faça sentido ao converter uma moeda. Se você mede em moeda local, não concorre com fundos internacionais”.
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Considerando as métricas para determinar o sucesso de uma operação, Nicolás Herrera Alonso, sócio da Dentons Jiménez de Aréchaga (Uruguai) e líder das equipes bancárias e de M&A da empresa uruguaia, comentou que os fundos de investimento são muito exigentes na hora de fazer uma aquisição porque seus negócios geralmente são na maximização do preço pago.
Segundo Herrera Alonso, a determinação de uma TIR permitirá fazer a diferença entre o que foi o investimento inicialmente e a saída (a venda geralmente ocorre três ou cinco anos depois), embora não haja um número preestabelecido, mas para responder ao business case proposto, quanto eles queriam ganhar e por quê, e uma taxa válida para que a negociação fosse lucrativa para seus interesses. Ele acredita que a empresa, o setor, o tipo de investimento e a economia de um país em um determinado momento têm peso nisso.
Alcançar melhores resultados
Segundo Luis A. Nicolau, uma melhor TIR também pode ser alcançada quando, no momento da aquisição, acredita-se que as partes de um negócio são melhores do que a soma de todas elas. Ele explica que outra forma de sair do investimento é com um múltiplo do EBITDA, entendendo que não é a mesma coisa quando se opera em diferentes regiões .
"Com uma compra bem sucedida, em que é possível agregar ativos com presença em outros mercados, pode-se obter um múltiplo melhor que transforma o EBITDA", comenta.
As vantagens fiscais também representam uma alternativa para medir o sucesso de um negócio. "São algumas maneiras de tentar maximizar os investimentos", acrescenta o sócio da Ritch, Mueller.
Do lado oposto dos fundos de investimento está a empresa que cresce de forma inorgânica, ou seja, se expande a partir das compras. Herrera Alonso explica: "aí há estabilidade, busca-se um equilíbrio, a empresa-alvo começa a dar um resultado que permite que o investimento seja pago ao longo do tempo".
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Gestão de negócios
De uma forma geral e independente da conjuntura atual, Nicolau acredita que nos investimentos em private equity não se pode ter um papel passivo no conselho como se tem outros tipos de investimentos. “Assim como, normalmente, se espera que o adquirido traga valor agregado, também é verdade que a única maneira de trazer valor agregado é não interromper a administração se ela for boa, mas monitorar constantemente e entender o negócio para ser capaz de fazer ajustes.", apontou.
Ele considera que deixar a gestão sozinha, principalmente se o adquirente for um fundo e não uma pessoa envolvida no negócio, torna-se complicado, pois, uma vez adquirido, é preciso reorganizar, deixar mais clara a estrutura organizacional, resolver problemas que não impeçam de vender mais tarde e ter uma boa equipe de gerenciamento, e assegura que isso só possa ser alcançado com supervisão.
Tentar montar a melhor equipe de gestão muito rapidamente é outra das chaves que ele menciona em relação à atual dificuldade de recrutar talentos locais para administrar o negócio em alguns países da região, como México e Brasil. Segundo ele, nesta última jurisdição houve uma migração significativa de talentos asiáticos, americanos e europeus devido à crise econômica.
O sócio da Dentons Jiménez de Aréchaga destacou que o ponto forte de seu país é vender institucionalidade, respeito às relações internacionais, proteger investimentos e mostrar transparência, destacando-se entre os principais do mundo.
Ele acredita que devemos estar sempre atentos à conjuntura, principalmente com a previsão de recessão global. No entanto, destacou o potencial do Uruguai para o investimento estrangeiro em matérias-primas, alavancado por uma macroeconomia alinhada aos padrões internacionais.
Aspectos cruciais na negociação
Nicolau destaca que existe uma premissa fundamental nesse tipo de investimento, que é escolher o empreendedor certo. “Estar motivado é fundamental para fazer uma aquisição”, alerta.
Para o advogado uruguaio, é importante diferenciar o papel do escritório como assessor do comprador e do vendedor. Muitas vezes o comprador é um cliente da firma que acaba por apoiá-lo em uma operação de M&A, e chega com a ideia de pesquisar um mercado, uma empresa, para firmar um acordo através de um memorando de entendimento com prazo de exclusividade e preço da empresa-alvo.
Como fato curioso, comenta que na última década houve um processo de alienação no Uruguai, de venda de empresas familiares para grupos empresariais que, embora mais complexos, geram-lhes satisfação de ver sua transformação, principalmente quando permanecem como advogados do comprador e participam de sua governança corporativa.
Também é o caso, embora menos comum, que o mesmo escritório, com equipes diferentes, aconselhe ambas as partes.
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A due diligence é outro ponto crucial nas negociações, segundo Nicolau, porque não só estabelece as declarações corretas nos contratos, mas também permite compreender o setor e questões como a fiscalização, principalmente quando se trata de setores regulados.
A estrutura de capital também deve ser considerada na negociação, principalmente quando se trata de participações minoritárias ou joint ventures, para que haja projeção em relação a determinados atos societários, comenta o advogado mexicano.
Dois outros aspectos que se somam são a autorização e a compensação. Para o sócio de Ritch Mueller, hoje no México, com exceção do setor regulado, quase a única autorização necessária é a da Comissão Federal de Concorrência Econômica (Cofece). "É fundamental encontrar temas de competência para a aquisição que possam dificultar a negociação", explica.
Ele também menciona que, em uma indenização em caso de danos e inadimplência do vendedor, é importante perceber que ocorrem muito cedo, entre um e dois anos após a aquisição, por isso recomenda negociar uma forma em que o pagamento possa ser cobrado rapidamente.
Para Herrera Alonso, embora no momento do fechamento e liquidação da transação os contratos sejam assinados, as ações sejam transferidas e o preço pago, há o caso em que o valor estipulado na negociação começa a ser cancelado posteriormente, uma vez que contemplaram pagamentos futuros, em parte porque há negócios em desenvolvimento ou porque pode haver contingências.
Ele comentou que, por parte do vendedor, não se trata apenas de negociar os contratos com os compradores, mas de dar todo o suporte necessário para que na fase de fixação de preços eles tenham a assessoria necessária para descartar contingências que possam colocar em risco a transação, bem como estabelecer responsabilidades.
Os advogados continuam a remar, enquanto os ventos continuarão soprando contra eles, pelo menos no curto prazo, de acordo com a S&P Global Intelligence.
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