Em um mercado altamente competitivo, onde a especialização se torna a norma, como é o caso do setor jurídico, “é no lado humano e emocional que podemos nos destacar”, diz Cristina Jaramillo.
Para a especialista em compliance e coaching, aprender a gerenciar emoções será a chave para construir relacionamentos duradouros com os clientes. O desafio exige o comprometimento integral do escritório ou da direção jurídica, destaca a sócia de Compliance Ecuador, escritório dedicado a soluções em integridade corporativa.
“Nossa gestão emocional será a chave para construir empatia e confiança em nosso relacionamento com os clientes. Para incluir a gestão emocional em toda a organização, é necessária uma transformação cultural. Reconhecer que nossa cultura jurídica contém racionalidade excessiva e emotividade oculta. Quando isso for alcançado, começaremos com o aprendizado emocional. Conhecer e reconhecer as emoções, as suas funções e como podem influenciar a minha equipe e a minha relação com os outros”, explica.
De acordo com Jaramillo, para garantir uma mudança cultural é importante que os gerentes seniores e médios aceitem a necessidade de mudança. Neste caso, incluindo “as emoções como parte do exercício da advocacia e como ferramenta de gestão na interação com colegas e clientes”, diz.
A especialista, quem além de professora universitária é autora da publicação 'La inteligencia que le falta al Derecho', conversou com LexLatin abordando os principais insights para entender como a gestão de emoções pode otimizar o negócio jurídico e o posicionamento da equipe liderada.
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Como usar a gestão de emoções para melhorar o desempenho do trabalho em equipe?
Cristina Jaramillo: Existem emoções que podem limitar o trabalho em equipe. Podemos nos sentir inseguros sobre outros observarem ou comentarem sobre nosso desempenho. Podemos sentir desconfiança dos outros, não porque estejam errados, mas porque temos certeza de que só nós fazemos as coisas certas. Estar ciente de que pode haver emoções que acompanham o preconceito será o primeiro passo para enfrentá-los e ousar colaborar.
O trabalho em equipe desperta muitas emoções e será importante focarmos naquelas que nos permitem construir. Como advogados somos especialistas em resolver conflitos e por isso, muitas vezes, vemos conflitos e os criamos.
A inteligência emocional é uma ótima ferramenta para entender melhor o meu papel em uma equipe, bem como a forma como posso me complementar com os outros.
Como lidar com o estresse que pode estar anulando componentes valiosos: qualidade de tempo e harmonia no ambiente de trabalho?
A primeira coisa é reconhecer que tenho estresse e que não posso me proteger culpando os outros exclusivamente. O estresse se torna uma forma de viver e trabalhar quando não aprendemos a ouvir nossas emoções e prioridades. Devemos gerenciá-los por ordem de importância e não de urgência.
Se passarmos o dia apagando incêndios, é claro que viveremos estressados. É a nossa decisão, disciplina e vontade que nos permitirá recuperar espaços para focarmos o nosso tempo nas tarefas de planeamento e organização e, sobretudo, nas questões de autocuidado.
Onde e como iniciar um diálogo sobre raiva e medo na prática profissional dentro de uma empresa?
Há muitos espaços de conversa e não sabemos aproveitá-los. Se queremos que nossa equipe tenha confiança para falar sobre suas emoções, será importante que, como líderes, tenhamos a capacidade de fazê-lo primeiro.
Muitas vezes pensamos que mostrar-nos vulneráveis fará com que percam o respeito por nós ou nos vejam como fracos. No entanto, existem estudos que mostram o contrário. Um líder que consegue falar sobre suas emoções, como raiva e medo, abre um espaço de confiança para que sua equipe possa entendê-lo e valorizá-lo mais. Além disso, no futuro, você pode ter as mesmas conversas e evitar emoções crescentes, sem explicação, sem desculpas e muitos comentários estranhos ocultos.
Para poder falar de emoções, é muito importante conhecê-las e reconhecê-las e entender que nosso valor, como profissionais, vai muito além de uma explosão emocional, desde que saibamos aprender com ela.
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Para o cliente, que retorno uma escuta ativa e empática pode gerar no negócio? É possível começar a mediar a gestão das emoções dentro da rentabilidade do negócio?
O que os clientes preferem? Um advogado que os interrompe e que se acha melhor que eles ou um advogado que os ouve em silêncio, sem distrações ou interrupções, que os valoriza e os trata como iguais?
A escuta ativa pode ser um verdadeiro diferencial empresarial, pois os clientes valorizam a conexão com pessoas que valorizam o relacionamento.
A gestão das emoções impacta na rentabilidade do negócio. Analisamos os dados de atração, fidelidade e recomendação de clientes. Os clientes, como todos os seres humanos, tomam decisões com base em suas próprias emoções e, em um mercado tão competitivo, se eu tiver dois advogados com os mesmos títulos e prêmios, é mais provável que eu escolha aquele que me dê maior segurança e confiança. Esses dois últimos são elementos-chave da empatia, que, por sua vez, é um dos pilares da inteligência emocional.
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